O chefão de quadrilha apelidado de “Don Corleone” está na cadeia. O bando dele se comunicava por um sistema de troca de mensagens difícil de ser rastreado - mas uma hora a casa caiu.
Um navio de bandeira panamenha foi alvo de uma investigação de tráfico internacional de drogas. A embarcação, ainda guardada em um terreno de uma marina, no Guarujá, litoral de São Paulo, está sendo devolvida para a empresa proprietária depois de quase um ano e meio.
A polícia suspeitava que o dono do navio era João Carlos Camisa Nova Júnior, conhecido como "Don Corleone" por conta de sua admiração pelo personagem principal do filme “O Poderoso Chefão”, um mafioso. Mas a investigação descobriu que ele estava apenas negociando o fretamento.
Condenado a 32 anos de prisão por tráfico, "Don Corleone" estava envolvido na apreensão de 2,7 toneladas de cocaína em uma outra embarcação no fim de 2020. Foram duas apreensões no mesmo navio - uma aconteceu no porto de São Sebastião, litoral paulista. A embarcação acabou liberada e, quase um mês depois, policiais espanhóis acharam a outra parte da droga.
Nossa equipe teve acesso aos detalhes da investigação que está sob sigilo. Foi a primeira vez que a polícia descobriu no Brasil que traficantes estavam usando a mesma plataforma de comunicação criptografada utilizada por grupos criminosos internacionais.
O Sky ECC, tirado do ar por autoridades estrangeiras em abril de 2021, era um sistema instalado em celulares que desabilitava as funções do microfone e de GPS. Todas as mensagens eram automaticamente destruídas em 30 segundos. Mas "Don Corleone" deixou rastros. Havia prints de conversas no celular dele, além de arquivos armazenados na internet.
Em uma das conversas, os traficantes citam a reportagem do Jornal da Band de outubro de 2020, especificamente o trecho em que é dito que normalmente os exportadores não têm conhecimento das drogas escondidas no meio das cargas. “Don Corleone” era dono de uma empresa de exportação de produtos agrícolas.
O alívio dos traficantes, por acharem que não seriam pegos, foi mais um indício da polícia da participação deles no esquema criminoso.