Há mais de dois séculos, um grupo de inconformados e sonhadores de Minas Gerais decidiu peitar a Coroa, lutar pela liberdade e se levantar contra a opressão e cobrança de impostos do governo português. A série "Band nos 200 anos da Independência" resgata detalhes da Conjuração Mineira nesta terça-feira (23).
A revolta não aconteceu de fato e terminou com a morte de Tiradentes, mas se tornou uma das mais importantes de nossa história. A maioria dos envolvidos era poeta, advogado ou minerador. E todos eram estudiosos.
O português Joaquim Silvério dos Reis estava no grupo, mas foi o "dedo duro". Ele revelou ao governo que os amigos estavam conspirando contra a Corte e tinham marcado um dia para se rebelarem.
Silvério delatou em troca do perdão de dívidas decorrentes de impostos. A carta que entregava o passo a passo da conjuração foi redigida onde hoje é uma escola, mas era o Palácio dos Governadores, em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto.
Antes da delação de Silvério, o movimento da "Conjuração Mineira" se organizou e criou uma bandeira que diz "liberdade ainda que tardia". No passado aquele triângulo era verde.
Os conspiradores da linha de frente foram condenados à morte. Mas depois a Rainha Dona Maria I voltou atrás. Eles foram expulsos do Brasil. Uma parte foi pra África e nunca mais voltou. A pena capital sobrou mesmo para o alferes Tiradentes, que foi enforcado, decapitado e esquartejado no Rio de Janeiro.
Partes do corpo dele foram espalhadas na Estrada Real. E uma árvore em Conselheiro Lafaiete tem um significado marcante pra essa história.
"Era um ponto onde os tropeiros e viajantes desse caminho entre Vila Rica e o Rio de Janeiro paravam pra descansar, pernoitar. E o próprio alferes aqui fez um dos seus pontos pra disseminar a ideia de uma liberdade, disseminar o propósito da conjura mineira. O local foi usado pra isso, pra propagar essa questão de que um novo tempo estava pra surgir", explica o professor André Sanches Candreva, professor
Nesta árvore uma perna do Tiradentes acabou pendurada. A Corte queria amedrontar os súditos. A cabeça dele foi exposta na Praça Central da então Vila Rica. Mas atualmente ninguém sabe onde essa cabeça foi parar. O que restou foi o legado de Tiradentes.
"Ele não frequentou universidade, uma faculdade. não tinha curso superior, mas ele era inquieto do ponto de vista intelectual. Ele era capaz de dialogar com um escravo, com um militar como ele, com um grande proprietário de terras, com um clérigo, com o governador de Minas Gerais. Isso tudo facilita quando você quer levar uma ideia de mudança para a população em geral", explica Luiz Carlos Villalta, historiador.
Tiradentes ficou marcado por carregar sempre um livrinho - pequeno no tamanho, mas enorme quando se falava em poder.
"Um livro com as constituições dos estados americanos, com a declaração de direitos. Declarar direitos é uma coisa extraordinária porque, uma vez declarado o direito, ele pode até não se cumprir, mas ele não desaparece. O livro é muito rico, porque traz esses elementos e acende a imaginação de quem está pensando na liberdade", comenta a historiadora Heloisa Starling.
Luiz Carlos Villalta lembra que Tiradentes tinha escravos, mas destaca que na época as ideias abolicionistas eram pouco discutidas.
"Tiradentes tinha escravos. Não era abolicionista. Nem a inconfidência tinha uma proposta de abolição. Mas é preciso que a gente tome cuidado. Nós estamos em uma época em que a ideia de abolição ainda não tinha muitos adeptos", explica Luiz.
O Jornal da Band exibiu nesta segunda-feira (22) uma reportagem do projeto especial "Band nos 200 anos da Independência" que explicou a origem da Conjuração Mineira. Até setembro do ano que vem, você vai acompanhar detalhes surpreendentes de momentos essenciais da história da independência brasileira.