Essa história é cheia de personagens intrigantes. De reis, príncipes, princesas e marquesas. De mulheres fortes. De poesia, de amor, conflitos, batalhas, incertezas. Perdas e conquistas.
“Por que a história nos intriga? Porque ela nos constitui, ela é nosso passado e é nosso sonho de futuro também”, explica a historiadora Lilia Schwarcz. É isso que a gente vai contar a partir de agora. Os detalhes de um dos momentos mais importantes da nossa história. A independência do Brasil.
A independência não se resume apenas em um ato. Vários movimentos já clamavam por mudanças. Tivemos a Conjuração do Rio de Janeiro (1784), a Conjuração Baiana (1798), em Pernambuco teve a Revolução de 1817 e a Conjuração Mineira em 1789.
“A independência não foi nada pacifica. A independência no Brasil muito sangue vai ser derramado”, conta Heloisa Starling.
Dom João VI, príncipe regente de Portugal desembarca por aqui. Fugiu da invasão das tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte. Com ele vieram a mãe, Dona Maria, a mulher Carlota Joaquina e os filhos pequenos, Pedro tinha 9 anos de idade. Ministros, empregados. Fala-se em 15 mil pessoas.
Pouco mais de dez anos depois a população portuguesa exigiu a volta da família real para Portugal. Contra a vontade, Dom João embarcou, mas deixou por aqui um governo provisório comandado pelo filho, Dom Pedro.
“Com a volta de Dom João, por causa da Rebelião Liberal do Porto, começa a pressão dos portugueses para que Dom Pedro voltasse também. O nome da rebelião, eu sempre brinco que era liberal para Portugal para o Brasil não era nada liberal. Qual era a intenção dos líderes portugueses? Era fazer com que não restasse nada da realidade do reino unido de Brasil e Algarve, por isso eles precisavam que o filho voltasse também. A desculpa é que ele tinha que completar os estudos e coisas assim”, conta a historiadora Lilia Schwarcz.
Pedro bateu o pé e não acatou as ordens da corte. Com certeza você estudou esse momento na escola: O dia do fico. "Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, digam ao povo que fico", teria dito.
Dom Pedro foi aclamado. Pesou muito nessa decisão as oito mil assinaturas de diferentes setores da elite. Todos pedindo para ele não deixar o Brasil. Para muitos, o momento mais importante do processo da independência.
Sete meses depois, Dom Pedro começava o trajeto que traçaria seu destino político. Ele saiu da Quinta da Boa Vista, residência da família imperial, no Rio de Janeiro acompanhado de sua guarda rumo a São Paulo.
Cinco dias de mula e a cavalo. Até a comitiva chegar no momento que muda a nossa história: a independência de um país chamado Brasil.
A decisão para o grito do Ipiranga, no entanto, só surgiu quando D. Pedro foi informado que a Corte Portuguesa tinha anulado todos os atos de seu governo e removido o que ele ainda tinha de poder. Restou se libertar.
“Não é bem assim. Veja, Dom João levou muito dinheiro quando foi embora do Brasil e em 1825 para que Portugal reconhecesse a nossa independência nós tivemos que pagar para Portugal mais ou menos dois milhões de libras esterlinas e como nós não tínhamos esse dinheiro fizemos um empréstimo com a Inglaterra. Pagamos para ser independentes”, conta Heloisa Starling.
“No meio de um continente norte americano, cuja vocação era república, a independência do Brasil colocou na chefia do estado um imperador. Foi uma independência que causou muito estranhamento”, afirma Lilia Schwarcz.