200 anos da Independência: confira curiosidades da história do Brasil

Por Giba Smaniotto

A história do bicentenário da Independência do Brasil é cheia de personagens intrigantes. De reis, príncipes, princesas e marquesas. De mulheres fortes. De poesia, de amor, conflitos, batalhas, incertezas. Perdas e conquistas. 

Por que a história nos intriga? Porque ela nos constitui, ela é nosso passado e é nosso sonho de futuro também. Nossa independência foi feita de muitos momentos marcantes.

A igreja de Nossa Senhora da Boa Morte é uma construção em estilo barroco colonial, no centro de São Paulo. Diz a história que os sinos do local tocaram quando Dom Pedro e a comitiva dele chegaram na cidade. 

Para chegar até o topo da torre, é possível somente por essas escadas estreitas. De cima, naquela época, dava para ver quem estava chegando na cidade vindo do Rio de Janeiro e de Santos (SP). A igreja ficou conhecida como a igreja das "boas notícias".

Já para informar a corte portuguesa, do outro lado do oceano, de que o Brasil não era mais colônia de Portugal, demorou mais de três meses. Para Portugal reconhecer a independência do Brasil mais três anos.

A independência não se resume apenas em um ato. Vários movimentos já clamavam por mudanças. Tivemos a Conjuração do Rio de Janeiro (1784), a Conjuração Baiana (1798), em Pernambuco teve a Revolução de 1817, e a Conjuração Mineira, em Minas Gerais (1789).

“A independência no Brasil teve muito sangue derramado. Ela não foi nada pacifica”, afirma a historiadora Heloisa Starling sobre os conflitos que aconteceram durante o período. 

Em 1808, Dom João VI, príncipe regente de Portugal desembarcou no Brasil. Ele fugiu da invasão das tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte. Com ele vieram a mãe, Dona Maria, a mulher Carlota Joaquina e os filhos pequenos. Dom Pedro I tinha nove anos. Sem contar vários ministros e empregados. Estima-se algo em torno de 15 mil pessoas.

26 de abril de 1821: Pouco mais de dez anos depois a população portuguesa exigiu a volta da família real para Portugal. Contra a vontade, Dom João embarcou, mas deixou por aqui um governo provisório comandado pelo filho, Dom Pedro I.

“Com a volta de Dom João, por causa da Rebelião Liberal do Porto, começa a pressão dos portugueses para que Dom Pedro voltasse também. O nome da rebelião, eu sempre brinco que era liberal para Portugal para o Brasil não era nada liberal. Qual era a intenção dos líderes portugueses? Era fazer com que não restasse nada da realidade do reino unido de Brasil e Algarve, por isso eles precisavam que o filho voltasse também. A desculpa é que ele tinha que completar os estudos e coisas assim”, conta a historiadora Lilia Schwarcz.

Só que Dom Pedro I bateu o pé e não acatou as ordens da corte. O momento ficou conhecido como o Dia do Fico. Foi no Rio de Janeiro na janela do Paço Real que Dom Pedro I foi aclamado. Pesou muito nessa decisão as oito mil assinaturas de diferentes setores da elite. Todos pedindo para ele não deixar o Brasil. Para muitos, o momento mais importante do processo da independência. 

Sete meses depois, Dom Pedro I começava o trajeto que traçaria seu destino político. Ele saiu da Quinta da Boa Vista, residência da família imperial, acompanhado de sua guarda rumo a São Paulo.  A comitiva foi parando por várias cidades.

No Vale do Paraíba, região das grandes fazendas de café foi uma das paradas. Em Pindamonhangaba foi onde Dom Pedro I agregou o maior número de seguidores. Em uma igreja do município estão sepultados 10 homens que seguiram Dom Pedro.

“Se você não resgata, se você não preserva sua história você não tem uma identidade”, disse Ana Maria Corrêa Guimarães Iadeluca, presidente do CMPHCAAP (Conselho do Patrimônio Histórico de Pindamonhagaba. 

Durante o trajeto algumas curiosidades mostram a personalidade divertida de D. Pedro I. “Ele vai passar, por exemplo, pela Fazenda Pau d'Alho, a fazenda estava então se preparando para receber o príncipe regente do Brasil, o Dom Pedro e aparece um cara todo coberto de poeira pedindo um prato de comida! A dona da Fazenda fala: 'não, o senhor come aqui na cozinha, a gente dá um prato de comida para o senhor porque a gente tá esperando o príncipe' e ele fica quieto, come a comida, agradece e tal, pega a montaria dele e vai embora. Aí algum tempo depois, umas horas depois, chega a comitiva sem ele e aí ela descobre que aquele cara que ela tinha dado um prato de comida era o Dom Pedro”, conta o historiador e escritor Paulo Rezzutti. 

Foram cinco dias de mula e a cavalo até a comitiva chegar no momento que muda a história: a independência do Brasil. A decisão para o grito do Ipiranga, no entanto, só surgiu quando D. Pedro I foi informado que a Corte Portuguesa tinha anulado todos os atos de seu governo e removido o que ele ainda tinha de poder. Restou se libertar. 

“Dom João levou muito dinheiro quando foi embora do Brasil e em 1825 para que Portugal reconhecesse a nossa independência nós tivemos que pagar para Portugal mais ou menos dois milhões de libras esterlinas e como nós não tínhamos esse dinheiro fizemos um empréstimo com a Inglaterra. Pagamos para ser independentes”, explica a historiadora Heloisa Starling.

“No meio de um continente norte americano, cuja vocação era república, a independência do Brasil colocou na chefia do estado um imperador então foi uma independência que causou muito estranhamento”, conta a historiadora Lilia Schwarcz.

“As pessoas mais esclarecidas, a maioria queria, a classe dominante queria, os letrados, eles queriam uma independência, tentando colocar o país nas linhas, nos trilhos do trem do progresso que vem desde o século XVIII da Inglaterra com a revolução industrial. Você tem aí a figura do santista José Bonifácio de Andrada e Silva, uma figura exemplar, que vai ser importantíssima para o processo de independência do país”, conta o historiador Wesley Espinosa.

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