Itamaraty e Bolsonaro podem divergir na Cúpula das Américas, diz ex-embaixador

Compromissos e prioridades assumidas pelo Brasil podem ser diferentes dos temas abordados pelo presidente

Da Redação, com BandNews FM

Bolsonaro e Biden em encontro formal na Cúpula das Américas  REUTERS/Kevin Lamarque
Bolsonaro e Biden em encontro formal na Cúpula das Américas
REUTERS/Kevin Lamarque

A participação brasileira na Cúpula das Américas e o encontro entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Joe Biden (D) devem ter impacto nulo nas relações entre os países. 

O ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Barbosa avalia que os eventuais compromissos e prioridades serão definidos pelos documentos resultantes de acordos bilaterais que desconsideram as declarações de Bolsonaro. 

Em entrevista à BandNews FM, o ex-embaixador aponta que não houve discussão de ideias e que Bolsonaro apenas reiterou o posicionamento e a agenda interna do governo durante o evento. “Teve uma parte internacional e uma parte para o público aqui no Brasil. Nada de novo, reiterou as coisas do Brasil em meio ambiente, na Amazônia, na questão das eleições, ele deu a versão dele", disse. 

“Essa foi a participação do presidente. O Itamaraty participou dos documentos. Vamos ver como vai sair, quais são os compromissos, quais são as prioridades que foram aprovadas na reunião”, ressalta o ex-embaixador. 

Biden evitou entrar em confrontações com o brasileiro. “Ele queria que o Brasil participasse, que não esvaziasse ainda mais a cúpula e o presidente Bolsonaro querendo uma foto ao lado do presidente Biden para fins de consumo interno”, diz Barbosa. 

Dom e Bruno

Durante participação na Cúpula das Américas, Bolsonaro respondeu às pressões internacionais por um reforço nas buscas pelo jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, desaparecidos desde domingo (5) na Amazônia. 

“Ele [Bolsonaro] viu protestos em Los Angeles e se sentiu na obrigação de mencionar alguma coisa, mas não mencionou nada conclusivo. Disse que o Brasil estava atento e seguindo o assunto desde o começo”, destaca. 

Para o ex-embaixador, no entanto, as respostas não atenderam as cobranças da comunidade internacional. “A ministra das Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, fez uma reunião com o ministro da Justiça brasileiro [Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira] pedindo que, se fosse necessário, ela poderia até ajudar o Brasil”, lembra.  

Rubens Barbosa ainda afirma que a Casa Branca comprovou que a América Latina não é uma prioridade. Ele aponta que foram poucas propostas apresentadas para a região pelo governo de Joe Biden. 

“Essa reunião que foi a nona, teve uma circunstância muito diferente da primeira, que foi feita nos Estados Unidos, em 1994, Naquela época, os EUA tinham uma política em relação à região, propuseram uma área de livre comércio [Alca] e isso foi negociado, que depois, por algumas razões, não foi possível completar. Agora, foram muito poucas as propostas que o governo americano apresentou. Está focado mais na guerra na Ucrânia, com a Rússia, e na rivalidade com a China. A América Latina é baixa prioridade para os Estados Unidos", reitera.

Essa edição do evento aconteceu sem a presença de representantes de países importantes, caso do México.

Rubens Barbosa destaca que o próprio governo brasileiro não levou a Cúpula das Américas a sério, com Bolsonaro sendo um dos últimos líderes a chegar e um dos primeiros a ir embora.

“A importância que o governo brasileiro foi muito baixa. Como eu disse, a prioridade de Bolsonaro era encontrar com Biden”, disse. 

Combate à China 

O presidente Joe Biden revelou na quarta-feira, na abertura da Cúpula das Américas, uma proposta de parceria econômica entre os EUA e a América Latina destinada a combater a crescente influência da China na região. 

Seu discurso marcou a abertura do encontro regional cercado por discórdias causadas por exclusões na lista de convidados.

“Juntos, temos que investir para garantir que o nosso comércio seja sustentável e responsável na criação de cadeias de suprimentos mais resilientes, mais seguras e mais sustentáveis. Ao trabalharmos com amigos próximos, que compartilham nossos valores, podemos garantir que não estaremos vulneráveis a choques inesperados, enquanto geramos oportunidades econômicas para o povo da nossa região”, disse. 

Imigração

Apesar do discurso de união, tensões diplomáticas pairam sobre a cúpula. Presidentes, como o mexicano Lopéz Obrador, boicotaram o evento após os EUA excluírem Venezuela, Cuba e Nicarágua do encontro.

Washington alegou que os países não foram convidados porque promovem violações de direitos humanos e valores democráticos. 

Biden citou também um acordo sobre migração a ser anunciado na cúpula. Mas a ausência de Obrador e dos presidentes de Honduras e Guatemala, dois dos países que mais enviam migrantes para os EUA, põe em xeque a força e o significado desse anúncio.

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