Em meio aos protestos para a libertação de reféns em Gaza, e de contraprotestos para “cobrar preços (militares) mais altos do Hamas”, os EUA estão apressando o rascunho de um acordo do tipo “pegar ou largar” para acabar com a guerra de 11 meses.
A descoberta de seis reféns executados no sábado gerou uma renovada urgência para um acordo que salve o restante de cerca de 100 reféns, entre eles sete americanos e, provavelmente, mais de 30 mortos. Se Israel e o Hamas não aceitarem a nova proposta, as negociações lideradas pelos EUA poderão se abandonadas.
As manifestações gigantescas no fim de semana, os seis reféns executados e a greve geral que fechou Israel nesta segunda-feira até ser interrompida no meio do dia pela Suprema Corte de Justiça, teriam convencido o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a ceder nos obstáculos para um acordo? Ou, ao contrário, ele não vai se render ao Hamas e, como lhe pedem seus ministros de extrema-direita, deve “avançar em Gaza e limpar tudo que encontrar pelo caminho”.
O próprio Netanyahu respondeu, numa reunião do governo na manhã desta segunda-feira. Ele qualificou a greve geral nacional de “vergonhosa”, acrescentando: “Isto manda um recado a Sinwar: você matou seis; aqui estamos nós o apoiando”. Para ele, a permanência de tropas israelenses no Corredor Filadélfia, o principal impasse nas negociações, “é essencial para a segurança de Israel”.
Mas a resposta que Netanyahu está gestando vai significar um endurecimento para Gaza: “Definitivamente, faremos o Hamas pagar pelo assassinato dos reféns”. Ele explicou como: o foco principal da batalha contra o Hamas tem sido militar. “Agora, o foco será privar o Hamas de sua capacidade de governação. Haverá mudanças na distribuição de alimentos e ajuda humanitária”.
O ex-enviado especial americano ao Oriente Médio, Dennis Ross, opina que (o líder do Hamas) “Yahiya Sinwar vai esperar para ver se a greve geral em Israel abrandou as condições do primeiro-ministro Netanyahu.” Segundo ele, “a greve, o protesto massivo, é em apoio às famílias dos reféns e à opinião de que a estratégia nas negociações e o aumento de pressão sobre o Hamas, falhou”. O Hamas divulgou um comunicado em que diz que, “se o presidente Biden está preocupado com as vidas dos reféns, deve parar de apoiar este inimigo com dinheiro e armas e pressionar a ocupação para acabar imediatamente com sua agressão”. Mais tarde divulgou clipes dos seis reféns assassinados, não exibidos em Israel, por decisão de emissoras de rádio, TV e jornais.
O jornal Washington Post revelou que “Biden e a vice-presidente Kamala Harris decidiram não pressionar publicamente Netanyahu para um acordo, optando por condenar o Hamas, sem reservas, por tirar a vida dos reféns”. Já o ex-presidente Donald Trump aproveitou a situação para criticar “a camarada Harris” por ser “fraca e ineficaz, sem ideia do que está fazendo”, e Biden “por ter falhado, e agora passa o dia na praia”.
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, está propondo uma reunião imediata do gabinete de segurança “para reverter a decisão de manter a presença israelense no Corredor Filadélfia”, o principal impasse nas negociações para um acordo de cessar-fogo e libertação dos reféns. “É tarde demais para os reféns que foram assassinados a sangue frio”, mas os reféns vivos devem ser devolvidos. O ex-membro do gabinete de guerra, Benny Gantz, disse que “o primeiro-ministro deve proteger os reféns e os cidadãos de Israel, e não sua coligação controlada por extremistas... Chegou a hora de substituir o governo que fracassou completamente.”