Israel: um Dia do Perdão, 371 de guerra

Israel celebra o Yom Kippur, o Dia do Perdão, o mais sagrado para os judeus, que terminará no pôr-do-sol de sábado

Por Moises Rabinovici

Judeus celebram Yom Kippur, o Dia do Perdão, em Israel
REUTERS/Gonzalo Fuentes

Os voos comerciais cessaram às 14 horas desta sexta-feira (11). O espaço aéreo israelense foi fechado. Rádios e tevês pararam de transmitir, exceto uma, que se mantém silenciosa, mas, em caso de emergência, dará o alarme e recomendações. O comércio cerrou as portas. Não há carros nem ônibus circulando nas ruas de todo o país. É o Yom Kippur, o Dia do Perdão, o mais sagrado para os judeus, que terminará no pôr-do-sol de sábado. Mas a guerra continua nas frentes de Gaza e do Líbano, pelo 371º dia.

Os judeus jejuam e não bebem água durante 25 horas. O rabino-chefe David Yosef proibiu os soldados em combate ativo a jejuar. Pela lei judaica, o salvamento de vidas humanas tem precedência sobre os rituais. Israel entrou em máximo alerta. Em 1973, no dia do Yom Kippur, o Egito e Síria aproveitaram o recolhimento israelense para um ataque surpresa que durou de 6 a 26 de outubro, e provocou uma crise global de petróleo. A situação lembra o feriado religioso usado pelo Hamas para atacar Israel, em 7/10/2023.

Num evento tradicional na casa presidencial, na manhã de sexta-feira, o presidente Isaac Herzog recitou uma oração que disse refletir “a minha dor, a nossa dor pela situação em que nos encontramos como país e sociedade, pelos terríveis acontecimentos do aqno passado e do dia 7 de outubro, especificamente”. Ele acrescentou: “Que o ano e as suas maldições desapareçam, e que tenhamos um ano de boas notícias, de salvação e de conforto. Que possais ser assinados e selados no livro da vida”.

O governo israelense, reunido para aprovar os planos para retaliar o Irã por seus 181 mísseis balísticos de 1º de outubro, “não tomou grandes decisões”, como foi informado à imprensa. Nem precisava, porque o primeiro-ministro Netanyahu os apresentou ao presidente Biden, durante a semana, e obteve a sua bênção. O que falta é a autorização para o ministro da Defesa passar a ordem para as forças armadas, o que pode ser feito por telefone. Os Estados Unidos, a França, o Catar, Arábia Saudita e o Egito estão costurando um plano de devolver ao Líbano a sua soberania em todo o país, aproveitando o enfraquecimento do Hezbollah, e uma conferência deverá ser marcada até o final do mês.

Um quarto bombardeio de Israel ao centro de Beirute, e não ao subúrbio ao sul reduto do Hezbollah, teria matado 22 pessoas – o mais mortal em mais de um ano. O porta-voz militar israelense não comentou qual seria o alvo, mas os dois últimos ataques perseguiram o responsável pelo contrabando de armas do Irã para o Líbano, que teria sobrevivido, gravemente ferido. O primeiro-ministro interino libanês, Najib Mikati, sugeriu a retirada do Hezbollah do sul libanês, com base numa resolução aprovada pela ONU em 2006, mas nunca cumprida. Não teve resposta. Ao contrário: um porta-voz do grupo, Mohammad Afif, declarou à imprensa que “a batalha com o inimigo sionista ainda está em seus estágios iniciais”.

O QG dos soldados da paz da ONU, a Unifil, em Naqoura, no sul do Líbano, foi bombardeado outra vez em dois dias, nesta sexta-feira, e um entre os feridos teve que ser hospitalizado. A França, Espanha e Itália condenaram Israel pelo ataque: “Expressamos nossa indignação depois que vários soldados das forças de paz foram feridos em Naqoura. Esses ataques constituem uma grave violação das obrigações de Israel de acordo com a Resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (UNSCR) e com o direito internacional humanitário”, protestaram em uma declaração conjunta. “Lembramos que todas as forças de paz devem ser protegidas e reiteramos nosso elogio ao compromisso contínuo e indispensável das tropas/pessoal da UNIFIL nesse contexto tão desafiador”. Os três países pediram “um cessar-fogo imediato”.

Ao norte de Gaza, Israel espalhou panfletos orientando cerca de 400 mil palestinos a se deslocarem para o sul, prevendo novas operações militares. Segundo a ONU, poucos saíram. A ajuda humanitária, na região, começou a escassear de novo, e a ameaça de fome levantou críticas e protestos internacionais a Israel.

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