Uma proposta israelense de cessar-fogo para o Líbano foi entregue aos Estados Unidos, na semana passada, e deve ser apresentada, nesta segunda-feira, ao primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, pelo enviado especial da Casa Branca a Beirute, Amos Hochstein.
Quem a viu duvida que seja aprovada pelo Líbano. Israel quer que suas tropas tenham uma “aplicação ativa” caso o Hezbollah tente se rearmar ao lado da fronteira israelense, e mais: que a sua força aérea seja livre para operar no céu libanês. Ou seja: voltar à guerra atual, se necessário.
O que Israel está propondo é o que os capacetes azuis das forças de paz da ONU, a UNIFIL, deveriam fazer: impor a Resolução 1701, do Conselho de Segurança, que exige que o exército nacional do Líbano seja a única força armada no sul do país. O Hezbollah tomou conta do sul do Líbano mesmo durante o mandato da UNIFIL, levantando torres de observação ao lado do seu quartel-general, sem que fosse incomodado, e escavassem túneis que chegaram à fronteira com Israel, embutindo plataformas de lançamento de mísseis.
Se aceita, a proposta israelense permitiria o retorno de 80 mil deslocados libaneses às suas casas ao sul do Líbano, e que outros 60 mil israelenses retornassem às suas casas ao norte de Israel, depois de um ano vivendo ao sul de Israel. Os bombardeios cessariam em ambos os lados e também ao sul de Beirute, o bastião do Hezbollah.
Neste fim de semana, Israel mirou as filiais de um banco nebuloso, não licenciado, conhecido por Associação Al-Qard Al-Hassan, onde o Irã deposita dinheiro para financiar o Hezbollah. “Vamos atacar muitos locais (do banco) nas próximas horas, e mais locais durante a noite. Nos próximos dias, revelaremos como o Irã financia a atividade terrorista do Hezbollah usando instituições e associações civis como cobertura”, disse o porta-voz militar de Israel, almirante Daniel Hagari, no domingo à tarde.
A França também quer reerguer o Líbano, agora que o Hezbollah está enfraquecido, tendo toda a sua cúpula sido decapitada por Israel.
As últimas eleições parlamentares no Líbano foram realizadas em 2022. Foi quando o presidente Michal Aoun, pró-Hezbollah, encerrou seu mandato. O governo de transição do primeiro-ministro Najib Mikati praticamente se perpetuou. O líder assassinado Hassan Nasrallah estava em campanha para eleger um presidente que o apoiasse e não ousasse desarmar o seu grupo. Já houve 14 votações no Parlamento para eleger um presidente, que requer 2/3 dos deputados, e todas fracassaram. O sistema eleitoral é sectário: o presidente do Parlamento deve ser xiita, o presidente do país deve ser cristão maronita e o primeiro-ministro, sunita. Metade do parlamento é reservada aos cristãos e a outra, aos muçulmanos, incluindo os drusos. O líder druso, Walid Jumblatt, quer separar a conexão Líbano-Gaza, que foi criada, militarmente, pelo Hezbollah, em solidariedade a Yahya Sinuar, do Hamas, para que as negociações políticas corram independentes. Um enviado de Israel ao Egito voltou sem solução para as negociações para cessar-fogo e libertação dos reféns, emperradas há dois meses.
Enquanto Israel e Líbano não engrenam uma saída para o cessar-fogo, o Hezbollah dispara mísseis e drones em todo o norte israelense, e os aviões de Israel bombardeiam o sul e o norte libanês. Um dos drones acertou o quintal de um vizinho do primeiro-ministro Netanyahu, em Ceasarea, ao norte de Tel-Aviv, no final de semana, aumentando as ameaças de retaliação ao Irã, que podem ser executadas a qualquer momento, agora que o novo sistema de defesa aérea dos EUA, o THAAD, já está pronto a funcionar.