Israel proíbe entrada de secretário-geral da ONU no país

Ministro israelense do Exterior declara António Guterres "persona non grata" por não ter condenado ataque iraniano "de forma inequívoca". Guterres emitiu declaração com alerta sobre escalada do conflito no Oriente Médio.

Por Deutsche Welle

O ministro do Exterior de Israel, Israel Katz, anunciou nesta quarta-feira (02/10) que decidiu declarar o secretário-geral da ONU, António Guterres, persona non grata e proibir sua entrada no país, por considerar que ele não condenou "de forma inequívoca" o ataque iraniano de terça-feira.

"Qualquer pessoa que não possa condenar de forma inequívoca o ataque atroz do Irã contra Israel não merece pôr os pés em solo israelense", afirmou Katz.

O Irã disparou mais de 180 mísseis balísticos contra Israel na terça-feira. Muitos foram interceptados em pleno ar mas alguns penetraram nas defesas antimísseis. Não houve registro de vítimas. O ataque ocorreu horas depois de Israel ter anunciado o início de sua ofensiva terrestre no Líbano. As operações terrestres no país vizinho começaram duas semanas após uma série de bombardeios contra a estrutura do grupo xiita libanês Hezbollah – incluindo um ataque aéreo que matou seu líder, Hassan Nasrallah – e marcam uma escalada significativa na ofensiva israelense contra a milícia.

Na noite de terça-feira, minutos após o ataque iraniano de mísseis, Guterres emitiu uma breve declaração fazendo referência apenas aos "últimos ataques no Oriente Médio" e condenando o conflito "com escalada após escalada" e reiterou a necessidade de um cessar-fogo. "Isto tem que parar. Necessitamos absolutamente de um cessar-fogo", escreveu, sem mencionar a ofensiva de Teerã.

Katz também acusou o líder da ONU de não ter denunciado as atrocidades cometidas pelo Hamas durante o ataque múltiplo de 7 de outubro e as "atrocidades sexuais cometidas" por seus milicianos.

"Este é um secretário-geral anti-Israel que presta apoio a terroristas, estupradores e assassinos", disse o ministro em nota. "Israel continuará a defender seus cidadãos e a manter sua dignidade nacional, com ou sem António Guterres", acrescentou.

Sanção contra membros da ONU e Lula

Um relatório do Escritório de Direitos Humanos da ONU de 23 de fevereiro constatou que o grupo islâmico Hamas e outros grupos armados palestinos cometeram violações em larga escala do direito internacional em 7 e 8 de outubro, incluindo abusos, agressões sexuais e tortura.

Da mesma forma, em 24 de outubro de 2023, Guterres, em uma sessão do Conselho de Segurança da ONU, condenou o ataque do grupo palestino que deixou 1.200 mortos e 251 sequestrados, mas ressalvou que essas ações não surgiram do nada, mas após décadas de ocupação.

Essas declarações também provocaram indignação entre o governo israelense, que na época declarou a ONU persona non grata. "Recusaremos a emissão de vistos para representantes da ONU", retaliou o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan.

Essa não é a primeira vez que o ministro israelense do Exterior toma medidas contra líderes políticos que criticam as políticas de Israel. Em fevereiro passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi declarado persona non grata após descrever a guerra em Gaza como um genocídio comparável ao Holocausto nazista.

md/cn (Reuters, EFE, AFP, Lusa)

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