O governo de Israel e o grupo terrorista islâmico Hamas chegaram a um acordo nesta quarta-feira (22) para a libertação de pelo menos 50 reféns na Faixa de Gaza em troca da libertação de prisioneiros palestinos e de uma trégua de quatro dias. A negociação que durou semanas foi mediada pelo Catar.
No primeiro grande avanço diplomático do conflito, o Hamas se comprometeu a libertar durante a trégua de quatro dias 50 mulheres e crianças (30 crianças, 12 mães e oito idosas) que foram capturadas no ataque contra Israel em 7 de outubro, quando terroristas do grupo mataram em torno de 1.200 pessoas e sequestraram cerca de 240. Em resposta, Israel iniciou uma operação militar com mísseis e tropas no terreno em Gaza.
Horas antes do anúncio, o Hamas já havia adiantado que "a bola" estava "no campo de Israel", depois que o grupo informou sua posição sobre o acordo aos mediadores do Catar e do Egito. O acordo foi aprovado pelo gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu após uma reunião que durou quase toda a noite.
Todos os membros do governo de Netanyahu votaram a favor da troca e da trégua, com exceção dos três ministros do Partido do Poder Judaico (Otzma Yehudit) e do ultradireitista e ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir. A aprovação foi um dos últimos obstáculos depois do que uma autoridade americana descreveu como cinco semanas "extremamente dolorosas" de negociação.
Após o anúncio do acordo, as operações dos militares israelense continuavam em "mar, terra e ar" na Faixa de Gaza, segundo anúncio das Forças de Defesa da Israel (IDF). Segundo o Catar, um dos principais negociadores, o início da trégua será anunciado nas próximas 24 horas.
O que prevê o acordo
De acordo com informações divulgadas pela imprensa israelense, o pacto possibilita ainda de que o número de reféns libertados seja estendido para 80, assim como a trégua de quatro dias pode ser ampliada por vários outros dias. Israel afirmou que para cada dez reféns adicionais libertados haverá um dia a mais de trégua. O Hamas levará os reféns para o Egito pela passagem de Rafah em grupos diários de cerca de dez pessoas e, de lá, eles serão entregues a Israel.
Por sua vez, Israel deve libertar cerca de 150 prisioneiros palestinos, também em sua maioria mulheres e menores de idade que não foram condenados por crimes de sangue.
Além disso, as Forças de Defesa de Israel se comprometeram a não sobrevoar a Faixa de Gaza durante seis horas por dia, enquanto a trégua estiver em vigor, para permitir que o Hamas localize os reféns mantidos por outros grupos armados, como a Jihad Islâmica. De acordo com algumas estimativas, o Hamas mantém entre 210 e 240 reféns, enquanto a Jihad Islâmica Palestina teria em cativeiro cerca de 30.
O acordo também incluiria, segundo a imprensa israelense, a entrada em Gaza de 100 a 300 caminhões com alimentos e ajuda médica, além de combustível. A trégua temporária começaria já na quinta-feira para permitir 24 horas para que quaisquer recursos contra a decisão do governo sejam apresentados à Suprema Corte.
O pacto não prevê a libertação de soldados ou homens, e os corpos dos reféns mortos não serão recuperados. No entanto, a imprensa de Israel informou que homens idosos e reféns de nacionalidade estrangeira poderiam ser trocados. Outro ponto destacado pela imprensa israelense é que o Hamas terá que anunciar os nomes das pessoas a serem libertadas com um dia de antecedência.
Ofensiva continua
Netanyahu garantiu, antes da reunião do governo que aprovou o acordo, que o pacto inclui que a Cruz Vermelha visitará os reféns e lhes oferecerá ajuda médica. Antes das discussões em seu gabinete, o primeiro-ministro disse que aceitar esse acordo, que o Hamas alga estar sendo discutido há um mês, "é uma decisão difícil, mas é a decisão certa".
No entanto, Netanyahu advertiu que essa trégua não significa o fim da ofensiva. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, subordinado ao governo do Hamas, mais de 14 mil pessoas foram mortas desde o início do conflito.
"Há muita bobagem sendo dita por aí que, depois da pausa para devolver nossos reféns, vamos parar a guerra. Bem, vamos ser claros: estamos em guerra e continuaremos a guerra. Continuaremos a guerra até atingirmos todos os nossos objetivos: eliminar o Hamas, devolver todos os nossos reféns e pessoas desaparecidas e garantir que não haja nenhum elemento em Gaza que ameace Israel", declarou Netanyahu antes da reunião.
A pausa ocorre após semanas de pressão crescente da comunidade internacional e das principais entidades internacionais, como as Nações Unidas, para interromper os ataques, que também forçaram mais de 1,5 milhão de pessoas a deixar suas casas.
As negociações envolveram a CIA, a agência de espionagem de Israel, a Mossad, a inteligência egípcia e líderes de Doha, Cairo, Washington, Israel e Gaza.
EUA e Alemanha saúdam acordo
Após o anúncio do acordo, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que estava "extraordinariamente satisfeito que muitas destas almas corajosas se reúnam com as suas famílias assim que este acordo for totalmente implementado".
Biden elogiou ainda Netanyahu pelo seu "compromisso" com "uma pausa prolongada para garantir que este acordo possa ser plenamente executado e garantir o fornecimento de ajuda humanitária adicional para aliviar o sofrimento das famílias palestinas inocentes em Gaza".
"É importante que todos os aspetos deste acordo sejam totalmente implementados", alertou Biden. O presidente indicou também que a "maior prioridade" é garantir a segurança dos reféns americanos.
A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, saudou o acordo. "A anunciada libertação do primeiro grande grupo de reféns é um avanço, mesmo que nada no mundo possa desfazer o seu sofrimento. A pausa humanitária deve ser aproveitada para levar ajuda vital às pessoas em Gaza", escreveu em seu perfil no X, antigo Twitter.
cn/as (Efe, Lusa, APF)