Isis-K: O que é o Estado Islâmico Khorasan, rival do Talibã (e dos EUA)

Grupo criado em 2015 tem dissidentes de outras organizações terroristas e assumiu a autoria do atentado em Cabul

Por Talita Marchao

Isis-K: Estado Islâmico Khorasan assumiu autoria de atentado em aeroporto no Afeganistão Reprodução/Twitter
Isis-K: Estado Islâmico Khorasan assumiu autoria de atentado em aeroporto no Afeganistão
Reprodução/Twitter

Um grupo conhecido como Isis-K, o Estado Islâmico da Província de Khorasan, assumiu a autoria de um atentado realizado nos arredores do aeroporto de Cabul, onde civis aguardavam por uma oportunidade de deixar o Afeganistão.

A organização terrorista Isis-K é um braço (uma espécie de filiado) do Estado Islâmico que atua no Oriente Médio, em países como Iraque e Síria, desde 2014. O Estado Islâmico Khorasan atua nas regiões do Afeganistão e do Paquistão, e busca estabelecer um califado em territórios da Ásia Central e no Sul, sob as leis da sharia, segundo a interpretação que o grupo faz do Alcorão.

De acordo com dados do CSIS (Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais), o Isis-K foi criado em 2015 na região conhecida como Khorasan, que historicamente abrange partes do território do Irã, do Afeganistão, do Paquistão e outras regiões da Asia Central. O grupo se concentra na província afegã de Nangarhar, nas rotas de tráfico de drogas para o Paquistão.

Ele é formado por militantes islâmicos sunitas, ex-integrantes de outras organizações terroristas da região, como a paquistanesa Lashkar-e-Taiba, e a rede extremista afegã Haqqani, que possui vínculos com a Al-Qaeda, além de dissidentes do próprio Talibã. 

Acredita-se que o Isis-K seja responsável por mais de 100 atentados contra civis no Afeganistão e no Paquistão. nos últimos anos.

"O Isis-K tem recebido apoio da liderança central do Estado Islâmico no Iraque e na Síria desde sua fundação, em 2015. Enquanto perde território, o Estado Islâmico se volta cada vez mais para o Afeganistão como base para seu califado global”, explica o CSIS em sua análise sobre esta facção do grupo terrorista. O Estado Islâmico chegou a investir dinheiro na região de Khorasan para melhorar suas redes e conexões com a Ásia Central.

Ao assumir a autoria do ataque, o Isis-K afirmou que um homem-bomba realizou o atentado. O jovem teria detonado os explosivos próximo de soldados norte-americanos que processavam os documentos de afegãos que colaboraram com as tropas dos EUA e tradutores que prestaram serviços aos militares durante a guerra.

Apesar dos 20 anos de guerra, o Afeganistão segue como um dos principais destinos de combatentes terroristas estrangeiros na região, especialmente das pessoas com afinidade com o Estado Islâmico.

Além da criação de um califado muçulmano, o grupo tem como ambição “erguer o estandarte negro [em referência à bandeira do Estado Islâmico] sobre Jerusalém e a Casa Branca, em um sinal de derrota de Israel e dos EUA. O Isis-K quer ainda livrar o território Khorasan de estrangeiros “cruzados”.

Vídeo: Mais de 100 mortos em Cabul, e o Estado Islâmico reivindica atentados

O CSIS explica que a estratégia do Isis-K é trabalhada de acordo com os diferentes ambientes operacionais do grupo e as condições locais. No caso do Afeganistão, a facção busca deslegitimar os governos e degradar a confiança pública nos processos democráticos, criando instabilidade e ameaçando cidadãos. Militantes do Isis-K atacaram vários centros eleitorais em pleitos realizados nos últimos anos.

Rita Katz, analista de terrorismo do SITE Intelligence Group, uma ONG especializada em rastrear atividade online de terroristas e supremacistas, afirmou em seu perfil no Twitter que o Isis-K tem feito diversas ameaças desde que o Talibã assumiu o poder, alertando sobre a realização de novos atentados no Afeganistão. Segundo ela, Cabul é um dos principais alvos.

Isis-K: Inimigo do Talibã e dos EUA

Fernanda Magnotta, especialista em Relações Internacionais da FAAP, explicou em entrevista ao BandNews TV que o Talibã, que tomou posse do país, e o Estado Islâmico são grupos que se antagonizam do ponto de vista geopolítico, disputando espaço. 

“Tanto o Talibã quanto o Estado Islâmico não deixaram de existir nos últimos anos, apesar de o Ocidente ter falado menos sobre eles. De uma maneira bastante simplificada, é possível dizer que o Estado Islâmico é muito mais fundamentalista e radical do que o Talibã –e o Talibã já é um grupo bastante radicalizado”.

Na avaliação da especialista em relações internacionais, o atentado no aeroporto de Cabul é um “duplo ataque”, focando em duas questões: mostra que o Estado Islâmico está presente na região e que o Talibã não vai ser salvo-conduto para dominar, já que existe uma disputa e a região não é homogênea e, ao mesmo tempo, fica como um alerta para os EUA, que já combateram o Estado Islâmico no Iraque.

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