Famosa defensora de direitos humanos, e considerada uma das mais influentes advogadas no Irã, Nasrin Sotoudeh, 60, é uma dentre as várias pessoas presas no último domingo (29/10) durante o funeral da adolescente Armita Geravand, 16, em Teerã.
A morte da jovem gerou comoção porque Geravand teria, segundo ativistas, sido morta pela polícia da moralidade do regime fundamentalista islâmico por estar em público com o cabelo descoberto, violando o código de vestimenta do Irã.
Sotoudeh foi presa porque também não cobriu a cabeça ao comparecer à cerimônia. Ela é acusada, segundo a agência de notícias local "Fars", de "perturbar a segurança mental da sociedade".
O marido dela, Reza Khandan, afirmou à agência de notícias AFP que a advogada foi "brutalmente espancada" pelas forças de segurança ainda durante o funeral, junto com outros participantes, que entoavam palavras de ordem contra as autoridades.
Ativista contra o véu e a pena de morte, Sotoudeh havia se referido à morte de Geravand como "outro assassinato de Estado".
A informação da prisão foi repassada pela organização norueguesa de direitos humanos Hengaw nesta segunda, e confirmada pelo marido dela.
Agraciada pelo Parlamento Europeu com o prêmio Sakharov pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos em 2012, a advogada já foi encarcerada outras vezes e passou temporadas na prisão por defender mulheres que desafiaram a obrigatoriedade do uso do véu e opositores iranianos. Ela responde na Justiça por "propaganda contra o Estado" e foi sentenciada em 2019 a 12 anos de prisão por "incentivar corrupção e depravação".
Morte de adolescente gerou paralelos com caso de Mahsa Amini
Geravand foi sepultada sob forte esquema de segurança no cemitério Behesht Zahra, em Teerã, após as autoridades vetarem o enterro da jovem em sua cidade natal, Kermanshah.
Ativistas responsabilizam a polícia da moralidade do regime fundamentalista islâmico pela morte de Geravand, que ficou um mês em coma no hospital após embarcar em um vagão de metrô com o cabelo descoberto.
As autoridades iranianas alegam que ela teve um mau súbito, caiu no chão e bateu a cabeça.
Na esteira da revolução islâmica de 1979 no Irã, mulheres são obrigadas desde 1983 a cobrir a cabeça e o pescoço, mas elas têm se insurgido contra essa imposição cada vez mais nos últimos meses – especialmente desde a morte de outra mulher, Mahsa Amini, morta em setembro de 2022 sob custódia da polícia da moralidade.
A morte de Amini gerou uma onda de protestos sem precedentes contra o regime e uma severa repressão, que resultou na prisão de 22 mil pessoas e o assassinato de cerca de 500 pessoas pela ditadura fundamentalista. O regime também condenou à morte e executou sete participantes.
ra (AFP, dpa, EFE)