Incêndios no Pantanal: 10% da cobertura vegetal já foi tomada e pantaneiros resistem aos estragos do fogo

Da Redação, com Jornal da Band

Reportagem especial do Jornal da Band mostra a situação de moradores e bombeiros no combate ao fogo Mayke Toscano/Secom-MT
Reportagem especial do Jornal da Band mostra a situação de moradores e bombeiros no combate ao fogo
Mayke Toscano/Secom-MT

Há algumas semanas o Pantanal tem sido destruído pelo incêndio que caminha para ser o maior de sua história. Em reportagem especial para o Jornal da Band, o repórter Yan Boechat relata que o som do ambiente lembra uma tempestade, alto e avassalador. Logo o vento traz o calor e a fuligem, o dia vira noite, o fogo avança rápido nos campos secos e destrói o capim, os arbustos, as arvores e tudo mais que encontrar pela frente.

O pantaneiro Joaquim Zanota contou à reportagem os momentos de tensão para fugir do fogo: “Vinha fogo dois lados, eu meti o pau e passei. Eu vivo nesses ‘mato’ aí há muito tempo”, afirmou. Já o bombeiro 1º tenente Rodrigo Alves Bueno, afirmou que o problema são as condições locais: “Clima muito seco, vento forte, estiagem há muito tempo. A vegetação tá toda muito seca, então tudo isso favorece pra alastrar o fogo”, disse.

O Pantanal é a maior planície alagada do mundo, são 250 mil km², parte está na Bolívia, parte no Paraguai e mais da metade desse bioma está no Brasil. Dos 150 mil quilômetros quadrados do pantanal brasileiro, 65% estão no Mato Grosso do Sul, e 35% no Mato Grosso.

Pantaneiros

Em Poconé, no Mato Grosso, fica o ponto mais crítico dos incêndios no Pantanal. As chamas avançam com grande velocidade e destroem tudo que encontram pela frente. Uma força-tarefa composta pelos bombeiros dos dois estados, das Forças Armadas, do Ibama, além de centenas de brigadistas, tenta conter as chamas, sem sucesso.

“Nunca tinha trabalhado num incêndio dessas proporções, então é triste né? É triste porque os animais sofrem, a vegetação fica arrasada, e a gente vai trabalhando pontualmente, né, nos focos de incêndio, e fazendo combate ali de formiguinha”, lamentou tenente Callegario, que trabalha na operação.

Combate ao fogo

Nessas últimas semanas, os bombeiros desistiram da estratégia de apagar o incêndio em definitivo, por ter ficado grande demais. Sem homens e equipamentos suficientes para uma tarefa dessas dimensões, as agentes se esforçam para reduzir danos.

O tenente Callegario admitiu que as equipes não têm conseguido realizar o combate: “A mata é bem fechada, então a gente não consegue adentrar a mata, pra realizar o combate ao fogo. Então a gente procura proteger as pousadas, as residências, o povo que mora aqui na região", frisou.

O fogo que destrói florestas e campos, queima e sufoca os animais, também ameaça a vida dos pantaneiros. Seu Dito Verde, um morador lendário dessa região, por pouco não perde a casa de sape em que passou a vida. Mesmo vivendo sozinho, sem luz, sem água encanada, apenas com a natureza e a bicharada a lhe fazer companhia, diz que só encontra a felicidade aqui.

“Eu sou muito feliz aqui, graças a Deus. Desde que eu nasci, me criei aqui, sou feliz toda vida. Aqui a natureza que é bom. Eu vou falar que pra sair daqui só depois de morto. Só depois de morto”, pontuou seu Dito.

Os bombeiros e brigadistas lutaram para salvar a casa de seu Dito. Em um momento, precisaram se abrigar nas áreas alagadas pelas aguas do Cuiabá para fugir do fogo incontrolável, escaparam das chamas com a ajuda de um helicóptero da marinha. Por sorte o vento virou, e a casinha de Dito segue de pé, pronta para ver o vai e vem das aguas uma vez mais por aqui.

Enquanto as chuvas não chegam, ninguém sabe ao certo por quanto tempo o Pantanal continuará queimando. Assim, o fogo vai transformando o que por muitas vezes parece ser um oceano de água doce em um sertão com cara de deserto. Mas no meio de tanta fumaça, secura e fogo, as flores reluzentes do ipê roxo não permitem esquecer que por lá a natureza é forte.

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