O incêndio na Boate Kiss, que matou 242 pessoas e deixou centenas de feridos, completa oito anos nesta quarta-feira (27) ainda sem data para o julgamento, que já poderia ter ocorrido. A pandemia do coronavírus e entraves jurídicos frustraram a expectativa de centenas de famílias que perderam parentes e amigos no incêndio em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. As informações são de Guilherme Milman, da BandNews FM.
A tragédia aconteceu depois que um integrante da banda Gurizada Fandangueira, que fazia uma apresentação ao vivo no local, acendeu um sinalizador dentro da casa noturna, e faíscas acabaram incendiando a espuma que fazia o isolamento acústico. A queima liberou gases tóxicos e matou, por sufocamento, a maior parte das vítimas. Além disso, o local não contava com saídas de emergência adequadas, os extintores eram insuficientes e estavam vencidos.
Desde 2013, a funcionária pública Cristiane Clavé espera pelo júri dos responsáveis pela tragédia. Mas, até agora, não há perspectiva de quando ele será realizado.
Sobrevivente, ela está afastada do trabalho durante a pandemia por sequelas deixadas pelo incêndio. Foram duas queimaduras no pulmão por inalar a fumaça que saía do palco onde se apresentava a banda. A dificuldade para respirar fez com que ela, apesar de ter só 34 anos, fosse incluída no grupo de risco.
O julgamento estava marcado para 13 de março de 2020, no auditório da Universidade Federal de Santa Maria. No processo criminal, os empresários e sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, além do vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor do grupo musical, Luciano Bonilha Leão, respondem por homicídio.
Porém, três dos quatro réus não aceitaram ser julgados na cidade em que ocorreu a tragédia, alegando que o ambiente poderia afetar a imparcialidade na decisão dos juízes.
A Justiça aceitou os pedidos e apenas o assistente de palco Luciano Bonilha Leão seria julgado na cidade onde ocorreu a tragédia.
A data chegou a ser adiada para 16 de março. Porém, faltando cinco dias para o julgamento, uma nova reviravolta suspendeu a audiência.
A Justiça aceitou o pedido do Ministério Público, junto à Associação dos Familiares de Vítimas da Tragédia de Santa Maria, para que o processo fosse realizado de uma só vez.
Para Flávio Silva, presidente da entidade, o objetivo é diminuir o sofrimento dos familiares e amigos de quem perdeu a vida no incêndio.
Com isso, apenas em setembro do ano passado foi definido que todos os réus serão julgados ao mesmo tempo, em Porto Alegre. O dia tão esperado ainda é desconhecido, mas pode ocorrer ainda em 2021.