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Ilha do Pacífico na linha de frente da luta pelo clima

Uma das menores nações do planeta, Palau está sob ameaça da elevação do nível do mar, marés altas, enchentes e tempestades tropicais cada vez mais fortes. No Pacífico, dezenas de outros países estão no mesmo barco.

Por Deutsche Welle

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O ruído dos motores de popa diminui para um ronco surdo, e a proa do barco se abaixa conforme diminui nossa velocidade ao longo da lagoa. Com uma mira precisa, um tripulante da popa espeta com um gancho um pedaço de isopor e o arrasta para bordo.

Swing Aguon dá força no motor e seguimos em frente. "Odeio ver coisas como essas na água. Isso não está certo", diz, apontando com o polegar por sobre o ombro.

Aguon, de 56 anos, conduz há 25 anos barcos de mergulho e de pesca em alto-mar a partir do cais de Koror, capital da pequena nação insular de Palau, no Oceano Pacífico. Ele diz que nesse período percebeu mudanças significativas no meio ambiente da região.

Localizada mil quilômetros a leste das Filipinas e quase 3.200 quilômetros ao sul do Japão, Palau está em melhores condições do que várias outras nações de baixa altitude que pontificam o Pacífico, embora não seja imune ao impacto das mudanças climáticas e à poluição.

"Eu cresci aqui, então, quando comecei a transportar grupos de pescadores, eu sabia quais eram os melhores lugares porque conhecia as marés, as correntes e os ventos", conta Aguon. "Mas, tudo mudou no decorrer dos anos. Agora o único modo de descobrir onde estão os peixes é saindo e observado por conta própria."

Elevação do nível do mar e "marés-rei"

Em terra, Aguon diz que amigos e vizinhos foram afetados pela elevação do nível do mar e fortes tempestades, capazes de gerar prejuízos, principalmente se coincidem com as assim chamadas "marés-rei" (king tides) que ocorrem em média duas vezes por ano, atingindo terrenos mais altos do que a maré alta comum. Além disso, os tufões que sempre foram um fato da vida nesta parte do Pacífico Central costumam agora ser mais destrutivos e durar mais do que no passado.

Em novembro de 2013, o tufão Haiyan foi uma das tempestades tropicais mais poderosas já registradas e atingiu diretamente a distante ilha de Kayangel, cujo ponto mais alto está fica apenas um metro acima do nível do mar.

Praticamente todos os edifícios foram destruídos, só restando o escritório do governo local, de concreto, e uma casa. Nenhum dos 68 habitantes morreu devido ao tufão, embora mais tarde a tempestade tenha matado cerca de 6.300 habitantes ao atingir as Filipinas.

"A gente das áreas de baixa altitude – ou seja, de grande parte de Palau – está vendo a terra se erodir ao redor; as áreas onde plantam inhame e outros produtos estão sendo inundadas com água salgada e morrendo", relata Aguon. "A água sobe e enche os sistemas de esgoto, o que afeta a vida marinha e a saúde da população."

A situação de Palau se repete em toda a região do Pacífico. O secretário-geral da ONU, António Guterres, emitiu um SOS climático no fim de agosto, durante uma visita a Tonga, por ocasião da cúpula do Fórum das Ilhas do Pacífico.

"A elevação dos mares é uma crise totalmente criada pela humanidade. Uma crise que logo aumentará para uma escala quase inimaginável, sem um bote salva-vidas para nos levar de volta à segurança. Uma catástrofe mundial coloca este paraíso do Pacífico em perigo. O oceano está transbordando."

Prejuízos para o turismo

Um relatório de 2023 da Organização Meteorológica Mundial (OMM) aponta que as inundações costeiras na ilha de Guam aumentaram de duas vezes por ano em 1980 para as atuais 22 vezes. Nas Ilhas Cook, as enchentes aumentaram de cinco para 43 ocorrências anuais. O número mais alarmante foi registrado na Samoa Americana, que foi de zero casos para 102 vezes por ano.

O presidente de Palau, Surangel S. Whipps Jr., tem total conhecimento dos desafios que sua nação enfrenta. "Palau está na vanguarda desse desafio que estamos vivendo. As temperaturas estão subindo e estamos enfrentando secas mais frequentes."

"Temos marés altas que inundam casas e terrenos agrícolas em áreas de baixa altitude, o que afeta plantações de alimentos como inhame com água salgada. Hoje, também temos tempestades muito maiores do que no passado. Temos razão em nos preocupar", alertou o presidente.

Whipps Jr. observou que crise é ainda mais complicada por o país depender muito da renda gerada pelo turismo. "Estamos vendo o branqueamento de corais em algumas áreas e há menos águas-vivas no lago que é uma das nossas atrações mais populares."

Sem perder a esperança

Parte da tarefa de encontrar soluções para os desafios climáticos da nação insular está nas mãos de Adelle Isechal, coordenadora de planejamento espacial marinho do Departamento de Pesca de Palau.

"A mudança climática é complicada, e os desafios estão todos interrelacionados em Palau e em todas as ilhas do Pacífico. As administrações estão lutando para controlar as complexidades dos nossos oceanos e do desenvolvimento humano. Temos que romper os compartimentos tradicionais e encontrar maneiras de trabalhar juntos."

Isechal também destacou que a inundação é um problema crescente em áreas de baixa altitude, com os poços de água doce sendo contaminados pela água salgada. Além disso, atóis remotos que dependem de água da chuva estão se tornando "extremamente vulneráveis" durante os períodos de seca.

Isechal acrescenta que planejamento antecipado é fundamental, incluindo os esforços para realocar para terrenos mais altos infraestruturas importantes – como as repartições da Presidência e o principal hospital de Koror –, enquanto estão sendo projetadas escolas que funcionem como abrigos contra tufões.

No entanto a mudança é lenta, e os desafios continuam ficando cada vez mais difíceis: "Quando eu era mais jovem, estava otimista de que se poderiam encontrar soluções. Agora, eu diria que estou em transição. Não posso ser pessimista, pois isso significaria que desisti, então direi que estou sendo realista e pragmática. Há muito trabalho a ser feito."

Autor: Julian Ryall

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