A busca por alternativas de energia mais barata e menos poluente está em ritmo de crescimento acelerado no mundo. O cenário fica mais evidente com as altas nos preços do petróleo e a crise de abastecimento de gás na Europa devido à guerra na Ucrânia. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a Terra vai atingir o seu limite, ou o “ponto de não retorno”, em 2030.
Com isso, a passagem dos combustíveis fósseis para matrizes energéticas renováveis é tratada com urgência e uma das principais opções para substituir a gasolina e o etanol, por exemplo, é o hidrogênio verde.
Considerado como o combustível do futuro, essa matriz energética é foco de diversos estudos e projetos voltados para a descarbonização de veículos e até mesmo da indústria. Mas por que ele é tão importante nesse processo?
Primeiro é preciso entender o que é o hidrogênio. Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), Fabio Coral Fonseca, o hidrogênio é o menor elemento químico conhecido pelo homem e o mais abundante da natureza.
“O hidrogênio é um elemento químico, é o menor elemento químico que a gente conhece e o mais abundante da natureza. Ele é o combustível do universo. O combustível do universo é no seguinte sentido, o sol, ele é simplesmente um monte de hidrogênio e o sol é um reator nuclear de fusão que transforma hidrogênio em hélio”, disse.
A forma que o hidrogênio é capturado na natureza entra em uma escalada de cores, onde cada tem o seu significado. Por exemplo, o hidrogênio azul é capturado a partir da reforma de gás natural, e possui como subproduto o CO2 na sua produção, que é armazenado logo sem seguida.
O que é Hidrogênio Verde?
O hidrogênio verde é produzido a partir da eletrólise da água por meio de fontes renováveis, como a energia solar ou eólica, que separa as moléculas de água (H20) em hidrogênio (H2) e oxigênio (02). Na sua produção, não é gerado nenhum carbono, tornando-se um ciclo limpo, sem presença de CO2, sendo chamado de verde.
Por que o hidrogênio verde é considerado o combustível do futuro?
O hidrogênio verde é tão visado como fonte energética exatamente por não possuir nenhum átomo de carbono em sua fórmula química, não contribuindo nas emissões de carbono.
“O hidrogênio é visto como combustível flexível porque ele não tem emissões de carbono associadas. Usar o hidrogênio para produzir energia, não tem uma emissão de carbono, é por isso que o hidrogênio verde, ou hidrogênio de baixo carbono, é importante, porque não contribuiria mais para o efeito estufa. Existe uma necessidade urgente de a gente descarbonizar nossos combustíveis e o hidrogênio é, possivelmente, uma das únicas soluções viáveis”
Em comparação com a gasolina, por exemplo, um litro de hidrogênio possui três vezes mais energia que um litro do combustível fóssil. Além de mais eficiente, o hidrogênio pode ser utilizado em diversos setores, sendo a sua versatilidade outra característica favorável.
“Essa energia pode ser para um prédio, pode ser para um carro, pode ser para um avião. É uma tecnologia que é utilizada, por exemplo, em todas as espaçonaves da NASA. A energia elétrica a bordo é produzida dessa forma. Ou seja, é uma tecnologia segura, muito robusta, confiável. O hidrogênio também tem essa questão, esse apelo com a mobilidade”, complementa o pesquisador.
Impacto Econômico
Segundo dados divulgados pela BloombergNEF, empresa especializada em pesquisas no setor de transição energética, o Brasil será um dos únicos países do mundo a oferecer hidrogênio verde a um custo inferior a um dólar por quilo vendido até 2030.
O país tem potencial para se inserir de forma competitiva nesse mercado, tanto pela disponibilidade de recursos renováveis necessários para produção, como pelas possibilidades de uso interno e exportação.
Para Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, o Brasil está em uma posição privilegiada na cadeia do hidrogênio sustentável.
“O país dispõe de variados recursos renováveis (energia eólica, solar, etanol e hidráulica) para produção de hidrogênio. Do lado da demanda, a posição geográfica e a dimensão continental do Brasil ampliam as possibilidades para o hidrogênio ser explorado tanto no mercado interno e externo”
Bomtempo completa que Brasil possui o seu sistema de logística para a produção de hidrogênio verde à frente do mundo, o que seria uma vantagem para aproveitar a demanda do mercado.
“Alguns governos estaduais, em parceria com complexos industriais e empresas de energia, começaram a desenvolver projetos de hubs de hidrogênio verde, estratégia que busca contemplar modelos de negócio na cadeia de valor do hidrogênio: da produção, armazenamento e uso à distribuição”, disse.
Desvantagens
A principal desvantagem na produção do hidrogênio verde é o seu custo. Como o combustível utiliza de fontes energéticas renováveis e mais caras para ser capturado, o seu valor é afetado pelo valor da energia utilizada.
Segundo Davi Bomtempo, o hidrogênio já pode ser produzido e competitivo com o gás natural, por exemplo.
“Estudos realizados pelo Instituto de Energia da PUC-Rio demonstraram que a hidrogênio verde já pode ser competitivo com o gás natural. O hidrogênio sairia ao mesmo preço do gás natural considerando os benefícios do aproveitamento do oxigênio e um crédito de carbono de US$ 50,00 por tonelada”, disse.
Para Fonseca, outra desvantagem do hidrogênio verde é a sua logística de armazenamento.
“O hidrogênio, para armazenado em carro, é preciso comprimi-lo para conseguir ter um espaço, uma quantidade de hidrogênio grande num volume relativamente pequeno. Ele precisa estar em alta pressão. Você precisa comprimir muito o hidrogênio em um espaço muito pequeno para conseguir utilizar a sua energia”, finaliza.