O grupo Hamas e o partido Fatah, do presidente palestino Mahmud Abbas, concordaram em criar um comitê conjunto para administrar a Faixa de Gaza após o fim da guerra no enclave. A informação foi divulgada nesta terça-feira (03/12) pelos negociadores dos dois grupos palestinos.
De acordo com o plano, que precisará da aprovação de Abbas, o comitê deve ser formado por 10 a 15 figuras apartidárias com competência em questões relacionadas à economia, educação, saúde, ajuda humanitária e reconstrução, segundo um esboço da proposta ao qual teve acesso a agência de notícias AFP.
Após negociações no Cairo mediadas pelo Egito, as duas facções rivais concordaram que o comitê deve administrar o lado palestino do posto de controle de Rafah na fronteira com o Egito, a única travessia para o território não compartilhada com Israel.
O comitê estará submetido à Autoridade Palestina, controlada pelo Fatah e sediada na Cisjordânia ocupada, e trabalhará com parceiros locais e internacionais para facilitar o acesso de ajuda humanitária e os esforços de reconstrução.
Esforços diplomáticos
Os negociadores disseram que a delegação do Fatah, liderada pelo membro do comitê central do partido Azzam al-Ahmad, retornaria na terça-feira a Ramallah para buscar a aprovação final de Abbas. A delegação do Hamas foi chefiada por Khalil al-Hayya, pelo membro da liderança do grupo.
A iniciativa surge em um momento de esforços diplomáticos renovados para pôr fim à guerra entre o Hamas e Israel em Gaza, desencadeada pelos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023 em Israel, que mataram em torno de 1.200 pessoas.
Já a contraofensiva de Israel em Gaza resultou em pelo menos 44.466 mortes, na maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza administrado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis. As ações israelenses deixaram grande parte do território em ruínas e desabrigaram a maioria dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza.
Os avanços diplomáticos, liderados pelos Estados Unidos junto com Egito, Catar e Turquia, ocorrem quase uma semana após a entrada em vigor de um frágil cessar-fogo entre Israel e o grupo islamista Hezbollah no Líbano.
Disputas de poder
Os dois grupos são adversários ferrenhos desde que os combatentes do Hamas expulsaram o Fatah da Faixa de Gaza após confrontos violentos que se seguiram à vitória retumbante do Hamas em uma eleição de 2006.
O Hamas assumiu o controle de Gaza em 2007, enquanto o movimento secularista Fatah tem controle administrativo parcial na Cisjordânia ocupada por Israel e sobre a Autoridade Palestina.
Enquanto o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, se prepara para entregar o poder em janeiro ao presidente eleito Donald Trump, os palestinos vêm enfrentando uma forte pressão dos americanos para garantir que o Hamas não tenha nenhum papel em Gaza após o fim da guerra.
O governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fez da destruição do Hamas em Gaza um dos seus principais objetivos na guerra no território palestino. O premiê expressou repetidas vezes uma forte oposição à possibilidade de a Autoridade Palestina ou o Hamas desempenharem algum papel em Gaza após a guerra.
Netanyahu prometeu continuar a guerra até que o Hamas seja desmantelado e dezenas de reféns israelenses em Gaza sejam libertados. Ele disse que Israel manterá um controle de segurança por tempo indeterminado sobre Gaza, com as questões civis sendo administradas por palestinos locais não afiliados à Autoridade Palestina ou ao Hamas.
Autoridade Palestina contestada
Os EUA defendem uma revitalização da Autoridade Palestina para que o grupo governe tanto a Cisjordânia quanto Gaza antes da criação de um eventual Estado palestino. O governo israelense estaria discutindo um plano para o pós-guerra com os Emirados Árabes Unidos, que normalizaram relações com Tel Aviv em 2020 e apoiam o Fatah.
A Autoridade Palestina reconhece Israel e coopera com o país em questões de segurança, sendo esta uma política profundamente impopular entre os palestinos. Muitos veem o grupo como um tipo de representante das forças de ocupação.
Por sua vez, Israel diz que o grupo não fez o suficiente para combater os grupos armados ou coibir a incitação.
O comitê deve assumir suas funções após o fechamento de um acordo de cessar-fogo com Israel, segundo afirmou o representante do Hamas. Mediadores americanos e árabes passaram quase um ano tentando intermediar uma trégua no conflito, mas as negociações permanecem estagnadas.