Haiti decreta estado de emergência e toque de recolher após fuga de detentos

A medida tem restrição por 72 horas e toque de recolher noturno após gangues armadas invadirem as duas maiores prisões do país

Da redação com DW

Governo decreta estado de emergência após fuga em massa de detentos
Reuters/Ralph Tedy Erol

O governo do Haiti decretou estado de emergência obrigatório por três dias e toque de recolher noturno em Porto Príncipe, capital do país, neste domingo (3). A determinação ocorreu após gangues armadas invadirem as duas maiores prisões do território haitiano.

As gangues permitiram que mais de três mil criminosos saíssem das cadeias e voltassem para as ruas, entre os presos estão assassinos e sequestradores.

O ministro de finanças, Patrick Boisvert - que está no comando, enquanto o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, está no exterior com o intuito de resgatar o apoio para uma força de segurança apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para restabelecer a segurança no país - disse que a polícia usaria “todos os meios legais à sua disposição” para recapturar os prisioneiros.

Um ex-policial da elite conhecido como Barbecue, Jimmy Chérizier, atual comandante da federação de gangue, assumiu a responsabilidade pelo aumento dos ataques. Segundo Chérizier, o objetivo era capturar o chefe da polícia e os ministros do governo do Haiti e impedir o retorno do primeiro-ministro.

Fugas em massa

Apenas uma centena dos cerca de 3.800 detentos da Penitenciária Nacional – a maior do país – ainda estavam no local após a fuga deste fim de semana, afirmou Pierre Esperance, da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos. "Contamos muitos corpos de prisioneiros", relatou.

Entre os poucos detentos que permaneceram no presídio, estava um grupo de 18 ex-soldados colombianos acusados de atuarem como mercenários e de envolvimento no assassinato de Moïse.

No sábado à noite, os colombianos divulgaram um vídeo pedindo ajuda, afirmando que as gangues massacravam pessoas indiscriminadamente dentro das celas. Um deles disse a jornalistas que não fugiu porque era inocente. O Ministério do Exterior da Colômbia pediu ao governo do Haiti proteção especial ao grupo.

Outro presídio em Porto Principe com cerca de 1.450 detentos também foi invadido. Não havia ainda informações sobre quantos prisioneiros fugiram do local.

"A polícia recebeu ordens para usar todos os meios legais a seu alcance para impor o toque de recolher e prender todos os criminosos", informou em nota o ministro das Finanças do Haiti, Patrick Boivert, que atua como primeiro-ministro interino.

Ataques a instituições

Em menos de duas semanas, várias instituições foram atacadas por gangues em ações cada vez mais coordenadas contra alvos antes impensáveis, como a sede do Banco Central. Na última quinta-feira, quatro policiais morreram nos ataques.

Tiros foram ouvidos em vários bairros da capital. Redes de internet ficaram fora de serviço após a maior empresa do país relatar que uma conexão de cabos de fibra ótica foi cortada durante os distúrbios.

Após ataques a tiros ao aeroporto internacional do país, na semana passada, a embaixada dos Estados Unidos anunciou a suspensão de todas as viagens oficiais ao Haiti e alertou os cidadãos americanos para que deixassem o país o mais rápido possível. Todos os compromissos consulares na embaixada foram cancelados até a próxima quinta-feira.

O premiê Henry se encontra fora do país desde a semana passada. Ele viajou ao Quênia para pedir o envio de uma força de paz internacional apoiada pela ONU, a ser chefiada pelo país africano.

Premiê pede envio de missão internacional

O Conselho de Segurança da ONU aprovou em outubro passado o envio de uma missão internacional ao Haiti. O governo queniano concordou em liderá-la, mas a decisão ainda é alvo de disputa na Justiça do país. Em janeiro, um tribunal declarou ilegal o envio de tropas à nação caribenha.

Na sexta-feira, em Nairobi, Henry assinou um acordo com o presidente queniano, William Ruto, sobre o envio da força militar. O líder queniano relatou que ambos discutiam os próximos passos para acelerar a medida, embora não haja garantias de que o acordo poderá se impor à decisão da Justiça.

Segundo a ONU, a polícia haitiana possui apenas 9 mil membros com a missão de dar segurança a uma população de 11 milhões. A força policial é rotineiramente superada pelas facções criminosas, que, segundo estimativas, controlam 80% de Porto Príncipe.

O governo dos EUA, que se recusou a enviar tropas para uma possível força-tarefa internacional no Haiti, se limitou a transferir recursos financeiros e apoio logístico. Após os últimos acontecimentos, Washington informou que acompanha com preocupação a situação de segurança na nação caribenha.

Instabilidade política

Henry, neurocirurgião de formação, rejeitou vários pedidos por sua renúncia e adiou diversas vezes a realização de eleições parlamentares e presidenciais, que não ocorrem desde 2016. Desde então, a Presidência do país continua vaga.

Os críticos o acusam de ignorar um acordo político sob o qual ele deveria ter cedido o poder a autoridades eleitas até a data de 7 de fevereiro deste ano.

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