Guerra na Ucrânia: Zelensky quer mais armas da Alemanha

Planejada cúpula de solidariedade à Ucrânia com o presidente dos EUA, Joe Biden, foi cancelada. Em vez do encontro, o presidente ucraniano está visitando Londres, Paris, Roma e Berlim

Por Deutsche Welle

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia
Ukrainian Presidential Press Service/Handout via REUTERS

O plano de reunir nações apoiadoras da Ucrânia na base aérea americana de Ramstein, na Alemanha, serviria como uma simbologia poderosa.

Pela primeira vez desde que a invasão total da Rússia na Ucrânia começou, em fevereiro de 2022, chefes de Estado e de governo queriam se reunir a convite e na presença do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Esse encontro foi planejado para acontecer pouco antes da eleição presidencial americana, cujo resultado certamente terá impacto decisivo no apoio à Ucrânia. No entanto, Biden cancelou a reunião em cima da hora devido ao furacão Milton.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky teve então que viajar para Londres, Paris e Roma separadamente e, nesta sexta-feira (11/10), chega a Berlim.

Zelensky já havia apresentado seu "plano de vitória" em Washington. A estratégia foi recebida com pouco entusiasmo na época, em parte por apresentar poucas novidades. Segundo a imprensa americana, o líder ucraniano voltou a exigir mais ajuda militar e pediu permissão para disparar armas ocidentais de longo alcance contra alvos na Rússia – o que Biden recusou novamente.

O chanceler alemão Olaf Scholz, alinhado a Biden no apoio à Ucrânia, disse que, mesmo que Washington desse esse aval à Ucrânia, ele próprio se recusaria a fazê-lo. "Não faremos isso e temos boas razões para tanto", disse Scholz.

Zelensky enfrenta, portanto, o ceticismo de seus aliados mais importantes. "Infelizmente, é preciso perceber que estamos atualmente em uma fase em que muitos dos parceiros da Ucrânia, especialmente os grandes, estão apenas repetindo o que já anunciaram. Nada de decisivo está sendo acrescentado em termos de qualidade ou quantidade", disse o especialista em segurança Nico Lange à DW.

Johann Wadephul é porta-voz de política externa do principal partido de oposição da Alemanha, o Democratas Cristãos (CDU), de centro-direita, que atualmente lidera as pesquisas de opinião um ano antes das eleições gerais da Alemanha. Ele criticou Scholz por não estar fazendo o suficiente.

Wadephul disse à DW que considera um erro a recusa contínua de Scholz em fornecer mísseis de cruzeiro Taurus à Ucrânia. "Há muito tempo o governo alemão já deveria ter fornecido armas de longo alcance, como o Taurus, e, acima de tudo, permitido que a Ucrânia atingisse alvos militares em solo russo, de acordo com a lei internacional, para poder se defender de forma eficaz. Os parceiros esperam que a Alemanha demonstre iniciativa e liderança nesse aspecto."

Ucrânia na defensiva

A situação na zona de guerra não parece boa para a Ucrânia. As autoridades militares ucranianas admitem que suas forças armadas estão sob forte pressão nas frentes leste e sul.

Não se fala mais em um ponto de virada, como foi o caso de algumas semanas atrás, com o avanço ucraniano na região russa de Kursk. Pelo contrário: o Exército ucraniano está agora na defensiva. No início de outubro, o comando da corporação anunciou que havia se retirado da cidade de Vuhledar, no leste do país, que estava em conflito desde o início da guerra.

Mas Lange, especialista em segurança, tem uma visão mais otimista da situação. "A Rússia não está atingindo seus objetivos. Embora esteja progredindo em Donbas, está muito longe de tomar toda a região em 2024. A Rússia também não liberou a região de Kursk. Portanto, não seria muito difícil para a Ucrânia pressionar a Rússia", acredita.

Lange pondera que os aliados da Ucrânia carecem de determinação e também de um plano sobre o que exatamente querem alcançar com seu apoio. Muitos acreditam no "mito de que a Rússia é infinitamente forte", acrescentou.

Partidos populistas na Alemanha contra ajuda à Ucrânia

O cansaço da guerra e o medo de um confronto direto com a Rússia estão se espalhando entre os aliados ocidentais da Ucrânia. Isso também se refletiu nos recentes resultados das eleições em alguns países europeus.

Na Alemanha, os partidos que querem acabar com a ajuda armamentista à Ucrânia obtiveram ganhos significativos em três eleições estaduais em setembro: a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita, e a recém-fundada Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), um partido que combina políticas econômicas de esquerda com viés conservador e iniciativas de política externa pró-Rússia.

Os líderes regionais da CDU e os social-democratas (SPD) de centro-esquerda do próprio Scholz também começaram a pedir ao governo alemão que leve a Rússia à mesa de negociações.

Em respota, Scholz parece ter mudado um pouco seu tom e agora enfatiza a necessidade de explorar as possibilidades de paz. Para demonstrar que tem disposição para mediar, ele recentemente tentou entrar em contato com o presidente russo, Vladimir Putin, por telefone, o que aparentemente foi rejeitado pelo Kremlin.

O impacto das eleições nos EUA

Ainda mais importante para a Ucrânia do que tudo o que está acontecendo na Alemanha é a próxima eleição presidencial americana. Os EUA são, de longe, o mais importante apoiador militar de Kiev.

O candidato do Partido Republicano, Donald Trump, disse durante a campanha eleitoral que os EUA deveriam "sair" da Ucrânia e acusou Zelensky de se opor a um "acordo" com Putin para acabar com a guerra. A vice-presidente Kamala Harris, por outro lado, quer manter o apoio à Ucrânia caso vença a disputa à Casa Branca.

Não está claro o que Trump realmente faria se ganhasse, disse Lange, acrescentando que o ex-presidente é imprevisível.

"Não se pode dizer que, se Harris vencer, tudo ficará bem, porque, embora o governo Biden estivesse na vanguarda do apoio à Ucrânia, ele também tem grande responsabilidade por sua hesitação e lentidão em agir", acrescentou.

De qualquer forma, o fato de os europeus não conseguirem – ou não quererem – organizar uma cúpula de solidariedade com a Ucrânia depois do cancelamento de Biden é um mau sinal por si só, mostrando o quanto eles dependem da liderança americana nessa questão.

Autoridades americanas disseram que a cúpula com Biden como anfitrião em Ramstein será realizada em uma data posterior. A única questão é quando. O tempo está se esgotando antes das eleições nos EUA em 5 de novembro.

Autor: Christoph Hasselbach

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