Um grupo paramilitar que lutava pela Rússia na Guerra da Ucrânia se rebelou contra o exército de Vladimir Putin e deu início a uma crise militar em Moscou. Algumas horas depois da escalada da crise, Yevgeny Prigozhin, líder do grupo de mercenários Wagner, chegou a um acordo intermediado por Belarus para deter o avanço rebelde em direção à Moscou.
Prigozhin havia declarado abertamente que está em uma campanha contra a cúpula do exército russo. Os milicianos fizeram movimentos de cerco na cidade de Rostov, próxima à fronteira com a Ucrânia, com várias imagens de passagens de veículos militares na cidade russa, com mais de um milhão de habitantes. Aparentemente, os soldados não encontraram resistência inicial.
A agência Reuters reporta que instalações militares de Voronezh, a 600 km de Moscou, também ficaram sob controle dos rebeldes, que detiveram a investida a cerca de 200km da capital
O Kremlin reforçou a segurança nos arredores de Moscou e na capital, com tanques e bloqueios podendo ser vistos na região da Praça Vermelha. O prefeito Sergei Sobyanin pediu aos moradores que evitem sair de suas casas por conta da “operação antiterrorista”.
Horas depois do levante, o presidente Putin fez pronunciamento à nação onde criticou a revolta e prometeu “punições duras”. O líder enfrenta a primeira real ameaça ao seu governo em 23 anos.
"Qualquer ação que dívida nossa nação é essencialmente uma traição ao nosso povo, aos nossos companheiros de armas que agora estão lutando na linha de frente. Isso é uma facada nas costas do nosso país e do nosso povo”, discursou o líder russo, que chegou a comparar a situação à Guerra Civil russa de 1917, que culminou na consolidação do regime comunista.
A crise começou após desentendimentos entre o grupo paramilitar e o exército russo, onde o líder do grupo Wagner faz críticas abertas ao ministro da Defesa, Serguei Choigu.
O estopim foi na noite desta sexta (23), quando Prigozhin disse que o ministério da Defesa atacou um acampamento do grupo Wagner e que muitos de seus combatentes morreram. Horas antes do suposto ataque, o líder do pelotão mercenário divulgou um vídeo no qual afirmou que a invasão militar russa ao território ucraniano era “baseada em mentiras”. Na retaliação, Prigozhin afirmou que derrubou um helicóptero russo e que suas forças, que estavam na Ucrânia, começaram a invadir a Rússia.
O FSB, serviço de segurança russa, abriu processo sobre o levante, acusando o líder da milícia de motim armado.
Prigozhin e o grupo paramilitar Wagner
O grupo Wagner é uma organização privada paramilitar com ligações com o governo russo. Eles surgiram em 2014, quando ajudaram as tropas russas a anexar a região da Crimeia, que é território ucraniano. Desde então, os mercenários apoiaram o exército russo em conflitos e guerras civis, incluindo a invasão da Ucrânia, em 2022. Entre os apoios na invasão, o grupo esteve envolvido na tomada da cidade ucraniana de Bakhmut, na batalha mais longa e sangrenta do conflito.
O crescimento de sua milícia desde 2014 foi evidente, com seus homens atuando com anuência do governo russo na região ucraniana do Donbass e em países como a Síria, Líbia e República Centro-Africana, entre outros.
O líder, Yevgeny Prigozhin, de 62 anos, é um oligarca russo e ex-prisioneiro da União Soviética nascido em São Petersburgo. Ele foi detido à época acusado de roubos e furtos.
Chef de cozinha, Prigozhin começou sua ascensão vendendo cachorro-quente, evoluindo para ter uma rede de supermercados e restaurantes de luxo ainda na década de 1990, após deixar a prisão. O relacionamento com a elite em São Petersburgo o colocou no trajeto de Putin - ele ficaria conhecido posteriormente como “chef de Putin”. A relação próxima com o mandatário, também nascido na cidade, fez com que passasse a fornecer alimentação para o Kremlin, oferecendo refeições para líderes mundiais.
Posteriormente, o agora poderoso empresário esteve ligado à criação da milícia, em 2014. Atualmente, estima-se que haja mais de 50 mil soldados do grupo Wagner e que cerca de 20 mil estejam combatendo na Ucrânia.
O grupo, que tem boa parte de seus mercenários recrutados em prisões, é frequentemente acusado de violações contra os direitos humanos em campos de batalha, como torturas.
Prigozhin também é procurado pelo FBI, acusado de ajudar a fraudar as eleições presidenciais americanas de 2016, vencidas por Donald Trump.