Em sua primeira entrevista a jornalistas desde os ataques terroristas do Hamas contra Israel de 7 de outubro, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou neste sábado (28/10) que a guerra na Faixa de Gaza entrou em sua segunda fase com a expansão das operações militares por terra.
"A guerra dentro de Gaza será longa", acrescentou, referindo-se à investida como a "segunda guerra de independência", uma referência ao conflito deflagrado em 1948 após países árabes rejeitarem o plano das Nações Unidas que definiu a criação de um Estado palestino e outro israelense.
O objetivo, segundo Netanyahu, é destruir as capacidades militares e o controle que o grupo radical islâmico Hamas exerce sobre o território palestino, bem como resgatar os mais de 200 reféns sequestrados no início do mês.
De acordo com o premiê, a decisão de expandir as operações por terra foi aprovada em caráter de unanimidade pelo governo de emergência, que inclui membros da oposição.
Indagado sobre possíveis erros das autoridades israelenses envolvendo o 7 de outubro, Netanyahu respondeu que o assunto será tratado quando a guerra tiver acabado. "Todos nós, inclusive eu, teremos que dar respostas para perguntas difíceis", disse. "Agora, minha missão é salvar o país."
Quem acusa Israel de crimes de guerra é hipócrita, diz Netanyahu
O premiê acusou o Irã de bancar "90%" dos gastos militares do Hamas, e disse que derrotar o grupo é um "desafio existencial" e que quem acusa os israelenses de cometerem crimes de guerra são "hipócritas". "Conclamei os civis em Gaza a evacuar para o sul da faixa. O inimigo, de forma cínica, usa hospitais como abrigo. Israel está lutando uma batalha por humanidade contra bárbaros."
Países do Ocidente têm em geral apoiado o direito de Israel à autodefesa, mas parte da comunidade internacional acompanha com preocupação a escalada do conflito e teme que o saldo de vítimas cresça à medida em que a situação humanitária em Gaza se agrava sob o fogo cruzado – são pelo menos 1.400 mortos no lado israelense; no palestino, outros mais de 7.000, segundo dados do Ministério da Saúde, que é controlado pelo Hamas.
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou na sexta, por ampla maioria, uma resolução que pede uma trégua humanitária imediata para garantir a assistência de civis palestinos.
Ao contrário das resoluções do Conselho de Segurança – onde quatro tentativas anteriores de abordar o conflito falharam –, os textos aprovados pela Assembleia Geral não têm caráter vinculativo, mas têm peso político, refletindo a opinião global à medida que Israel intensifica as operações em Gaza.
Parentes de reféns endossam acordo para troca mútua de prisioneiros entre Israel e Hamas
Mais cedo, o primeiro-ministro se reuniu com familiares dos reféns do Hamas. Deles, ouviu apoio a uma proposta para troca de todos os prisioneiros – do lado israelense e também palestino – e o pedido de não fazer nada que possa pôr as vidas deles em risco, conforme noticiou o jornal israelense Haaretz.
Apreensivos com o desenrolar do conflito, eles receiam que uma invasão inviabilize as negociações – o Hamas ameaça matá-los, e alega, sem fornecer provas, que 50 já foram mortos em bombardeios israelenses.
Um acordo nos mesmos termos foi proposto por um porta-voz do grupo em um anúncio televisionado por uma emissora de Gaza controlada pelo grupo, pedindo a libertação de todos os palestinos detidos em Israel, que somam cerca de 4.500.
O governo israelense aposta na intensificação das investidas contra o Hamas em Gaza a fim de forçar a entrega dos reféns.
Para o ministro da Defesa, Yoav Gallant, as chances de chegar a um acordo aumentarão enquanto os militares exercerem "pressão". "Não será uma guerra curta. Devemos ser pacientes", acrescentou, ecoando as falas de Netanyahu.
"Os objetivos desta guerra demandam uma operação por terra", argumentou mais cedo o chefe do Estado-Maior, Herzi Halevi. "Para expor e destruir o inimigo, não há outra saída a não ser entrar em seu território usando a força."
Israel não comenta apagão nas telecomunicações em Gaza
Porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari não quis responder sobre uma eventual responsabilidade das Forças Armadas do país pelo apagão nos serviços de internet e telefonia em Gaza.
Informações vindas da região escassearam desde a intensificação dos bombardeios, na noite anterior, ao ponto de deixar organizações humanitárias e redações sem contato com suas equipes.
Segundo relatos publicados pela emissora pública britânica BBC, alguns têm conseguido acessar a internet usando chips estrangeiros nas fronteiras da Faixa de Gaza.
"Fazemos o que temos que fazer para dar segurança às nossas forças por quanto tempo for necessário, temporária ou permanentemente, o quanto precisarmos, e não vamos dizer mais nada sobre isso", afirmou Hagari à agência de notícias Reuters.
ra (dpa, Reuters, AFP, ots)