A guerra que vai se estendendo há um ano pelo Oriente Médio chegou agora à sua origem, o Irã, o patrocinador do Hamas, do Hezbollah, dos Houthis e de milícias no Iraque e na Síria.
A próxima volta da espiral, com a ponta inicial em Gaza, dependerá de Israel, que recebeu a bênção dos Estados Unidos para retaliar diretamente no território iraniano – uma oportunidade que esperava há décadas.
Como e quando será a retaliação?
A maioria dos 181 mísseis balísticos disparados pelo Irã foi interceptada. Os poucos que escaparam ao escudo antiaéreo israelense-americano-jordaniano destruíram uma escola em Hedera, abriram crateras perto de duas bases aéreas no Neguev, chegaram perto do Mossad e da sede da inteligência militar ao norte de Tel Aviv, e mataram um palestino em Jericó. Vinte milhões de israelenses passaram meia hora em abrigos ou deitados em estradas e ruas, as mãos na cabeça.
Nesta quarta-feira, 40 mísseis do Hezbollah miraram Tzfat, ou Safed, a capital cabalística de Israel, perto do Líbano. Os soldados israelenses cruzaram a fronteira e estão avançando em direção ao rio Litani. Os combates são intensos. Túneis e arsenais foram descobertos.
“Israel fará o melhor para ser desproporcional”, declarou o general Wesley K. Clark, ex-comandante da OTAN, em Washington. A Casa Branca quer, porém, que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu seja proporcional. Dentro de um bunker escavado numa montanha perto de Jerusalém, o governo israelense acompanhou a tempestade de mísseis riscando o céu e tomou decisões, ainda não executadas.
A retaliação será “significativa”, apostou o repórter bem-informado israelense Barak Ravid, analista da CNN. “Todas as opções estão sobre a mesa”, ele lembrou. Quer dizer que os alvos podem ser usinas nucleares, onde está nascendo a bomba atômica iraniana, ou terminais de petróleo — ou, ainda, alguns assassinatos seletivos, como o de Hassan Nasrallah ou de líderes do Hezbollah, no Líbano, e de Ismail Haniye, em Teerã.
O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, já está sob proteção e cuidados maiores contra atentados. Israel mostrou que seus espiões estão profundamente infiltrados no Irã, depois de assassinar vários cientistas de seu programa nuclear e de roubar cofres com documentos secretos.
Durante a reunião na caverna da montanha em Jerusalém, Netanyahu teria dito a seus ministros: “O regime do Irã não entende a nossa determinação de nos defender e nossa determinação de retaliar nossos inimigos. Eles entenderão. Quem nos atacar, nós o atacaremos”.
O ex-embaixador de Israel nos Estados Unidos, Michael Oren, deu entrevistas a vários jornais e tevês depois da chuva dos mísseis iranianos. O que ele disse, e que é o sentimento generalizado israelense, é que a guerra que começou em Gaza, ano passado, e chegou ao Irã, agora, é um outro capítulo da luta pela sobrevivência que começou com a criação do estado de Israel, em 1948.
“Estamos em guerra pela nossa sobrevivência nacional. Vencer é o dever para uma nação criada nas consequências do Holocausto”.
Esta noite começa o ano de 5785, pelo calendário hebraico. Uma televisão israelense exibiu cenas de quem se tornou refém do Hamas festejando o 5784, ano passado. Este é o clima nacional: sombrio. O céu iluminado pelos mísseis balísticos iranianos lembra cartões de boas festas, mas são o contrário, ameaçadores. Há pouca decoração nas ruas, pouca gente, nenhuma comemoração, muitos reservistas convocados para a guerra — do Hamas para o Hezbollah, Houthis e, agora, o Irã.
A liturgia do Rosh Hashanah (Ano Novo), explica o rabino Rick Jacobs, presidente da União pelo Judaísmo Reformista, inclui a pergunta: “Quem viverá e quem morrerá (no próximo ano)”. Para ele, “isso vai soar de forma diferente este ano”.