“Guerra Civil” interna de Israel é adiada por decisão da Suprema corte

Já a guerra externa de Israel, porém, cresceu neste sábado, depois de uma primeira chuva de foguetes do Líbano desde dezembro

Por Moises Rabinovici

“Guerra Civil” interna de Israel é adiada por decisão da Suprema corte
Israel vive dias de tensão
Reuters

A iminente guerra civil em Israel, anunciada pelo jornal francês Libération deste sábado, ganhou uma trégua até 10 de abril, decretada pela Suprema Corte de Justiça, que congelou o seu último estopim: a demissão do chefe do Shin Bet, a espionagem interna israelense, Ronen Bar, pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. 

A guerra externa de Israel, porém, cresceu neste sábado, depois de uma primeira chuva de foguetes do Líbano desde dezembro. Foram seis foguetes — três interceptados e três que não cruzaram a fronteira sul-libanesa. Houve também um míssil balístico disparado pelos Houtis, no Iêmen, que se revelou um fiasco: caiu na Arábia Saudita, sem ligar as sirenes de alarme israelenses.

Os seis foguetes libaneses são um mistério: não têm dono até agora, anoitecendo no Oriente Médio. O Hezbollah, o principal suspeito, disse que não foi ele. “Reiteramos nosso compromisso com o cessar-fogo e apoiamos o Líbano na reação a essa perigosa escalada sionista”. As forças israelenses responderam com fogo de artilharia e a aviação, nas colinas Hamames e na cidade de Khiam, em Nabatieh. Foram cerca de 200 ataques, incluindo os de sexta-feira contra bases aéreas do antigo regime sírio de Bashar al-Assad, a T4 e a de Palmyra, na região central da Síria.

O maior dano causado pelos foguetes anônimos do Líbano foi o de reavivar o temor dos moradores de que permanecem inseguros em suas cidades fronteiriças, principalmente em Metula e Kiryat Shmona. 

Cerca de 60 mil habitantes fugiram dos foguetes do Hezbollah, diários, a partir de 8 de outubro de 2023, um dia depois da invasão do Hamas que matou 1.200 israelenses, e muitos ainda não voltaram, esperando a estabilização do cessar-fogo. Prefeitos da região questionaram o general Ori Gordin, do Comando Norte, que declarou, faz poucos dias, que não via por que os refugiados não retornavam às suas casas. “Você ainda acha isso?” — quiseram saber.

O prefeito de Metula, David Azulay, declarou que não vai permitir “a normalização dessa situação”, a de cessar-fogo interrompido por foguetes. “Isso é um fracasso, é a política de contenção que existia antes de 7 de outubro”. 

Mas não só os israelenses protestaram. O primeiro-ministro libanês Nawaf Salam não gostou dos disparos dos foguetes, que podem “arrastar o Líbano à uma nova guerra”. Afinal, o Líbano tem agora um governo livre da pressão e opressão do Irã e da Síria, exercidas pelo Hezbollah.

“Todas as medidas de segurança e militares devem ser tomadas para mostrar que o Líbano decide sobre questões de guerra e da paz”, disse Salam. O exército libanês informou ter encontrado e desmantelado as rampas de lançamento dos seis foguetes.

Fim do Shabat, ao anoitecer do sábado, as ruas de Israel foram tomadas por manifestantes protestando contra a demissão do chefe do Shin Bet, Ronen Bar, barrado por liminar da Suprema Corte, e do próximo ameaçado de demissão pelo primeiro-ministro Netanyahu, talvez neste domingo, a procuradora-geral Gali Baharav-Miara.

Muitos manifestantes conclamaram uma greve geral, apoiados pelo líder do partido Os Democratas e pelo chefe da oposição, os dois Yair — um Golan e outro Lapid. O Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos exigem a libertação dos 25 reféns vivos ainda com o Hamas, em Gaza. E todos querem novas eleições. 

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu resiste. Tentou afastar na sexta-feira, e não o conseguiu, ainda, o chefe do Shin Bet, Ronen Bar, que está investigando um escândalo no coração do governo, o Catargate, já com dois funcionários do alto escalão já presos. Ele quer submeter a Justiça ao poder executivo — logo ele, que responde por três processos de corrupção em andamento. 

Desafia a Lei como se fosse o presidente Donald Trump. Também vetou uma comissão de inquérito independente sobre a falha que permitiu a invasão do Hamas em 7 de outubro, e que, certamente, o indiciará como seu principal responsável. 

E retornou à guerra em Gaza, que lhe garante a sobrevivência política, ao trazer para a coligação os votos dos extremistas e ultranacionalistas do partido Poder Judeu, do ministro Itamar Ben-Gvir, que renunciou na trégua de janeiro e agora foi reinstalado no governo, irregularmente.

Os jornais online israelenses mostravam na noite de sábado impressionantes multidões em vários pontos de Israel. E publicavam os discursos de reféns libertados, de familiares de reféns cativos e de líderes políticos. A manchete do jornal Libération está correta: Israel está à beira de uma guerra civil.

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