Guerra ao Terror após o 11 de setembro foi o grande erro da política externa dos EUA, avalia embaixador

Diplomata Sérgio Florêncio relembra a reação aos atentados no Palácio do Planalto e avalia o impacto da invasão ao Afeganistão na política externa norte-americana

Da redação, com BandNews TV

O embaixador Sérgio Florêncio lembra-se bem da manhã do dia 11 de setembro de 2001. Então funcionário da Secretaria de Comunicação do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o diplomata contou que, no Palácio do Planalto, as pessoas chegaram a pensar que o impacto do segundo avião na Torre Norte do World Trade Center era uma reprise do primeiro atentado, ocorrido minutos antes.

“Foi uma grande confusão naquele dia. Tinha gente que dizia: é videotape do atentado. Afinal, houve um atentado quase que imediatamente parecido ao anterior. Outros diziam que era verdade, ao vivo. Ninguém poderia acreditar naquilo. Realmente foi muito marcante”, comentou em sua participação no programa Mapa Mundi, da BandNews TV.

Na avaliação de Florêncio, a reação norte-americana aos atentados de 11 de setembro de 2001 foi “talvez um dos maiores erros de sua história política recente”.

Galeria de Fotos

Retrospectiva 11 de setembro de 2001
1/27

05h45 - Terroristas armados passaram pelo sistema de segurança de aeroportos americanos. Os sequestradores Mohamed Atta (à direita) e Abdul Aziz al-Omari (ao centro)Reprodução 9/11 Memorial.Org /Cortesia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
07h35 - Cinco terroristas passaram pelo controle de segurança do Aeroporto Internacional Washington Dulles com destino também à Los Angeles, CalifórniaReprodução 9/11 Memorial.Org /Cortesia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
07h59 - Partindo de Boston, o voo 11 da American Airlines decola. Nele estavam: 11 tripulantes, 76 passageiros e cinco sequestradores. Mapa de assentos mostra, em laranja, as poltronas dos sequestradores Reprodução 9/11 Memorial.Org /Ilustração cortesia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
08h19 - A comissária de bordo Betty An Ong entra em contato com a American Airlines sobre o sequestro do voo. Minutos antes, o passageiro Daniel Lewin foi esfaqueado por, provavelmente, Satam al-Suqami --a primeira vítima do ataque.Reprodução 9/11 Memorial.Org /Cortesia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
08h20 - Voo 77 decola do Aeroporto de Washington Dulles com seis tripulantes, 53 passageiros e cinco sequestradores. Mapa de assentos mostra, em laranja, as poltronas dos sequestradores Reprodução 9/11 Memorial.Org /Ilustração cortesia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
08h20 - Grupo que ia para uma conferência do National Geographic Society e embarcou no voo 77Reprodução 9/11 Memorial.Org /Fotógrafo desconhecido, cortesia da National Geographic.
08h42 - Voo 93 decola com atraso do Aeroporto Internacional de Newark, em Nova Jersey, para San FranciscoReprodução 9/11 Memorial.Org /Ilustração cortesia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
08h46 - Boeing 767 é lançado contra os andares 93 a 99 da Torre Norte do World Trade Center. Além dos passageiros, centenas de pessoas que estavam nos setes andares também morreramReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, Arquivo Roberto Rabanne, fotografia de Roberto Rabanne.
08h46 - Boeing 767 é lançado contra os andares 93 a 99 da Torre Norte do World Trade Center. Além dos passageiros, centenas de pessoas que estavam nos setes andares também morreramReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção do 9/11 Memorial Museum, presente de Nicholas Kornfeld
08h46 - Nas zonas de impacto estavam empresas como a Marsh & Mclennan, onde morreram 354 funcionários; a Cantor Fitzgerald, nos andares 101 a 105, teve o maior número de óbitos do acidente: 706 pessoasReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, Arquivo Roberto Rabanne, fotografia de Roberto Rabanne.
09h00 - Brian David Sweeney, passageiro do voo 175, deixa uma mensagem de voz para sua esposa, Julie, e liga para a sua mãe relatando o sequestroReprodução 9/11 Memorial.Org /Cortesia do Departamento de Justiça dos EUA.
09h03 - Voo 175 da United Airlines é lançado contra os andares 77 a 85 na Torre Sul do World Trade Center. Na imagem, o momento em que o avião se aproxima para colidir com o edifícioReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, fotografia de Kelly Guenther.
09h03 - O impacto na segunda torre destrói duas das três escadas de emergência e corta a maioria dos cabos de elevador, deixando pessoas presas. Outras centenas de pessoas nos andares acima da zona de impacto ficaram presasReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, Arquivo Roberto Rabanne, fotografia de Roberto Rabanne.
09h37 - Voo 77 da American Airlines é lançado contra o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA. A colisão e o incêndio posterior mataram 125 militares e civis no solo, além dos passageiros e tripulantes Reprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção do 9/11 Memorial Museum, presente de BlindSpot News / Bob Pugh.
09h58 - Ao menos 37 ligações telefônicas foram feitas a partir do voo 93. Mark Bingham é um dos passageiros que consegue ligar para sua mãe, Alice HoaglandReprodução 9/11 Memorial.Org /Cortesia do Departamento de Justiça dos EUA.
09h59 - Depois de queimar por 56 minutos, a Torre Sul desabou totalmente em 10 segundos. Mais de 800 civis e socorristas dentro e ao redor do edifício morreram na quedaReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, Arquivo Roberto Rabanne, fotografia de Roberto Rabanne.
09h59 - Uma nuvem de fumaça invadiu as ruas de Nova York com escombros da queda da Torre Sul. A imagem foi feita por turistas que visitavam a cidadeReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção do 9/11 Memorial Museum, presente de Carl Tjerandsen.
10h03 - O vôo 93 caiu em um campo perto da cidade de Shanksville, no condado de Somerset, na Pensilvânia. Passageiros e a tripulação invadiram a cabine de controle onde estavam os sequestradores. Todos morreram na queda.Reprodução 9/11 Memorial.Org /Cortesia do Departamento de Justiça dos EUA.
10h15 - Área da fachada oestes do Pentágono atingida pelo voo 77 desabaReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção do 9/11 Memorial Museum, presente do fotógrafo Michael Garcia.
10h28 - Torre Norte do World Trade Center desabou depois de queimar por 102 minutosReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção do 9/11 Memorial Museum, presente de John F. O’Sullivan, Jr.
10h28 - Mais de 1.600 pessoas morreram no ataque da Torre NorteReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção do 9/11 Memorial Museum, presente de John F. O’Sullivan, Jr.
11h02 - Prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, pede que a população deixe a região da Baixa ManhattanReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, Arquivo Roberto Rabanne, fotografia de Roberto Rabanne.
11h03 - Poeira da queda das Torres Gêmeas toma o céu de ManhattanReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, Arquivo Roberto Rabanne, fotografia de Roberto Rabanne.
12h30 - Grupo de 14 sobreviventes é encontrado nas ruínas de uma escadaria da Torre Norte, sendo 13 socorristas e um civilReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, fotografia deYasuhide Joju, presente de Here is New York.
13h00 - Queda das Torres Gêmeas começa a ser tratada como Marco Zero, expressão usada para uma região na terra onde aconteceu uma explosãoReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção do 9/11 Memorial Museum, presente de John F. O’Sullivan, Jr.
15h00 - O Corpo de Bombeiros de Nova York encontrou um sobrevivente nos escombros da Torre Norte. Pasquale Buzzelli, funcionário da autoridade portuária, se encolheu em posição fetal no momento do desabamentoReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, Arquivo Roberto Rabanne, fotografia de Roberto Rabanne.
17h20 - Edifício 7 do World Trade Center colapsa devido ao incêndio descontrolado ao seu redorReprodução 9/11 Memorial.Org /Coleção 9/11 Memorial Museum, Arquivo Roberto Rabanne, fotografia de Roberto Rabanne.

“Transformar a resposta a esse atentado como o eixo central da política americana, com a chamada Guerra ao Terror, foi o grande erro da política externa dos EUA, que gerou muitas consequências”, afirmou o diplomata.

Sérgio Florêncio era diplomata em Teerã em 1979 e testemunhou a Revolução Iraniana. Acompanhou de perto também a invasão soviética do Afeganistão e o rompimento das relações entre Brasil e Afeganistão no mesmo ano.

Florêncio lembra que o atentado de 11 de setembro de 2001 nos EUA e a invasão do Afeganistão seriam os dois acontecimentos mais marcantes na política externa dos EUA nos anos recentes. “É aquilo que podemos chamar de dois pontos de inflexão no curso da história e da geopolítica mundial”, disse.

“O atentado marcou uma grande mudança de rumo da política externa norte-americana. Na verdade, o [ex-presidente George W.] Bush foi eleito com uma plataforma de governo mais armamentista, o que contrastava muito com o [ex-presidente Bill] Clinton, que foi o presidente da conciliação e da globalização, de um tempo em que os Estados Unidos não se afirmavam pelas armas, mas pelo êxitos, pelos benefícios gerados pela globalização econômica”, explica o embaixador.

Vídeo: o testemunho de quem sobreviveu ao atentado

Além da plataforma armamentista de Bush, o diplomata acredita que reação dos EUA foi, de certa forma, algo natural. 

“Foi uma agressão monumental aos Estados Unidos, um atentado em território americano com 3 mil mortos. Os americanos têm essa ideia de que eles participaram das duas grandes Guerras Mundiais, participaram da Guerra da Coreia, de diversas intervenções [militares]. Mas todas fora de solo americano. Então o 11 de setembro foi interpretado como uma afronta transcendental ao país e, portanto, precisava uma resposta forte.”

O diplomata avalia também que a Guerra ao Terror, com a invasão do Afeganistão, trouxe consequências desastrosas. "Na verdade, o atentado às Torres Gêmeas gerou uma coisa tão desastrosa para o mundo, sobretudo para o Oriente Médio, e muito desastrosa para a política norte-americana que foi invasão do Iraque em 2003”.

“Bush, com esse delírio de transformar a Guerra ao Terror no eixo central da política norte-americana, gerou a ideia de que os Estados Unidos precisavam dominar todas as áreas de instabilidade do Oriente Médio. E aí os EUA invadem o Iraque alegando a existência de armas destruição de massa que nunca existiram”, lembra Florêncio.

Vídeo: os impactos da Guerra ao Terror contra o Oriente Médio

42 anos de conflitos no Afeganistão

Para o embaixador, o 11 de Setembro e a invasão do Afeganistão em busca do líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, não podem ser analisados de forma isolada.

“É preciso recuar um pouco no tempo para entender o sentido de tudo isso. Em dezembro de 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão. A retirada ocorre praticamente uma década depois, com a queda do muro de Berlim e o desmembramento da União Soviética em 1991. E aí vem uma guerra civil no Afeganistão, que faz com que grupos mujahedin e do Talibã, que é criado em 1994 durante essa guerra civil, se consolidassem. Em 1996, o Talibã assume o poder e ficaram no comando até pouco depois do atentado às Torres Gêmeas, caindo com a invasão dos EUA”, explica. 

“Então, na verdade, são 42 anos de um país em guerra. É uma das guerras mais longas da história da humanidade”, diz.

Tópicos relacionados

Mais notícias

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.