Guatemala pune ex-militar por massacre indígena durante ditadura

Justiça condenou coronel aposentado a 20 anos de prisão por morte de 25 pessoas da etnia Maya Achi, a maioria era de crianças; episódio ocorreu nos anos 80, na fase mais sangrenta do governo do general Montt.

Por Deutsche Welle

Responsabilizado por um massacre na Guatemala que vitimou 25 pessoas da etnia indígena Maya Achi, a maioria crianças, o coronel aposentado Juan Ovalle Salazar foi sentenciado a 20 anos de prisão nesta quinta-feira (25/08) pelo episódio ocorrido nos anos 80, período em que o país vivia uma ditadura e uma guerra civil.

Cabe recurso da decisão, proferida por um juíz da Cidade de Guatemala, que deu a Ovalle prazo de 10 dias a partir de 5 de setembro para contestá-la.

O episódio, ocorrido em 29 de julho de 1982 em Rancho Bejuco – assentamento em uma montanha ao norte da capital –, vitimou 17 crianças e adolescentes. Outras quatro mulheres estavam grávidas; os filhos que gestavam não fazem parte da contagem oficial de mortos.

Naquela época, o período mais sangrento da guerra civil guatemalteca (1960-1996), o país era governado pelo ditador e general Efrain Rios Montt, que chegou a ser condenado por genocídio em 2013 – a decisão, porém, acabou revertida em uma corte superior.

Preso desde 2016, Ovalle Salazar também responde por outro massacre em 1982 em Pambach que deixou 64 mortos, mas o caso se arrasta na Justiça.

O coronel aposentado compareceu à audiência desta quinta e permaneceu calado. Segundo a acusação, ele teria ordenado o massacre em retaliação à recusa dos moradores do assentamento em juntar-se às milícias criadas pelo Exército à época para manter a população sob controle – à época denominadas "patrulhas civis de autodefesa".

Oito réus inocentados

A Justiça guatemalteca inocentou outros dois ex-militares acusados de coordenar ações do Exército e das milícias, bem como seis ex-membros dessas patrulhas, por entender que os réus haviam agido por ordem de Ovalle Salazar, que os teria ameaçado de morte em caso de descumprimento. Um advogado das famílias das vítimas anunciou que pretende recorrer da decisão.

Que pessoas estejam sendo levadas a julgamento na Guatemala por crimes cometidos na guerra civil é resultado do esforço de sobreviventes e parentes dos assassinados: os corpos de Rancho Bejuco começaram a ser exumados em 1999, mas o julgamento só começou quase 14 anos mais tarde, em 2023.

ra/md (Reuters, ots)

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