O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes fez críticas nesta quinta-feira (8) à gestão de Eduardo Pazuello à frente do Ministério da Saúde, entre maio de 2020 e março de 2021.
Em entrevista ao Manhã Bandeirantes, apresentado por José Luiz Datena na Rádio Bandeirantes, o ministro classificou a gestão Pazuello frente à pandemia do novo coronavírus como “um desastre”.
O magistrado ainda afirmou que as Forças Armadas devem entender as críticas ao general com naturais e construtivas. Na véspera, em nota, os comandantes de Marinha, Exército e Aeronáutica, além do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, repudiaram a afirmação do senador Omar Aziz (PSD-AM) durante sessão da CPI da Pandemia, criticando o que chamou de “banda podre” das Forças.
“Nós não precisamos dizer que a gestão Pazuello foi um desastre. Isso está consolidado nesses quase 600 mil mortos. À medida que as pessoas assumem funções administrativas e políticas, têm que arcar as críticas que vêm deste processo. Por isso que me parece que se tem que se discutir se militares da ativa devem exercer funções político-administrativas”, afirmou.
“É neste contexto então que se colocam as críticas que estão aí. Acho que, de todos nós, se espera moderação, ponderação, mas é preciso que se faça autoavaliação e autocrítica”, completou.
Para Gilmar Mendes, o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se apoia em militares – o que pôde ser visto na nomeação de Eduardo Pazuello para comandar a Saúde.
“Eu tenho a impressão de que estamos vivendo uma situação muito peculiar. Eu já tinha a impressão de que o governo Bolsonaro seria um governo que lançaria mão de quadros dos militares, porque obviamente ele era um antigo quadro militar, e também não tendo um partido político organicamente desenvolvido e organizado, ele teria que buscar auxilio nas Forças Armadas”, analisou o ministro.
“O que aconteceu aqui no Ministério da Saúde, depois da indicação do (Luiz Henrique) Mandetta e depois do Nelson Teich, foi praticamente uma assunção por parte do general Pazuello e de outros quadros dos militares, muitos deles da ativa, e eles passaram a fazer, digamos, uma intervenção no âmbito da Saúde – um tema muito delicado, muito questionado do ponto de vista político.”
Voto impresso
Gilmar Mendes ainda questionou a defesa da impressão de votos, pauta defendida por apoiadores de Bolsonaro. O ministro citou o caso dos Estados Unidos, que usam o voto impresso – no país norte-americano, eleitores de Donald Trump questionaram o resultado das urnas após a derrota do republicano na eleição de 2020.
“A gente até esquece de dizer que era no voto manual que se faziam as fraudes – se não no próprio processo de votação, mas no mapismo, naquela contabilização dos votos. Agora se descobriu que o problema no Brasil seriam as urnas eletrônicas. Agora nesse episódio lamentável do Capitólio, tudo aquilo que ocorreu em torno do Trump, o debate não era sobre urnas eletrônicas, mas sobre contabilização dos votos manuais.”
Mendes ainda alfinetou Bolsonaro e lembrou que o hoje presidente foi eleito vereador no Rio de Janeiro (de 1989 a 1991) e deputado federal (de 1991 a 2019), antes de conquistar a Presidência da República (2018) sem questionar os sistemas eleitorais. Além disso, lembrou nomes que foram eleitos na esteira do bolsonarismo, mesmo repetindo as críticas dos apoiadores.
“Ele disputou mais de nove eleições e sabe que, de fato, o que se retrata nas pesquisas e depois na boca de urna se traduz na votação eletrônica. Eu até, em conversa com o presidente, brinquei dizendo: ‘Eu até tendo a aceitar a sua tese, porque quando vejo a bancada de seu antigo partido, o PSL, com (os deputados federais) Hélio Negão (RJ), com Daniel da Silveira (RJ, atualmente no PTB), eu acho que era impossível que eles fossem eleitos em um processo normal’. Mas eu entendo que, na eleição proporcional, tendo um bom puxador de voto, acaba se produzindo esse tipo de, vamos chamar assim, de milagre eleitoral.”