A gigante de chips taiwanesa TSMC aprovou nesta terça-feira (08/08) um investimento de 3,5 bilhões de euros para a construção de uma fábrica na cidade de Dresden, no leste da Alemanha.
Será a primeira fábrica da empresa na Europa e a terceira fora da China e de Taiwan – o que representa um grande passo nos esforços europeus para impulsionar a produção de semicondutores no continente.
O anúncio é também central para as ambições da Alemanha de fomentar a produção nacional de chips necessária para que sua indústria automobilística se mantenha globalmente competitiva.
"A Europa é um lugar altamente promissor para a inovação em semicondutores, particularmente nos campos automotivo e industrial, e estamos ansiosos para dar vida a essas inovações em nossa avançada tecnologia de silício com o talento da Europa", disse o presidente-executivo da TSMC, C. C. Wei.
Por sua vez, o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, afirmou que o investimento da gigante taiwanesa mostra que "a Alemanha é um local atraente e competitivo".
A TSMC é a maior fabricante de chips do planeta. A empresa está em negociações com o estado alemão da Saxônia, onde Dresden está localizada, desde 2021 para a construção da fábrica, que tem inauguração prevista para 2027.
Sua capacidade mensal de produção deverá ser de 40 mil wafers de 300 milímetros – um wafer é uma fatia fina de material semicondutor com a qual os chips são construídos. A chegada da empresa à Alemanha também deverá criar cerca de 2 mil empregos diretos.
Num mundo cada vez mais dependente da tecnologia, os chips são utilizados na fabricação de uma variedade enorme de produtos, desde computadores e smartphones a mísseis.
Como a fábrica alemã será financiada?
A fábrica em Dresden será construída pela TSMC em conjunto com a fabricante de autopeças Bosch e a fabricante de semicondutores Infineon, ambas alemãs, bem como com a holandesa NXP. O investimento total será de mais de 10 bilhões de euros.
A TSCM deterá 70% da joint venture, enquanto as outras empresas deterão 10% cada.
Segundo o jornal alemão Handelsblatt, a Alemanha concordou em contribuir para a construção com 5 bilhões de euros, que virão do chamado Fundo do Clima e da Transformação, voltando para financiar medidas de transição energética e proteção climática.
A Comissão Europeia tem a palavra final sobre esse tipo de financiamento subsidiário.
Por que a Alemanha quer fábricas de chips?
Em junho, a Alemanha assinou um acordo com a americana Intel que abriu caminho para a construção de duas fábricas de semicondutores na cidade de Magdeburg, no leste alemão.
À época, o chanceler federal Olaf Scholz disse que o investimento da Intel era o maior investimento estrangeiro direito na história da Alemanha. E Habeck, que também atua como vice-chanceler, descreveu o acordo como "uma importante contribuição para o crescimento da soberania europeia".
A pressão alemã faz parte de uma corrida europeia mais ampla para atrair fabricantes de semicondutores, a fim de melhor proteger suas cadeias de suprimentos. Isso ganhou força depois de as indústrias serem atingidas por escassez de semicondutores durante a pandemia.
Afetados também pela crise energética desencadeada pela guerra da Rússia na Ucrânia, a Alemanha e seus aliados estão correndo para cortar dependências de países como a China e aumentar a produção doméstica de componentes sensíveis.
A União Europeia (UE) já aprovou um plano de subsídios de 43 bilhões de euros com objetivo de dobrar sua capacidade de fabricação de chips até 2030, aumentando assim a participação europeia na produção global para 20%.
Hoje, fabricantes na China, Taiwan, Coreia do Sul e Japão detêm a maior produção mundial de chips.
Por que Dresden?
A cidade do leste da Alemanha e o estado da Saxônia têm sido o epicentro da produção de chips na Europa, uma marca que eles mantêm desde antes da Reunificação.
Atualmente, um em cada três semicondutores fabricados na Europa vem da Saxônia, segundo a associação industrial Silicon Saxony.
O aglomerado de tecnologia de semicondutores de Dresden teve um crescimento contínuo nas últimas duas décadas, atraindo bilhões de dólares em investimentos. São mais de 2.500 empresas, incluindo Infineon, Globalfoundries e Bosch, que empregam cerca de 76 mil funcionários na região.
Frank Bösenberg, diretor-gerente da Silicon Saxony, diz que é o "efeito cluster" que torna a região tão atraente para os fabricantes globais de chips. "Há uma grande quantidade de conhecimento disponível no campo e uma história rica", disse à DW.
A região também se beneficia da presença de importantes institutos de pesquisa e universidades, como a Fraunhofer e a Universidade Técnica de Dresden, uma das principais instituições técnicas da Alemanha.
ek (DW, Reuters, AFP, DPA)