Gafes ofuscam coletiva e põem mais pressão em Joe Biden

A entrevista foi ofuscada por troca de nomes em meio à discussão sobre se ele estaria em condições de assumir um segundo mandato

Por Deutsche Welle

O presidente dos EUA, Joe Biden, resistiu aos apelos para que desista da corrida presidencial nesta quinta-feira (11/07) numa coletiva de imprensa de cerca de uma hora de duração e concedida ao final da cúpula da Otan em Washington.

A entrevista, entretanto, foi ofuscada por gafes do presidente americano em um momento em que cresce a discussão sobre se ele, aos 81 anos, está em condições para exercer um segundo mandato, semanas após um desempenho desastroso em um debate televisivo contra o ex-presidente Donald Trump.

Antes da coletiva, Biden erroneamente apresentou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, como "presidente Putin" durante um evento da cúpula da Otan. "E agora quero passar a palavra ao presidente da Ucrânia, que tem tanta coragem quanto determinação. Senhoras e senhores...presidente Putin", disse Biden, retornando ao microfone segundos depois para se corrigir. "Presidente Putin?! Vamos derrotar o presidente Putin! Presidente Zelenski! Estou tão focado em derrotar Putin, temos que nos preocupar com isso", afirmou. O presidente ucraniano respondeu de forma bem-humorada: "Eu sou melhor (que Putin)!". Ao que Biden respondeu. "Sim, você é muito melhor", provocando risadas da plateia.

Posteriormente, durante a coletiva, ao responder à primeira pergunta dos jornalistas, Biden chamou Donald Trump de seu vice-presidente, confundindo-o com Kamala Harris. "Eu não teria escolhido a vice-presidente Trump para ser vice-presidente se ela não fosse qualificada para ser presidente", disse.

Biden continuou dizendo que é "a pessoa mais qualificada para concorrer à presidência. Eu o derrotei [Trump] uma vez e vou derrotá-lo novamente", disse Biden, acrescentando que "não está nisso pelo meu legado", mas para "concluir o trabalho que comecei".

Scholz e Macron defendem Biden após gafe

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, e o presidente da França, Emmanuel Macron, defenderam Biden após o deslize com Zelenski.

"Deslizes de linguagem acontecem e, se você sempre monitorar todo mundo, encontrará muitos deles", disse Scholz quando perguntado sobre a confusão entre Putin e Zelenski. "Mas isso não muda nada do que o presidente dos EUA declarou claramente em seu discurso", acrescentou.

"Todos nós cometemos erros às vezes", disse Macron, quando lhe perguntaram sobre a gafe. "Isso já aconteceu comigo e pode acontecer novamente amanhã", disse.

Macron afirmou ainda que o presidente dos EUA está "no comando" e bem atualizado com todas as questões quando lhe perguntaram sobre sua reunião com Biden na noite anterior. "Pude conversar longamente com o Biden ontem durante o jantar", disse. "Vi, como sempre, um presidente que está no comando, claro sobre as questões que ele conhece bem."

"Determinado" a concorrer à reeleição

Durante a coletiva de imprensa, Biden garantiu que está "determinado" a concorrer na eleição presidencial de novembro, mas disse ser importante para ele "acalmar os temores" entre os democratas. "Eu sou o candidato melhor preparado", destacou.

A entrevista estava cercada de expectativa, com a atenção dos jornalistas voltada para o desempenho de Biden após as dúvidas manifestadas por membros do Partido Democrata sobre a capacidade dele de governar por mais quatro anos e que se intensificaram após o debate de 27 de junho entre o presidente americano e Trump.

Biden teve um desempenho fraco no debate com Trump, falando com voz rouca e mostrando fragilidade e até dificuldade para terminar algumas frases. A campanha havia proposto realizar o debate meses antes do habitual em campanhas presidenciais para tranquilizar os eleitores preocupados com uma possível incapacidade de Biden continuar à frente do governo.

No entanto, houve o efeito oposto, com congressistas do Partido Democrata e a imprensa questionando se ele será capaz de aguentar mais quatro anos se vencer ou se deve abrir caminho para outro candidato enfrentar Trump, do Partido Republicano, nas eleições de novembro.

Até o momento, Biden deixou claro que não tem planos de se retirar da campanha, e algumas figuras influentes do Partido Democrata, como o ex-presidente Barack Obama, manifestaram apoio a ele.

Na coletiva, Biden rebateu todas as insinuações de que esteja diminuindo o ritmo de trabalho ou mostrando sinais visíveis de declínio. "Minha agenda está lotada, portanto, se eu diminuir o ritmo e não conseguir concluir o trabalho, é sinal de que não deveria estar fazendo isso. Mas ainda não há nenhuma indicação disso. Nenhuma."

"Kremlin mente como o diabo"

O presidente americano também foi questionado sobre o lapso que cometeu mais cedo, quando se referiu a Zelenski, como "Putin". Visivelmente irritado, Biden minimizou a situação. "Você já viu uma cúpula mais bem-sucedida? Eu estava falando sobre Putin e disse 'Putin', não, desculpe, Zelenski", afirmou, lembrando a primeira gafe.

"Sei que parece muito egoísta, mas outros líderes, chefes de Estado, ao me agradecerem, dizem: a razão de estarmos juntos é por Biden. Acho que foi a cúpula mais bem-sucedida da qual participei em muito tempo", acrescentou.

Ao mesmo tempo em que demonstrou apoio à possível adesão da Ucrânia à Otan na cúpula em Washington, Biden fez questão de abordar na coletiva a questão sobre se falaria com o presidente russo, Vladimir Putin, em um futuro próximo.

"Não tenho nenhum bom motivo para falar com Putin neste momento", disse, observando que isso se deve ao fato de o presidente russo não ter demonstrado disposição para "mudar seu comportamento".

Biden continuou dizendo que o Kremlin "mente como o diabo" sobre a guerra na Ucrânia e já perdeu 350 mil soldados em combate.

"Estou pronto para conversar com qualquer líder que queira conversar, inclusive Putin", acrescentou.

"Guerra em Gaza deve acabar"

Biden disse ainda que seu governo está progredindo em direção a um cessar-fogo em Gaza, nove meses após o início do conflito, que começou na sequência do ataque terrorista do Hamas a Israel.

"Essas são questões difíceis e complexas. Ainda há lacunas a serem preenchidas. Estamos progredindo. A tendência é positiva, e estou determinado a fechar esse acordo e pôr fim a essa guerra, que deve acabar agora", disse Biden aos repórteres.

Biden é o presidente mais velho da história dos EUA e o primeiro octogenário. Se ele vencer Trump na eleição de 5 de novembro e cumprir um mandato de quatro anos, deixará o cargo aos 86 anos.

md/cn (AP, AFP, DPA, Reuters)

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