Furacões incensam debate politico nos EUA

A semanas das eleições presidenciais, desinformação é usada como ferramenta política para tentar manipular opinião pública. Meteorologistas se tornam alvos de teorias conspiratórias e sofrem até ameaças de morte.

Por Deutsche Welle

  • facebook
  • twitter
  • whatsapp
Furacão Milton
Reprodução?REUTERS

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta sexta-feira (11/10) que os danos causados pela passagem do furacão Milton no sudeste do país devem chegar a impressionantes 50 bilhões de dólares (R$ 280 milhões), enquanto as autoridades na Flórida afirmam que ao menos 16 pessoas morreram em consequência da tempestade.

A reação do governo federal à passagem de dois furacões em um curto espaço de tempo – o Milton e o Helene – se tornou um tema central no debate político nos EUA a poucas semanas das eleições presidenciais.

Biden chamou seu antecessor no cargo, o candidato republicano à Presidência, Donald Trump, de "falastrão", ao acusá-lo de espalhar notícias falsas a respeito da reação do governo à tragédia.

Trump declarou, sem apresentar provas, que o governo de Biden e da vice-presidente Kamala Harris – candidata à Presidência pelo Partido Democrata – teria desviado recursos que seriam destinados às vitimas da tragédia para financiar cuidados aos migrantes. A declaração do republicano foi rechaçada até por membros de seus próprio partido.

O presidente Biden apontou que a desinformação é "um estado permanente para algumas pessoas extremas", mas disse acreditar que o país como um todo deseja uma cooperação bipartidária ao lidar com catástrofes naturais. "Acho que aqueles que espalham essas mentiras vão pagar um alto preço por isso", afirmou.

"Não é a hora de brincar de política"

A vice-presidente Harris também criticou a atitude de seu adversário na corrida pela Casa Branca, e o que viu como uma tentativa de obter vantagens políticas com a tragédia. "Nessa crise, como em tantas outras questões que afetam as pessoas em nosso país, acho que é importante que os líderes reconheçam a dignidade [das pessoas atingidas]. Eu tenho que reforçar que esta não é a hora das pessoas brincarem de política."

Biden disse que seu governo forneceu "todos os recursos necessários" para sanar os prejuízos. As autoridades federais disseram que, até o momento, existem recursos suficientes para lidar com os danos causados pelas catástrofes, mas temem que eles possam se esgotar até o fim da temporada de furacões, que pode ir até o final de novembro.

O presidente pediu ao Congresso a liberação de mais recursos para lidar com as catástrofes e um esforço maior para apoiar as pequenas empresas que foram duramente atingidas pelos furacões.

Ao menos 16 mortos na Flórida

As autoridades trabalham para avaliar a extensão dos danos gerados pela tempestade, que gerou uma série de tornados antes de atingir a região central da Flórida e se deslocar por 280 quilômetros no território americano, do Golfo do México até o Oceano Atlântico.

Duas semanas antes, o furacão Helene atingiu o norte da Flórida e deixou uma contagem de mortos surpreendentemente alta, com 230 vítimas. Este é o maior número de mortos em uma catástrofe no país desde o furacão Katrina, que devastou a cidade de Nova Orleans em 2005 e gerou enchentes e prejuízos em dez estados.

Estima-se que o furacão Milton tenha destruído 150 residências e deixado em torno de 3,3 milhões de pessoas sem energia elétrica.

A contagem de mortos após a passagem do furacão na Flórida aumentou para ao menos 16, com mais de dois milhões de residências e empresas ainda sem energia. Algumas áreas no rastro do furacão continuam alagadas.

O Milton atingiu a costa a mais de 100 quilômetros ao sul de onde se esperava que a tempestade fosse chegar em solo americano, mas não gerou a escala de destruição que as autoridades temiam.

A cidade de Tampa foi poupada de ser diretamente atingida. As autoridades acreditam que a evacuação de milhares de pessoas das áreas de risco certamente contribuiu para diminuir o número de vítimas.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, destacou que a situação não chegou ao pior cenário possível, e disse estar confiante de que a região poderá retomar rapidamente as suas atividades.

Meteorologistas ameaçados de morte

Especialistas de grupo de cientistas do clima World Weather Attribution afirmaram nesta sexta-feira que as mudanças climáticas provocadas pela ação humana fizeram com que o furacão Milton se tornasse mais úmido e tivesse ventos mais fortes, aumentando da categoria 2 para a 3 em uma escala de cinco pontos.

Os meteorologistas que acompanham os desdobramentos dos furacões se veem obrigados a confrontar inúmeras teorias conspiratórias, algumas das quais afirmam que eles estariam controlando o tempo, até com o uso de explosões nucleares. Alguns profissionais chegaram a receber ameaças de morte.

"Nunca vi uma tempestade reunir tanta desinformação. Tivemos de apagar incêndios de informações falsas em toda parte", disse a meteorologista da emissora CBS Katie Nickolaou. "Assassinar meteorologistas não vai parar os furacões. Eu nem acredito que tive de escrever isso."

rc (AP, AFP)

Tópicos relacionados

Mais notícias

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.