A Fundação Nacional do Índio (Funai) disse, na noite desta sexta-feira (10), que a autorização para o indigenista Bruno Pereira entrar na terra indígena Vale do Javari, na Amazônia, estava vencida há cerca de duas semanas.
Na quinta-feira (9), a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), afirmou que o documento estava assinado eletronicamente desde o dia 15 de maio. No entanto, por nota, a Funai afirma que essa informação é inverídica.
A Funai afirma ainda que "no caso do indigenista, foi emitida autorização em âmbito regional para que o indigenista ingressasse em terra indígena, com vencimento em 31/05/2022, sem o conhecimento dos setores competentes na Sede da Funai, em Brasília, o que será apurado internamente".
Na última quarta-feira (8), durante entrevista ao programa Voz do Brasil, transmitido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o presidente da Funai, Marcelo Xavier, afirmou que Bruno e Dom Phillips deveriam ter solicitado autorização para realizar a viagem pela terra indígena Vale do Javari.
Em nota, a Unijava diz que a "autorização Ingresso em Terra Indígena nº 11/CR-VJ/2022" (processo 08744.000170/2022-16), permitiu a entrada nas aldeias Kumãya, Maronal, Matkewaya, Morada Nova e São Sebastião, nas localizadas na Calha do Rio Curuçá. O objetivo era a participação em reuniões "com o intuito de discutir sobre o território e estratégias indígenas para protegê-lo".
Já sobre o jornalista inglês, o órgão diz que seu nome não foi mencionado na solicitação de ingresso citada pela Univaja"
Segundo a Funai, o Ministério Público Federal (MPF) será acionado para que a Univaja seja responsabilizada quanto à aproximação de povos isolados sem a autorização do órgão e, "aparentemente, sem a adoção das medidas sanitárias cabíveis, entre elas, a realização de PCR e de quarentena de 14 dia".
Segundo o órgão, medidas de proteção sanitária continuam vigentes em regiões onde há povos indígenas, em respeito à determinação emitida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Busca pelos desaparecidos
Nesta sexta, equipes de buscas do jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira encontraram o que definiram como "material orgânico, aparentemente humano" no rio Itaquaí, próximo ao porto de Atalaia do Norte, para onde iam os dois homens.
No dia anterior, a Polícia Federal encontrou vestígios de sangue no barco de Amarildo da Costa de Oliveira, 41, que teve sua prisão decretada como suspeito de envolvimento pelo desaparecimento do jornalista e do indigenista.
A Organização das Nações Unidas (ONU) criticou a operação de buscas do governo brasileiro ao jornalista britânico e ao indigenista. O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da entidade vê as ações como “extremamente lentas”.
Há cinco anos, a ONU já alertava sobre a violência no Vale do Javari, região onde desapareceram Phillips e Bruno Araújo Pereira. A informação é do colunista internacional Jamil Chade, da BandNews TV.
Nesta sexta, em discurso na Cúpula das Américas, realizada em Los Angeles, nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) citou Deus ao comentar as buscas pelos desaparecidos. Segundo ele, o governo faz uma "busca incansável".
O desaparecimento
As buscas por Phillips e Bruno entraram no 6º dia e contam com o apoio da Marinha, do Exército, da Força Nacional e das forças de segurança do Amazonas.
O servidor de carreira da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o colaborador do Jornal The Guardian desapareceram no Vale do Javari, na Amazônia. Eles foram vistos pela última vez na tarde do domingo (5), segundo nota divulgada pela Univaja.
Bruno é indigenista especializado em povos indígenas isolados e conhecedor da região, onde foi coordenador regional por cinco anos. Já Dom Phillips é veterano de cobertura internacional e mora no Brasil há mais de 15 anos.
Segundo lideranças indígenas, o jornalista e o ativista estariam recebendo ameaças de garimpeiros que atuam de forma ilegal na região.