A França revelou nesta sexta-feira (29/11) as primeiras imagens do interior reformado da Catedral de Notre Dame, cinco anos após um incêndio tomar conta e destruir parte da igreja parisiense de 850 anos.
No local, em visita transmitida ao vivo, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que o prédio restaurado está "muito mais acolhedor". Para ele, os artesãos que trabalharam na restauração fizeram o "impossível" ao curar uma "ferida nacional" deixada pelo fogo em abril de 2019.
Embora todos os esforços tenham sido feitos para manter a aparência original da catedral, a Notre Dame restaurada terá um aspecto inédito, pois uma equipe internacional de designers e arquitetos criou um espaço luminoso que causa um impacto visual diferente aos visitantes.
A limpeza dos vitrais, antes escuros com o passar do tempo, também permite uma maior entrada de luz no interior. Além disso, novas pedras de tom creme e uma nova mobília foram instaladas.
Já o campanário gótico do século 19, que desmoronou no incêndio, foi recriado como uma cópia exata do original.
"Foi um projeto de renovação excepcional", disse o entalhador de pedras Samir Abbas, que aguardou ao lado de outros 1.300 trabalhadores pela chegada de Macron, nesta sexta-feira.
Inauguração acontece em dezembro
A inauguração oficial está marcada para 7 de dezembro, um sábado, com a presença de Macron, do arcebispo de Paris, Laurent Ulrich, e outras autoridades. A primeira missa aberta será no dia seguinte, às 18h30 (14h30 em Brasília). Outras celebrações transcorrem na semana seguinte.
"Na noite de 15 de abril, centenas de milhares se comprometeram com o que, então, parecia uma aposta impossível: restaurar a catedral e devolver-lhe seu esplendor dentro do prazo sem precedentes de cinco anos", lembrou o arcebispo Laurent Ulrich. "Estamos muito ansiosos para receber o mundo inteiro sob o teto de nossa catedral."
O desafio da restauração
Em 15 de abril de 2019, o Corpo de Bombeiros de Paris teve que lutar por quatro horas até conseguir conter o fogo na estrutura de madeira do telhado da Catedral de Notre Dame.
No fim, a fachada oeste com as torres principais, as paredes da nave central, os contrafortes e grandes partes do teto abobadado, bem como os corredores laterais e o deambulatório se mantiveram estáveis. Objetos como cálices cravejados de pedras preciosas e outros artefatos de valor foram salvos do incêndio e voltarão à catedral após a abertura.
Após o incêndio, Macron havia estabelecido a ambiciosa meta de reformar o prédio em cinco anos, num esforço que apelidou de "o canteiro de obras do século". Cerca de 250 empresas e centenas de especialistas foram contratados para o trabalho de restauração, que custou quase 700 milhões de euros (R$ 4,4 bilhões). doações que chegaram de 150 países superaram esse orçamento, chegando a 846 milhões de euros (R$ 5,4 bilhões).
Dois mil carvalhos foram derrubados para reconstruir a estrutura do telhado medieval. Para transformar os troncos em vigas, os artesãos usaram machados especiais, em cuja lâmina está gravada a fachada da catedral e que podem ser admirados no Museu de Arquitetura de Paris.
Mas o maior destaque da exposição são as estátuas dos 12 apóstolos e os quatro evangelistas, que no século 19 o arquiteto Eugène Viollet-le-Duc agrupou em torno do pináculo. Elas sobreviveram ao incêndio ilesas por terem acabado de ser removidas do telhado para uma restauração.
Novo sistema de incêndio
Invisível para os visitantes, um novo mecanismo de proteção protege contra futuros incêndios: um sistema discreto de tubos, prontos para liberar água em caso de um novo desastre. Até hoje, a causa do incêndio – se foi um curto-circuito ou o cigarro de um trabalhador da construção civil – ainda não foi identificada.
A Notre Dame, que recebeu 12 milhões de visitantes em 2017, espera receber de 14 a 15 milhões após a reabertura, de acordo com as autoridades. Ministros franceses chegaram a sugerir a cobrança de ingressos, mas a diocese de Paris rechaçou a ideia.
gq/av (DW,AFP,Reuters)