Fogo cruzado inviabiliza ajuda a civis em Gaza, diz ONU

Órgão alerta que sul do território pode ficar sem comida já neste sábado diante de fechamento da passagem de Rafah. Combates têm ocorrido até mesmo no norte de Gaza, onde o Hamas já era dado como "desmantelado".

Por Deutsche Welle

Combates intensos na Faixa de Gaza têm inviabilizado a distribuição de ajuda humanitária à população palestina e já levaram mais de 110 mil civis a fugirem de Rafah, cidade no sul do enclave que vinha sendo poupada do conflito até ser parcialmente tomada por tropas israelenses no início desta semana, informou a Organização das Nações Unidas (ONU).

A entidade, que aprovou nova resolução nesta sexta-feira (10/05) em que pede o reconhecimento do Estado palestino ao Conselho de Segurança, alerta que a situação em Gaza é cada vez mais crítica. O órgão estima que mais de 1 milhão de palestinos tenha buscado refúgio em Rafah desde o início da guerra entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas, há mais de sete meses.

A cidade na fronteira com o Egito tem importância estratégica para o apoio a civis atingidos pelo conflito, já que era por lá que entrava a maior parte da ajuda humanitária. Com a tomada do posto fronteiriço pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) na última terça-feira, porém, não há mais entregas de mantimentos essenciais como alimentos e medicamentos, nem doentes e feridos podem deixar o enclave para se tratar no exterior.

Segundo a ONU, a falta de combustível ameaça o funcionamento de instalações médicas e a infraestrutura para fornecimento de água e tratamento de esgoto, e pode faltar comida no sul de Gaza já a partir deste sábado.

"Simplesmente não temos barracas, não temos cobertores, não temos roupas de cama", disse Georgios Petropoulos, funcionário do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, ao descrever as condições de assistência aos que fogem de Rafah.

Escritório de agência da ONU de apoio a palestinos em Jerusalém é fechado após ataque

Também nesta sexta, israelenses armados invadiram e incendiaram o escritório central em Jerusalém da UNRWA, agência da ONU encarregada dos refugiados palestinos. Não houve feridos, mas as chamas danificaram um posto de abastecimento de carros da entidade.

Citando ameaças de "extremistas israelenses", a entidade anunciou que encerraria o escritório temporariamente. Secretário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini afirmou via X (ex-Twitter) que é responsabilidade de Israel, na qualidade de "poder ocupante" da Cisjordânia, garantir a proteção de funcionários e instituições da ONU.

As relações entre Israel e a UNRWA são tensas. O país acusa o órgão de empregar membros do Hamas que participaram do ataque terrorista de 7 de outubro que desencadeou o atual conflito, quando cerca de 1.200 pessoas foram mortas e outras cerca de 250 sequestradas para dentro de Gaza – destas, acredita-se que mais da metade continue por lá, embora parte já seja dada como morta. A acusação contra a UNRWA levou à suspensão temporária de apoio internacional à agência, mas não foi confirmada por uma investigação independente.

Combates voltam a acontecer também no norte de Gaza

O Exército israelense diz que reabriu o posto fronteiriço de Kerem Shalom, na fronteira entre Israel e o sul de Gaza, para a entrada de ajuda humanitária. Mas a UNRWA, agência da ONU encarregada dos refugiados palestinos, diz que o lado de Gaza está inacessível por causa dos intensos combates travados na região.

Há combates mesmo na Cidade de Gaza, ao norte, que havia sido uma das primeiras áreas a serem bombardeadas e escaneadas por tropas terrestres. Ali, a ONU estima que haja 300 mil pessoas passando fome.

O Hamas, que continua a disparar foguetes contra Israel – um deles atingiu a cidade israelense de Beersheba nesta sexta-feira, outro não chegou a atingir o posto de Kerem Shalom –, tem repetidamente se reagrupado, mesmo nas áreas mais devastadas do enclave.

Com a passagem de Rafah fechada por tropas israelenses, manifestantes tentaram recentemente bloquear o envio de ajuda humanitária a Gaza pelo lado israelense. O grupo argumenta que a ação tem permitido ao Hamas continuar a guerra.

O Ministério de Defesa britânico anunciou ter entregue 13 toneladas de ajuda humanitária por via aérea nesta sexta, totalizando 120 toneladas desde março.

Segundo números de autoridades subordinadas ao Hamas, o atual conflito deixou quase 35 mil mortos e pouco mais de 78 mil feridos no lado palestino.

Assembleia Geral da ONU pede reconhecimento de Estado palestino

Também nesta sexta, a Assembleia Geral da ONU pediu ao Conselho de Segurança o reconhecimento da Palestina como Estado. A resolução foi aprovada por 143 dos 193 países-membros, 9 votos contrários – entre eles Estados Unidos e Alemanha – e 25 abstenções.

Embora não tenha poder de dar aos palestinos direito de voto e de se candidatar a cargos da ONU, a decisão da Assembleia Geral faz algumas concessões simbólicas, concedendo aos palestinos "direitos e privilégios adicionais" a partir de sua 79ª sessão, em setembro. Com isso, eles poderão submeter diretamente propostas e emendas sem a necessidade de um país intermediário.

O Conselho de Segurança já rejeitou o reconhecimento da Palestina em 18 de abril, por veto dos Estados Unidos. Os americanos se opõem a qualquer reconhecimento que não emane de um acordo bilateral entre palestinos e israelenses, e já avisaram que se o assunto voltar à mesa do conselho, terá o mesmo resultado.

ra (EFE, AFP, AP, dpa)

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