Febre maculosa: Brasil tem média de 176 casos e 57 mortes por ano pela doença

Doença transmitida pelo carrapato já matou quatro pessoas que estiveram em uma festa na região de Campinas, que historicamente tem o maior número de casos no país

Por Paulo Guilherme Guri

Dados do Ministério da Saúde apontam que o Brasil registra em média 176 casos de febre maculosa por ano, e 57 óbitos provocados pela doença transmitida pelo carrapato em um levantamento feito entre 2007 e 2022. 

O Ministério da Saúde atualizou para 53 o número de casos de febre maculosa confirmados este ano no país, com oito mortes registradas. Todos os óbitos ocorreram na Região Sudeste: seis em São Paulo, um em Minas Gerais e um no Rio de Janeiro. Quanto ao número de casos, a maior concentração de ocorrências é verificada nas regiões Sudeste (30) e Sul (17). 

Caso confirmados de febre maculosa (2007-2022)

REGIÃO    Total de casos    Média de casos    Total de óbitos    Média de óbitos
Sudeste    1.734    108,30    812    50,75
Sul    655    40,90    5    0,31
Nordeste    38    2,30    1    0,06
Centro-Oeste    35    2,20    2    0,12
Não informada    286    17,80    99    6,18
BRASIL    2.820    176,20    920    57,50

Fonte: Ministério da Saúde

 

Histórico

A febre maculosa é registrada no país desde as primeiras décadas do século passado, mas tornou-se uma doença reemergente e relevante problema de saúde pública no Brasil a partir da década de 1980. Desde então, observou-se aumento no número de casos, expansão das áreas de transmissão, ocorrência da transmissão em áreas urbanas e, principalmente, manutenção de elevadas taxas de letalidade

O aumento do número de casos observado em território paulista pode ser decorrente da adoção de uma vigilância específica para a FMB e a incorporação de sua notificação compulsória nas regiões de Campinas e São João da Boa Vista, entre os anos de 1995 e 1996. 

Em 2001, quando passou a ser considerada doença de notificação compulsória em todo o País, os únicos estados que mantinham um programa ativo de vigilância epidemiológica para a FMB eram São Paulo e Minas Gerais. 

A febre maculosa é muito prevalente na região sudeste do Brasil. Dos 2.820 casos confirmados entre 2007 e 2022, a região sudeste registrou 1.734, média de 108,37 casos por ano. Foi também no sudeste que ocorreram 812 das 920 mortes no país pela doença neste longo período, uma média de 50,7 óbitos por ano.

Em 1985, a febre maculosa passou a ocorrer de maneira endêmica na região metropolitana de Campinas, sobretudo nos municípios localizados nas bacias hidrográficas dos rios Atibaia, Jaguari e Camanducaia. Os mais importantes são Pedreira e Jaguariúna

Na região metropolitana de Campinas, entre 2007 e 2020, foram 376 casos confirmados, uma média de 25 por ano. 

Mortes em Campinas

Este ano, quatro pessoas morreram de febre maculosa depois que frequentaram um evento na Fazenda Santa Margarida, em Campinas no dia 27 de maio. Três morreram no dia 8 de junho, sete dias após o evento. A adolescente de 16 anos apresentou sintomas e estava internada com suspeita da doença.

O Instituto Adolfo Lutz analisou os exames da mulher de 28 anos, moradora de Hortolândia (SP), e confirmou que ela também morreu por febre maculosa. 

Contágio

A febre maculosa é uma doença causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e transmitida pela picada de carrapatos, principalmente o Amblyomma cajennense, conhecido como "carrapato estrela". No entanto, outros carrapatos também podem servir de vetor, como os carrapatos Hydrochaeris hydrochaeris e Didelphys sp parasita das capivaras e gambás,

A febre maculosa é muito prevalente na região sudeste do Brasil, tem como vetor o carrapato Amblyomma cajennense, predominante em capivaras e cavalos. Nessa região, o risco de infecção humana é maior em áreas rurais, devido a maior vulnerabilidade proporcionada pelas atividades de lazer, de pesca, pelo contato com capivaras e pelo no trabalho no campo

Segundo o Ministério da Saúde, o contato direto com o carrapato é a principal causa da infecção por febre maculosa. As vítimas também frequentaram regiões de mata, florestas, rios e cachoeiras.  Também foram apontados contatos com cães e gatos, cavalos, capivara, bois e outros animais. Entre os principais sintomas estão: febre, dor de cabeça, mialgia, náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia e o surgimentos de manchas vermelhas e roxas (exantema e petequéia).

Como se prevenir

  • Evitar contato com carrapatos
    Conhecer as áreas que são endêmicas
  • Evitar caminhar em áreas conhecidamente infestadas por carrapatos
  • Se entrar em áreas com carrapatos, vistoriar o corpo em busca de carrapatos em intervalos de três
  • horas, pois quanto mais rápido for retirado o carrapato menor será o risco de contrair a doença.
  • Vestir calças compridas com parte inferior por dentro das botas e parte superior lacrada com fitas adesivas de dupla face
  • Usar roupas claras para facilitar a visualização dos carrapatos.
  • Não esmagar os carrapatos com as unhas, pois pode ocorrer a liberação de bactérias que têm capacidade de penetrar em microlesões na pele
  • Retirar o carrapato com calma
  • Lavar as roupas em água fervente

Quanto antes a pessoa procurar o médico, maior as chances de combater a febre maculosa. Segundo o Ministério da Saúde, a febre maculosa tem cura desde que o tratamento com antibióticos específicos seja administrado nos primeiros dois ou três dias da infecção. O medicamento deve ser administrado assim que surgirem os primeiros sintomas, mesmo sem o diagnóstico confirmado, já que ele pode demorar. Segundo o Ministérios da Saúde, em determinados casos, pode ser necessária a internação da pessoa. A terapêutica é empregada por um período de 7 dias, devendo ser mantida por 3 dias, após o término da febre. 

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