A fabricante alemã de biscoitos Bahlsen pediu desculpas após um estudo revelar que a empresa explorou muito mais trabalhadores forçados durante o regime nazista (1933-1945)do que o que se sabia até então.
Em declaração conjunta divulgada na última terça-feira (13), os herdeiros da empresa disseram que os antepassados da família "tiraram proveito do período nazista” e chamaram o comportamento de "imperdoável”.
A pesquisa foi encomendada em 2019 pela própria empresa após a herdeira da Bahlsen, Verena Bahlsen, afirmar que a fabricante "tratou bem" e pagou os trabalhadores forçados "assim como os alemães” durante a Segunda Guerra Mundial.
Fundada pelo bisavô de Verena Bahlsen no final do século 19, a empresa de biscoitos já era acusada de ter forçado pessoas a trabalharem contra sua vontade em sua fábrica localizada em Hannover, entre 1943 e 1945. A maioria das vítimas eram mulheres nascidas no Leste Europeu.
Mas o estudo conduzido por dois historiadores e publicado esta semana identificou que mais de 800 pessoas – muitas da Polônia e da Ucrânia – foram forçadas a trabalhar para a empresa. O número é muito maior do que os 200-250 que se estimava anteriormente. As novas descobertas ainda sugerem que a mão de obra forçada foi usada em um período mais longo do que se imaginava, entre 1940 e 1945.
Em nota, a família Bahlsen ainda chamou as descobertas de "desconfortáveis e dolorosas” e lamentou que a empresa "não tenha confrontado essa difícil verdade antes.” "Nós, como família, não nos perguntamos como nossa empresa conseguiu atravessar a Segunda Guerra Mundial”, completaram.
Verena Bahlsen também se desculpou pelo que chamou de comentários "impensados” feitos em 2019. À época, ela já havia alegado que não queria minimizar o nazismo e suas consequências. Ela deixou a empresa em 2021.
Histórico controverso
Em 2019, publicação da revista alemã Der Spiegel identificou que os três irmãos Bahlsen que estavam no comando da empresa durante o regime deHitler – Hans, Klaus e Werner – foram membros do partido nazista e apoiadores da força paramilitar Schutzstaffel (SS).
Durante a guerra, a empresa produzia alimentos para os soldados alemães. Hoje, a fabricante é conhecida por produzir o biscoito "Choco Leibniz".
Em 2000, 60 vítimas chegaram a entrar com uma ação coletiva contra a fabricante de biscoitos por trabalho forçado, mas o caso foi rejeitado pela Justiça alemã por prescrição. A Bahlsen, então, se uniu a uma iniciativa para compensar as cerca de 13 milhões de vítimas de trabalhos forçados durante o nazismo, colaborando com 1,5 milhão de marcos alemães (o equivalente, em valores atuais, a 767 milhões de euros, ou R$ 4,6 milhões).
"Isso não é de forma alguma adequado ao sofrimento dessas pessoas. Agora é tarde demais. A Alemanha fracassou neste ponto", afirmou o historiador Hartmut Berghoff, um dos coautores do estudo.
Outras empresas alemãs como a Continental,o Deutsche Bank, a Siemens e a Volkswagen também já foram acusadas de colaborar com o nazismo e empregar mão de obra forçada.
gq (afp, reuters, ots)