Enquanto os europeus estão preocupados com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, cidadãos de outras partes do mundo demonstram maior otimismo em relação ao segundo mandato do republicano.
Uma pesquisa realizada pelo Conselho Europeu de Relações Exteriores em 24 países, incluindo Brasil, Índia, China e Turquia, revelou que uma parcela significativa dos entrevistados disse esperar que Trump seja bom para seus países e para a paz no mundo.
O clima mais otimista foi registrado na nação mais populosa do mundo, a Índia, onde mais de 80% dos participantes enxergam de maneira positiva o retorno de Trump.
Em comparação, a recepção foi bem menos acolhedora nas 11 nações da União Europeia (UE) pesquisadas, assim como no Reino Unido e Coreia do Sul, aliados de longa data dos EUA, onde a maioria dos entrevistados espera que o governo do republicano seja ruim para a Europa e para a paz global.
Confiança nos EUA cai dentro da UE
Apenas 24% no Reino Unido, 31% na Coreia do Sul e 34% na UE acreditam que o retorno de Trump poderá facilitar a resolução do conflito na Ucrânia, e ainda menos pessoas (16% no Reino Unido, 25% na UE e 19% na Coreia do Sul) acham que ele poderá contribuir para a paz Oriente Médio.
Em uma análise mais abrangente, apenas uma em cada cinco pessoas da UE afirma enxergar atualmente os EUA como um aliado. Este total representa uma queda significativa em relação ao cenário de dois anos atrás (31%) e contrasta com a proporção de cidadãos americanos que consideram a UE como um aliado (45%).
De modo geral, o próximo governo americano é bem avaliado nos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã) e na Turquia.
A percepção positiva sobre o novo mandato de Trump nos países de fora da Europa ocorre apesar de suas ameaças de impor tarifas sobre as importações de vários produtos, o que poderá abalar a economia global.
Paz mundial na nova era Trump?
Trump, que tomará posse na segunda-feira, prometeu pôr um fim rápido à guerra na Ucrânia, quase três anos após a invasão em larga escala da Rússia.
Apesar dos temores de que o novo líder dos EUA poderia forçar Kiev a aceitar um acordo ruim para os ucranianos, 33% dos entrevistados na Ucrânia avaliam que a eleição de Trump é boa para a paz mundial, em comparação com 18% que a consideram ruim.
Em países como Brasil, Índia, China e Turquia, a maioria dos entrevistados avalia que o retorno de Trump é bom para a paz no mundo, para os seus países e para os cidadãos americanos.
"Quando Donald Trump retornar à Casa Branca, grande parte do mundo o receberá bem", escreveram os autores da pesquisa intitulada Sozinha num mundo 'trumpiano': a UE e a opinião pública global após as eleições nos EUA, realizada em conjunto com o projeto de pesquisa Europa em um Mundo em Transformação da Universidade de Oxford e com a Fundação Calouste Gulbenkian, sediada em Portugal.
"Na Europa, a ansiedade é generalizada, mas as pessoas em muitos outros países se sentem relaxadas ou ativamente positivas sobre o segundo mandato de Trump", concluíram os autores.
UE em pé de igualdade com EUA e China
Fora da Europa, muitos veem a UE como uma potência comparável aos Estados Unidos e à China e preveem o crescimento da influência do bloco europeu na próxima década.
A UE é também amplamente vista pelos entrevistados como um "aliado" ou "parceiro necessário", sobretudo na Ucrânia e nos Estados Unidos, opinião contrariada apenas pelos russos.
Especialistas em política externa e autores do estudo, Mark Leonard, Ivan Krastev e Timothy Garton Ash avaliam, no entanto, que os líderes europeus poderão ter dificuldades em se unir em uma resistência comum ao presidente eleito dos EUA.
"Nos últimos dois anos, com o governo de Biden lado a lado com a Europa na invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, ainda era possível falar de um Ocidente unido em política externa." No entanto, com o retorno de Trump, "as divisões não ocorrerão apenas entre os EUA e a Europa, mas também dentro da própria UE", afirmam os autores.
A pesquisa envolveu pouco mais de 28.500 pessoas nos 24 países e foi realizada em novembro do ano passado após a vitória eleitoral de Trump.
Os 11 Estados-membros da UE onde a pesquisa foi realizadas foram Alemanha, França, Itália, Polônia, Portugal, Espanha, Dinamarca, Estônia, Romênia, Bulgária e Hungria. Os demais países foram a China, Reino Unido, Ucrânia, Índia, Turquia, Rússia, EUA, Brasil, Arábia Saudita, África do Sul, Indonésia, Coreia do Sul e Suíça.
rc/bl (AFP, Lusa)