Quatro meses após o regime chavista da Venezuela declarar Nicolás Maduro como vencedor da última eleição a despeito de acusações de fraude, os Estados Unidos anunciaram que passarão a tratar o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, como "presidente eleito" do país latino-americano.
Em pronunciamento na rede social X, o atual chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse nesta terça-feira (19) que a escolha do povo venezuelano era clara, e exigiu "respeito à vontade" dos eleitores.
O governo do presidente americano Joe Biden, cujo mandato se encerra daqui a dois meses, já havia reconhecido a vitória de González na eleição realizada em 28 de julho, mas até então não o tratava como representante de fato do povo venezuelano e buscava uma solução diplomática para o impasse.
"O povo venezuelano falou de forma contundente em 28 de julho e fez de González o presidente eleito," escreveu Blinken. "A democracia exige respeito à vontade dos eleitores."
A Venezuela reagiu ao posicionamento do governo americano tachando-o de "ridículo" e chamando González de "Guaidó 2.0", numa referência ao candidato oposicionista reconhecido como presidente venezuelano pelos EUA em 2018.
"Mais um secretário de Estado que, junto com suas marionetes, falhou em tentar derrubar a democracia venezuelana", disse o ministro venezuelano das Relações Exteriores, Yvan Gil, referindo-se a Blinken em um post no Telegram.
Eleições sem transparência
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que é controlado pelo regime Maduro, proclamou a vitória do chefe horas depois do fechamento das urnas. Diferentemente do que foi feito em outras eleições, autoridades eleitorais não divulgaram as atas eleitorais, que permitiriam auditar o resultado.
A atitude despertou a desconfiança da comunidade internacional, e levou até mesmo ao azedamento das relações do país com o Brasil, que não reconheceu oficialmente a proclamação da vitória de Maduro pelo regime.
A oposição afirma ter ganhado o pleito com base em boletins coletados por conta própria em mais de 80% das urnas eletrônicas e divulgados na internet.
O regime de Maduro reagiu apertando o cerco contra a oposição. Ao menos 28 pessoas foram mortas em protestos, e cerca de 2,4 mil foram presos. O próprio González se exilou na Espanha em setembro, após tornar-se alvo de um mandado de prisão. Ele afirma, contudo, que pretende voltar no dia 10 de janeiro para tomar posse do cargo.
"Apreciamos profundamente o reconhecimento da vontade soberana de todos os venezuelanos", disse González em resposta à declaração de Blinken. "Esse gesto honra o desejo de nosso povo por mudança e a conquista cívica que realizamos juntos em 28 de julho."
Em setembro, o Parlamento Europeu reconheceu González como presidente eleito da Venezuela. A decisão, porém, não equivale a um reconhecimento oficial da União Europeia. A Casa também homenageou ele e Maria Corina Machado com o prêmio Sakharov, distinção entregue a defensores dos direitos humanos e da liberdade de expressão.
Afirmando temer a repressão de Maduro, Machado, que deveria ter disputado a eleição no lugar de González, segue na Venezuela, mas mantém segredo sobre seu paradeiro.
ra (AFP, AP, Reuters)