Ou Israel deixa entrar mais ajuda humanitária em Gaza, em 30 dias, ou não receberá mais contínuo fluxo de armamento dos Estados Unidos. A advertência, que já inclui a punição, está numa carta do secretário de Defesa Lloyd J. Austin III e do secretário de Estado Antony Blinken ao ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant,e ao ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer.
Enviada no domingo, a carta vazou em Israel e está nos jornais locais desta terça-feira. A primeira questão que levanta é por que 30 dias e não o restabelecimento imediato da ajuda humanitária? A resposta mais plausível: o prazo se esgota uma semana depois da eleição nos EUA, em 5 de novembro. Seja qual for, os eleitores americanos vão votar informados da pressão exercida por Biden/Harris sobre o primeiro-ministro Netanyahu, que tem favorecido o ex-presidente Donald Trump.
Outro contencioso entre os dois governos parece resolvido: Israel comprometeu-se a não atacar instalações nucleares ou petrolíferas em sua retaliação pelos mísseis balísticos do Irã em 1º de outubro. Mas vai atacar objetivos militares iranianos. Até por isso, o Pentágono começou a enviar o novo sistema de defesa aérea Thaad para uma base militar israelense, junto com os primeiros dos 100 soldados americanos que deverão operá-lo. O Thaad estará pronto para interceptar mísseis balísticos de uma eventual retaliação por parte do Irã.
A ajuda humanitária para Gaza faz parte de um Memorando de Segurança Nacional aplicado a todos os destinatários de assistência militar dos EUA. Ele condiciona a ajuda militar à ajuda humanitária. Na carta, Lloyd e Blinken dizem que o que entrou em Gaza, em setembro, foi a menor quantidade em comparação ao ano passado.
“Para reverter a trajetória humanitária descendente e consistente com suas garantias para nós, Israel deve — começando agora e dentro de 30 dias — agir nas seguintes medidas concretas”, eles escreveram, referindo-se a várias recomendações estabelecidas mais adiante na carta, divididas em três categorias: aumentar o fornecimento de ajuda humanitária até o início do inverno; facilitar a rota de entrega de ajuda pela Jordânia; e acabar com o “isolamento” do norte de Gaza. Há também um pedido de pausa nos combates para permitir operações humanitárias, ou o movimento de palestinos do litoral para o interior, antes da chegada do inverno.
No domingo, em telefonema ao ministro Gallant, o secretário de defesa dos EUA “falou da terrível situação humanitária em Gaza e enfatizou que medidas devem ser tomadas para lidar com isso”. No mesmo dia, a vice-presidente dos EUA e candidata presidencial Kamala Harris pediu que Israel fizesse mais para facilitar o fluxo de ajuda humanitária para o norte de Gaza.
“Os civis devem ser protegidos e devem ter acesso à comida, água e remédios. O direito humanitário internacional deve ser respeitado”, ela tuitou de sua conta VP no X.