EUA acusam soldado que foi para Coreia do Norte de deserção

Travis King atravessou a fronteira entre as Coreias ilegalmente em julho, e posteriormente foi deportado por Pyongyang.

Por Deutsche Welle

O Exército dos Estados Unidos acusou o soldado americano Travis King, que cruzou ilegalmente a fronteira para a Coreia do Norte em julho, de vários crimes, incluindo deserção, agressão e insubordinação.

Segundo os documentos obtidos pelo jornal americano Washington Post e pela agência de notícias Reuters, King foi acusado de violar o código legal das Forças Armadas dos EUA ao cometer ofensas que incluem deserção, agressão, desobediência a um oficial superior, insubordinação, prestação de falsas declarações e tentativa de solicitar fotografias sexuais de um menor.

No final de setembro, a Casa Branca confirmou que King estava sob custódia dos EUA. A declaração foi dada após a Coreia do Norte anunciar que decidiu deportar o soldado de 23 anos, que se tornou o primeiro americano comprovadamente detido no país em quase cinco anos. King foi levado para um hospital militar no Texas para avaliações médicas e psicológicas.

A acusação de deserção é grave e pode resultar em uma pena de até três anos de prisão. King ainda é acusado de agredir um sargento em 2022, consumir álcool ilegalmente, e possuir imagens de pornografia infantil.

Em comunicado, a mãe de King, Claudine Gates, expressou amor incondicional e pediu que o filho "recebesse a presunção de inocência".

"O homem que criei, o homem que deixei no campo de treinamento, o homem que passou as férias comigo antes de ser enviado para a Coreia do Sul não bebia. Uma mãe conhece seu filho e eu acredito que algo aconteceu com ele enquanto ele estava destacado. O Exército prometeu investigar o que aconteceu em Camp Humphreys, e eu aguardo os resultados", afirmou Gates.

Caso cercado de mistérios

King, de 23 anos, atravessou a fronteira para a Coreia do Norte depois de passar 48 dias numa instituição penitenciária sul-coreana por não ter pagado uma multa imposta em fevereiro por um incidente com a polícia em Seul e, segundo comunicou Pyongyang na ocasião, havia solicitado asilo no país.

King esteve preso na Coreia do Sul durante dois meses após uma briga numa discoteca e um incidente com a polícia em Seul. Em 10 de julho, saiu da prisão para ser conduzido sob escolta ao aeroporto, de onde deveria ter partido para uma audiência disciplinar nos Estados Unidos. Em vez disso, conseguiu fugir.

Segundo o comando da força multinacional da ONU que supervisiona o cumprimento do armistício entre as duas Coreias, King atravessou "voluntariamente e sem autorização" a fronteira.

Em 18 de julho, King cruzou a Linha de Demarcação Militar e entrou em território norte-coreano quando participava de uma visita turística à Área de Segurança Conjunta (JSA, sigla em inglês), no coração da fronteira entre as duas Coreias.

Um mês depois, o regime norte-coreano reconheceu publicamente a sua detenção após ter entrado "ilegalmente no território" da Coreia do Norte e garantiu que o soldado tinha manifestado desejo de pedir asilo no país ou em um país terceiro.

Durante a investigação, King confessou ter entrado ilegalmente na Coreia do Norte "porque nutria ressentimento contra os maus tratos, e a discriminação racial no seio das forças armadas americanas", indicou a agência estatal norte-coreana KCNA.

Deportação

Depois de dois meses na Corte do Norte, Pyongyang anunciou que pretendia expulsar o soldado americano. A sua libertação ocorreu após semanas de negociações e foi auxiliada por autoridades suecas, que teriam conduzido King até a fronteira com a China. De lá, ele foi levado para a base militar americano na Coreia do Sul e depois para o hospital no Texas.

Ele passou então por um processo de reintegração, durante o qual foi mantido sob custódia, por ter caído voluntariamente em mãos inimigas.

King entrou para o Exército dos EUA em janeiro de 2021, e serviu como batedor de cavalaria. Durante o período que esteve na Coreia do Norte, ele foi declarado AWOL (ausente sem permissão oficial) pelo governo dos EUA. Isso pode significar punição com pena de prisão militar, perda de salário ou dispensa desonrosa.

cn (Reuters, AP, Lusa)

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