"Eu perdi a minha neta em um tiroteio bárbaro", diz avó de grávida assassinada

Kathlen foi morta em troca de tiros da PM com criminosos; testemunhas dizem que a bala partiu dos policiais

Da redação

Saionara Fátima Queiroz de Oliveira, avó da modelo Kathlen de Oliveira Romeu, de 24 anos, lamentou a morte da neta em um tiroteio entre policiais e criminosos: "Eu perdi a minha neta num tiroteio bárbaro que a gente não tem culpa de nada".  

A modelo e design de interiores mudou do Complexo do Lins, zona norte do Rio de Janeiro, exatamente para fugir da violência depois da gravidez. Ela estava visitando a avó e as duas iriam para a empresa da mãe de Kathlen, que fica no bairro. "Foi tudo muito de repente. A minha neta caiu, começou muito tiro, quando puxei ela caiu. Quando eu olhei era polícia para todo lado. Eu me machuquei ainda, me joguei para proteger ela, que está gravida. Eu só vi um furo no braço dela e gritei para eles me ajudarem a trazer", disse Saionara.  

Eu perdi a minha neta num tiroteio bárbaro que a gente não tem culpa de nada

Segundo a PM, agentes da UPP da região foram atacados por criminosos no local conhecido como Beco do 14. Após o tiroteio, eles teriam encontrado a jovem ferida e a levaram para o Hospital Municipal Salgado Filho, na mesma região, mas ela não resistiu. Como Kethlen ainda estava no início da gestação, com 3 meses, o bebê também não sobreviveu.

Testemunhas dizem que o tiro que matou a modelo partiu da polícia. A organização de direitos humanos Justiça Global requereu a apreensão das armas dos policiais em serviço na UPP. "Trata-se de mais um caso terrível de violência envolvendo agentes policiais, com a avassaladora morte de uma jovem que carregava um bebê ainda em seu ventre", afirmou a Justiça Global.

O viúvo de Kathlen, Marcelo Ramos, fez um desabafo em sua conta de Instagram e responsabilizou a polícia pela morte da modelo e a violência na cidade.

“Eu estou sabendo que a PM está tentando mudar os fatos, eles são os culpados. O culpado têm nome, é esse estado, essa polícia despreparada. Há um mês teve a chacina no Jacarezinho, agora é a Kath, amanhã é outra família que perde alguém próximo e isso não vai acabar”, disse ele.

Eu estou sabendo que a PM está tentando mudar os fatos, eles são os culpados. O culpado têm nome, é esse estado, essa polícia despreparada

Segundo levantamento da BandNews FM Rio, somente em 2020, foram 40 balas perdidas na cidade que deixaram ao menos 15 pessoas mortas. De acordo com a plataforma Fogo Cruzado, desde 2017 foram 15 grávidas baleadas por balas perdidas e 8 delas morreram. O estudo diz que 4 foram atingidas em ações da Polícia Militar.

Após a morte, moradores fizeram um protesto e fecharam a autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, uma das principais ligações entre as zonas Norte e Oeste do Rio de Janeiro. Os dois sentidos da via foram bloqueados. Os manifestantes ainda atearam fogo em objetos e colocaram caçambas de lixo no meio das pistas para pedir por Justiça.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), acatou um pedido no ano passado que impede ações policiais em comunidades do Rio durante a pandemia. "O reiterado descumprimento das determinações do STF vem sendo qualificado como uma verdadeira afronta à mais alta Corte do país. É essencial que se investigue as justificativas, circunstâncias e cautelas empregadas em cada ação das polícias fluminenses, sob o risco de absoluta chacota aos poderes que sedimentam o Estado Brasileiro", afirmou a Justiça Global.

A morte de Kathlen acontece 1 mês após a chacina do Jacarezinho, uma ação da Polícia Civil que deixou 28 mortos e é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro.

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