Membro do gabinete que coordena a estratégia israelense na guerra contra o Hamas, Gadi Eisenkot afirmou em entrevista a uma emissora de TV nacional veiculada nesta quinta-feira (18/01) que apenas um cessar-fogo levará à soltura dos mais de cem reféns que ainda são mantidos na Faixa de Gaza, e que aqueles que defendem que este objetivo pode ser atingido por meios militares estão espalhando ilusões.
Ele mesmo um alto membro das forças israelenses no passado e hoje membro do partido de centro-direita Unidade Nacional, Eisenkot criticou a forma como o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem conduzido o conflito e defendeu a realização de novas eleições nos próximos meses para restaurar a confiança pública no governo, que ele considera abalada após os atentados terroristas que o país sofreu em 7 de outubro.
Naquele dia, membros do Hamas e de outros grupos extremistas invadiram Israel, massacrando quase 1.200 pessoas e sequestrando outras cerca de 250 – acredita-se que 132 delas ainda estejam dentro da Faixa de Gaza. Não se sabe ao certo quantas estão vivas, mas o Exército israelense confirmou a morte de 27 pessoas até agora. Outros 105 reféns foram libertados após acordos de cessar-fogo. Apenas uma refém foi resgatada por tropas israelenses.
Segundo Eisenkot, o Exército está se esforçando ao máximo para salvar os reféns, mas "as chances são baixas, e dizer que isso [o resgate irá acontecer] é um delírio". "É preciso dizer, com bravura, que… não é possível trazer os reféns, vivos, a curto prazo, sem um acordo", afirmou. "Para mim, não há dilema: a missão de salvar civis vem antes de matar o inimigo."
Os atentados de 7 de outubro deram início à atual guerra que Israel trava contra o Hamas na Faixa de Gaza. No lado palestino, mais de 24 mil pessias morreram desde então, sendo cerca de 70% mulheres e menores, segundo fontes ligadas ao grupo radical islâmico. Os bombardeios também desencadearam uma crise humanitária, com as Nações Unidas alertando que um em cada quatro palestinos no enclave passa fome.
"Como uma democracia, Israel precisa se perguntar depois de um evento tão sério como esse: 'Como continuamos a partir daqui com uma liderança que falhou miseravelmente conosco?'"
Aniquilação total do Hamas é "ilusão"
Netanyahu afirma que as forças israelenses agem para trazer os reféns de volta para casa e desmantelar o grupo radical islâmico.
Esses dois objetivos da guerra foram questionados por Eisenkot, que além de defender um cessar-fogo também se referiu à ideia de aniquilação absoluta do Hamas como algo fora da realidade.
"Aquele que falar em derrota absoluta não está falando a verdade", disse o ex-militar. "Hoje, a situação na Faixa de Gaza é tal que os objetivos da guerra ainda não foram alcançados."
O próprio Eisenkot perdeu parentes nos combates que as forças israelenses vêm travando desde o final de outubro contra o Hamas dentro da Faixa de Gaza: o filho Gal Meir Eisenkot, 25, morto por uma bomba no início de dezembro, e o sobrinho Maor Cohen Eisenkot, 19, que morreu um dia depois.
O partido dele não integrava o governo de Netanyahu, mas aceitou juntar-se ao gabinete de guerra após o 7 de outubro.
Eisenkot sugeriu não confiar em Netanyahu e na condução do premiê da guerra, mas sim nas decisões tomadas pelo gabinete de guerra do qual ele também faz parte. Ele também acusou o premiê de falhar na sua responsabilidade de proteger o país.
Uma pesquisa recente aponta que apenas 15% dos israelenses apoia a permanência de Netanyahu no cargo após a guerra.
A entrevista foi transmitida horas depois de Netanyahu rejeitar a ideia de realizar novas eleições no meio de uma guerra que, segundo ele, poderia durar até 2025. O premiê também se mostrou avesso à ideia da criação de um estado palestino soberano, afirmando que qualquer solução futura para a paz na região precisa incluir o controle militar de Israel sobre "todo o território a oeste do Rio Jordão".
A ideia desagrada os Estados Unidos, maior aliado de Israel, que tem dirigido apelos ao país para que atue militarmente com maior precisão em Gaza, poupando civis, e sinalizado apoio à solução de dois Estados para a paz na região. A mesma posição tem sido adotada pela União Europeia e por líderes dos países-membros do bloco.
ra (AP, EFE, ots)