Entenda como estátuas com 2.000 anos achadas na lama podem reescrever a história

Conjunto de esculturas em "excepcional" estado de conservação foi encontrado em escavações na Itália

Felipe Romero, especial para band.com.br

Arqueólogos italianos descobriram mais de 20 estátuas em bronze com origem nos séculos I e II antes de Cristo, ou seja, há mais de 2,3 mil anos. As peças, que chegam a medir um metro de altura, emergiram da lama em um sítio arqueológico onde funcionam piscinas termais, na cidade de San Casciano dei Bagni, na província de Siena.

A descoberta é a mais importante na arqueologia italiana em pelo menos 50 anos, segundo comunicado do Ministério da Cultura do país. Além das estátuas, mais de 6 mil moedas de bronze, prata e ouro foram encontradas na região da antiga piscina, onde também havia uma espécie de santuário.

Descoberta pode reescrever história

As estátuas encontradas na região da antiga Toscana são de uma época de intensas transformações e conflitos na região, marcada pela transição do império Etrusco para o Romano. Inscrições em latim e etrusco indicam que o local era frequentado pela elite dos dois impérios. 

"Dentro do santuário, as famílias etruscas e romanas da elite rezavam juntas em um contexto de paz cercado por conflitos", afirma o professor e coordenador das escavações pela Universidade para Estrangeiros de Siena, Jacopo Tabolli.

"Esta possibilidade de reescrever a relação e a dialética entre etruscos e romanos é uma oportunidade excepcional", explica Tabolli.

O material usado, bronze, contrasta com a maioria dos artefatos da época encontrados até hoje, feitos em terracota. 

Deuses e oferendas 

Dentre os representados nas estátuas estão os deuses Apolo e Hígia (Salus, para os romanos). A segunda é associada à higiene e sempre representada com uma serpente enrolada no braço. 

Segundo o professor e coordenador das escavações pela Universidade para Estrangeiros de Siena, Jacopo Tabolli, as estátuas foram submersas em águas termais possivelmente durante rituais de cura.

"Você oferta as estátuas para a água porque espera que a água lhe dê algo em troca", explicou.

Além das estátuas representando divindades, foram encontradas outras sem partes do corpo como mãos e, ainda, representações de partes e órgãos individuais do corpo. 

Para o diretor de Museus do Ministério da Cultura italiano, Massimo Osanna, essas peças teriam sido ofertadas aos deuses para pedir curas médicas através das águas termais. 

"É quase um raio-X do interior humano, dos pulmões aos intestinos, tudo o que as águas curativas e a intervenção das divindades poderiam salvar."

Água quente e lama favoreceram conservação

Não foi só a quantidade e o material das peças que chamaram a atenção dos pesquisadores, mas o estado "excepcional" de conservação das esculturas. Segundo o professor da Universidade para Estrangeiros de Siena e coordenador das escavações, Jacopo Tabolli, a composição química da água que brota do chão ali foi responsável por manter as peças quase intactas.

"É precisamente a centralidade da água que condicionou a escolha pelos antigos deste lugar sagrado", afirma, sugerindo que não por acaso as estátuas foram depositadas no local.

Renascimento da cidade

A prefeita da pequena cidade de San Casciano dei Bagni, Agnese Carletti, celebra a descoberta como uma "chance real de renascimento" para o município, com a construção de um museu no local confirmada pelo Ministério da Cultura da Itália. 

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