Especialista descarta golpe de estado em rebelião de mercenários na Rússia

Crise militar em Moscou foi encerrada após acordo entre o governo russo e grupo Wagner, intermediado por Belarus

Eduardo Adante

Este sábado (24) foi marcado por tensões em território russo. Um grupo paramilitar que lutava pela Rússia na Guerra da Ucrânia se rebelou contra o exército de Vladimir Putin e deu início a uma crise militar em Moscou.

Algumas horas depois da escalada da crise, Yevgeny Prigozhin, líder do grupo de mercenários Wagner, chegou a um acordo intermediado por Belarus para deter o avanço rebelde em direção à Moscou.

Na avaliação de Valdir da Silva Bezerra, mestre em relações internacionais pela Universidade Estatal de São Petersburgo, a rebelião não se configurava como um golpe de estado: 

“A principal pretensão do Yevgeny Prigozhin e do grupo Wagner não era de mudança do governante da Rússia, mas sim, pretensões com o atual ministro de Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, e o comandante das Forças Armadas, Valeri Gerassimov. ”

O grupo Wagner é uma organização privada paramilitar, que contrata combatentes por prazo determinado. Valdir explica que o líder do grupo Wagner também foi amigo e associado próximo de Putin em anos anteriores. 

O estopim foi na noite desta sexta (23), quando Prigozhin disse que o ministro da Defesa atacou um acampamento do grupo Wagner e que muitos de seus combatentes morreram. 

“A notícia tomou conta dos noticiários de surpresa. Prigozhin tinha a intenção de trazer o ministro da Defesa, Sergei Shoigu a Justiça russa. O motim foi motivado por uma interpretação do líder do grupo Wagner”, explicou Valdir Bezerra.

Valdir Bezerra, que mora em São Petersburgo, relatou que o motim não foi esperado: “Por algum momento, no começo do dia, era um clima de incerteza, pareceu que a situação poderia realmente escalar. Mas agora, os lados estão tentando diminuir as tenções e o conflito doméstico. ”

Na tarde deste sábado (24), o governo russo confirmou o acordo com o grupo Wagner, e disse que não vai processar o líder dos mercenários que liderou uma tentativa de golpe.

Segundo comunicado enviado pelo Kremlin, Yevgeny Prigogine deverá partir para Belarus, e a investigação russa contra ele será arquivada. Prigogine anunciou que concordou em encerrar a rebelião e a marcha em direção a Moscou para evitar um derramamento de sangue. O acordo foi feito com intermediação do governo de Belarus, grande aliado de Putin.

Em nota, o gabinete do ditador Alexander Lukashenko disse que os mercenários iriam suspender o motim e voltar a suas bases, em troca de garantias de segurança para os combatentes. Lukashenko teria conversado diretamente com Prigogine e telefonou para Putin duas vezes.

Entenda

Um grupo paramilitar que lutava pela Rússia na Guerra da Ucrânia se rebelou contra o exército de Vladimir Putin e deu início a uma crise militar em Moscou. Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo de mercenários Wagner, declarou abertamente que está em uma campanha para contra a defesa russa. 

Tudo começou após desentendimentos entre o grupo paramilitar e o exército russo. O estopim foi nesta sexta (23), quando Prigozhin disse que o ministério da defesa atacou um acampamento do grupo Wagner e que muitos de seus combatentes morreram. Horas antes do suposto ataque, o líder do pelotão mercenário divulgou um vídeo no qual afirmou que a invasão militar russa ao território ucraniano era baseada em mentiras.

Prigozhin e o grupo paramilitar Wagner

O grupo Wagner é uma organização privada paramilitar com ligações com o governo russo. Eles surgiram em 2014, quando ajudaram as tropas russas a anexar a região da Crimeia, que é território ucraniano. Desde então, os mercenários apoiaram o exército russo em conflitos e guerras civis, incluindo a invasão da Ucrânia, em 2022. Entre os apoios na invasão, o grupo esteve envolvido na tomada da cidade ucraniana de Bakhmut, na batalha mais longa e sangrenta do conflito. 

O líder, Yevgeny Prigozhin, de 62 anos, é um oligarca russo e ex-prisioneiro da União Soviética. Ele também é procurado pelo FBI, acusado de ajudar a fraudar as eleições presidenciais americanas de 2016, vencidas por Donald Trump. 

Ex-chef de cozinha, Prigozhin é dono de uma rede de restaurantes que presta serviços ao Kremlin. Com isso, ele diz ter "laços profundos" com o Vladimir Putin. Atualmente, estima-se que haja mais de 50 mil soldados do grupo Wagner e que cerca de 20 mil estejam combatendo na Ucrânia. 

Zelensky critica Rússia

O presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky se manifestou, neste sábado (24), a respeito da rebelião do grupo Wagner em território russo. 

Em uma publicação nas redes sociais, o presidente ucraniano afirmou que a “fraqueza da Rússia é óbvia” e comparou os danos causados pela presença dos paramilitares em território ucraniano com a crise atual. 

“A fraqueza da Rússia é óbvia. Fraqueza em grande escala. E quanto mais a Rússia mantiver suas tropas e mercenários em nossa terra, mais caos, dor e problemas ela terá para si mesma mais tarde”, disse em seu perfil no Twitter.

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