Este sábado (24) foi marcado por tensões em território russo. Um grupo paramilitar que lutava pela Rússia na Guerra da Ucrânia se rebelou contra o exército de Vladimir Putin e deu início a uma crise militar em Moscou.
Algumas horas depois da escalada da crise, Yevgeny Prigozhin, líder do grupo de mercenários Wagner, chegou a um acordo intermediado por Belarus para deter o avanço rebelde em direção à Moscou.
Na avaliação de Valdir da Silva Bezerra, mestre em relações internacionais pela Universidade Estatal de São Petersburgo, a rebelião não se configurava como um golpe de estado:
“A principal pretensão do Yevgeny Prigozhin e do grupo Wagner não era de mudança do governante da Rússia, mas sim, pretensões com o atual ministro de Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, e o comandante das Forças Armadas, Valeri Gerassimov. ”
O grupo Wagner é uma organização privada paramilitar, que contrata combatentes por prazo determinado. Valdir explica que o líder do grupo Wagner também foi amigo e associado próximo de Putin em anos anteriores.
O estopim foi na noite desta sexta (23), quando Prigozhin disse que o ministro da Defesa atacou um acampamento do grupo Wagner e que muitos de seus combatentes morreram.
“A notícia tomou conta dos noticiários de surpresa. Prigozhin tinha a intenção de trazer o ministro da Defesa, Sergei Shoigu a Justiça russa. O motim foi motivado por uma interpretação do líder do grupo Wagner”, explicou Valdir Bezerra.
Valdir Bezerra, que mora em São Petersburgo, relatou que o motim não foi esperado: “Por algum momento, no começo do dia, era um clima de incerteza, pareceu que a situação poderia realmente escalar. Mas agora, os lados estão tentando diminuir as tenções e o conflito doméstico. ”
Na tarde deste sábado (24), o governo russo confirmou o acordo com o grupo Wagner, e disse que não vai processar o líder dos mercenários que liderou uma tentativa de golpe.
Segundo comunicado enviado pelo Kremlin, Yevgeny Prigogine deverá partir para Belarus, e a investigação russa contra ele será arquivada. Prigogine anunciou que concordou em encerrar a rebelião e a marcha em direção a Moscou para evitar um derramamento de sangue. O acordo foi feito com intermediação do governo de Belarus, grande aliado de Putin.
Em nota, o gabinete do ditador Alexander Lukashenko disse que os mercenários iriam suspender o motim e voltar a suas bases, em troca de garantias de segurança para os combatentes. Lukashenko teria conversado diretamente com Prigogine e telefonou para Putin duas vezes.
Entenda
Um grupo paramilitar que lutava pela Rússia na Guerra da Ucrânia se rebelou contra o exército de Vladimir Putin e deu início a uma crise militar em Moscou. Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo de mercenários Wagner, declarou abertamente que está em uma campanha para contra a defesa russa.
Tudo começou após desentendimentos entre o grupo paramilitar e o exército russo. O estopim foi nesta sexta (23), quando Prigozhin disse que o ministério da defesa atacou um acampamento do grupo Wagner e que muitos de seus combatentes morreram. Horas antes do suposto ataque, o líder do pelotão mercenário divulgou um vídeo no qual afirmou que a invasão militar russa ao território ucraniano era baseada em mentiras.
Prigozhin e o grupo paramilitar Wagner
O grupo Wagner é uma organização privada paramilitar com ligações com o governo russo. Eles surgiram em 2014, quando ajudaram as tropas russas a anexar a região da Crimeia, que é território ucraniano. Desde então, os mercenários apoiaram o exército russo em conflitos e guerras civis, incluindo a invasão da Ucrânia, em 2022. Entre os apoios na invasão, o grupo esteve envolvido na tomada da cidade ucraniana de Bakhmut, na batalha mais longa e sangrenta do conflito.
O líder, Yevgeny Prigozhin, de 62 anos, é um oligarca russo e ex-prisioneiro da União Soviética. Ele também é procurado pelo FBI, acusado de ajudar a fraudar as eleições presidenciais americanas de 2016, vencidas por Donald Trump.
Ex-chef de cozinha, Prigozhin é dono de uma rede de restaurantes que presta serviços ao Kremlin. Com isso, ele diz ter "laços profundos" com o Vladimir Putin. Atualmente, estima-se que haja mais de 50 mil soldados do grupo Wagner e que cerca de 20 mil estejam combatendo na Ucrânia.
Zelensky critica Rússia
O presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky se manifestou, neste sábado (24), a respeito da rebelião do grupo Wagner em território russo.
Em uma publicação nas redes sociais, o presidente ucraniano afirmou que a “fraqueza da Rússia é óbvia” e comparou os danos causados pela presença dos paramilitares em território ucraniano com a crise atual.
“A fraqueza da Rússia é óbvia. Fraqueza em grande escala. E quanto mais a Rússia mantiver suas tropas e mercenários em nossa terra, mais caos, dor e problemas ela terá para si mesma mais tarde”, disse em seu perfil no Twitter.