Equipe de política externa de Trump aponta para expansão de conflitos, indica especialista

Presidente eleito dos Estados Unidos escolhe nomes vistos como "falcões"

Por Guilherme Machado

Donald Trump conquistou um novo mandato como presidente dos Estados Unidos
REUTERS/Brian Snyder/File Photo

Durante a campanha presidencial, Donald Trump afirmou que conseguiria dar fim aos conflitos que hoje assolam diversas regiões do mundo, sobretudo a guerra na Ucrânia e o conflito entre Israel e Hamas no Oriente Médio. Porém, as escolhas do Republicano para sua equipe de política externa parecem apontar no sentido oposto. O presidente eleito dos Estados Unidos anunciou diversos nomes vistos como “falcões”, ou seja, de forte verve intervencionista e que defendem políticas duras contra rivais dos interesses norte-americanos.

Natália Fingermann, professora de relações internacionais da ESPM, destaca os nomes de Elise Stefanik, escolhida para ser a embaixadora dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU), e Marco Rubio, que será o Secretário de Estado, chefe da diplomacia da nação.

A especialista frisa que Elise, por exemplo, é uma forte defensora de Israel e se manifestou contrária a qualquer movimento pró-palestina, algo que deve ser endurecido a partir de agora.

“Ela indica claramente que o Trump não está preocupado em manter os vetos em relação à guerra em Gaza. Ela é uma defensora do conflito em Gaza, apoia Israel. Ela também tem atuado dentro dos Estados Unidos contra as manifestações pró-palestina que aconteceram dentro de algumas universidades”, ressalta ela.

Para Natália, a definição da nova embaixadora não aponta para um rumo de paz.

“O nome dela não é uma boa notícia para o Oriente Médio. Dificilmente vamos ver um fim do conflito entre o Líbano, Israel e Guerra”, frisa.

A escolha de Marco Rubio vai pelo mesmo caminho. 

“Ele tem sido um crítico feroz do Irã e da China. Me parece que teremos uma intensificação no conflito no Oriente Médio, com potencial de expansão para o Irã, e teremos um aumento do conflito com a China”, explica Natália.

Apesar de não ver no horizonte um atrito militar entre EUA e China, a professora vê como certos os embates econômicos entre os dois países, sobretudo em relação às tarifas que Trump promete impor a produtos chineses.

Quando se pensa nessas escolhas, percebe-se que a expectativa que se tinha de levar ao fim os conflitos mundiais não deve ser realizada

Brasil e América Latina

Natália Fingermann vê na presença de Marco Rubio no Departamento de Estado uma possibilidade de acirramento da polarização interna no Brasil, uma vez que o político é próximo da família Bolsonaro e de outras figuras da extrema-direita na América Latina.

Entretanto, ela não observa a América do Sul como prioridade de Rubio no primeiro momento.

“Acho que o principal foco no primeiro ano de governo será endurecer ainda mais as medidas contra Cuba. Rubio é de uma família cubana,de refugiados, e tem uma questão muito pessoal [com o país]. Também entendo que ele vai atuar contra o governo de Ortega, em Nicarágua. Ele ainda vai trabalhar com outros atores da região, como [Nayib] Bukele em El Salvador, para fortalecer esse discurso de extrema-direita na América Central”, detalha a especialista.

No quis diz respeito aos vizinhos do Brasil, Natália vê Rubio próximo de Javier Milei, presidente da Argentina, e não descarta que o futuro chefe da diplomacia norte-americana volte a olhar para o Brasil nas eleições de 2026.

“Talvez ele se utilize dessa aliança com Milei para fazer ataques mais duros contra a Venezuela. Se isso vai acarretar em mais sanções à Venezuela, é difícil de saber, uma vez que os Estados Unidos ainda compram petróleo venezuelano. Com a política de Donald Trump de focar em combustíveis fosseis, é bem provável que a Venezuela entre como um ator relevante nesse processo”, arremata.

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