Durante a campanha presidencial, Donald Trump afirmou que conseguiria dar fim aos conflitos que hoje assolam diversas regiões do mundo, sobretudo a guerra na Ucrânia e o conflito entre Israel e Hamas no Oriente Médio. Porém, as escolhas do Republicano para sua equipe de política externa parecem apontar no sentido oposto. O presidente eleito dos Estados Unidos anunciou diversos nomes vistos como “falcões”, ou seja, de forte verve intervencionista e que defendem políticas duras contra rivais dos interesses norte-americanos.
Natália Fingermann, professora de relações internacionais da ESPM, destaca os nomes de Elise Stefanik, escolhida para ser a embaixadora dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU), e Marco Rubio, que será o Secretário de Estado, chefe da diplomacia da nação.
A especialista frisa que Elise, por exemplo, é uma forte defensora de Israel e se manifestou contrária a qualquer movimento pró-palestina, algo que deve ser endurecido a partir de agora.
“Ela indica claramente que o Trump não está preocupado em manter os vetos em relação à guerra em Gaza. Ela é uma defensora do conflito em Gaza, apoia Israel. Ela também tem atuado dentro dos Estados Unidos contra as manifestações pró-palestina que aconteceram dentro de algumas universidades”, ressalta ela.
Para Natália, a definição da nova embaixadora não aponta para um rumo de paz.
“O nome dela não é uma boa notícia para o Oriente Médio. Dificilmente vamos ver um fim do conflito entre o Líbano, Israel e Guerra”, frisa.
A escolha de Marco Rubio vai pelo mesmo caminho.
“Ele tem sido um crítico feroz do Irã e da China. Me parece que teremos uma intensificação no conflito no Oriente Médio, com potencial de expansão para o Irã, e teremos um aumento do conflito com a China”, explica Natália.
Apesar de não ver no horizonte um atrito militar entre EUA e China, a professora vê como certos os embates econômicos entre os dois países, sobretudo em relação às tarifas que Trump promete impor a produtos chineses.
Quando se pensa nessas escolhas, percebe-se que a expectativa que se tinha de levar ao fim os conflitos mundiais não deve ser realizada
Brasil e América Latina
Natália Fingermann vê na presença de Marco Rubio no Departamento de Estado uma possibilidade de acirramento da polarização interna no Brasil, uma vez que o político é próximo da família Bolsonaro e de outras figuras da extrema-direita na América Latina.
Entretanto, ela não observa a América do Sul como prioridade de Rubio no primeiro momento.
“Acho que o principal foco no primeiro ano de governo será endurecer ainda mais as medidas contra Cuba. Rubio é de uma família cubana,de refugiados, e tem uma questão muito pessoal [com o país]. Também entendo que ele vai atuar contra o governo de Ortega, em Nicarágua. Ele ainda vai trabalhar com outros atores da região, como [Nayib] Bukele em El Salvador, para fortalecer esse discurso de extrema-direita na América Central”, detalha a especialista.
No quis diz respeito aos vizinhos do Brasil, Natália vê Rubio próximo de Javier Milei, presidente da Argentina, e não descarta que o futuro chefe da diplomacia norte-americana volte a olhar para o Brasil nas eleições de 2026.
“Talvez ele se utilize dessa aliança com Milei para fazer ataques mais duros contra a Venezuela. Se isso vai acarretar em mais sanções à Venezuela, é difícil de saber, uma vez que os Estados Unidos ainda compram petróleo venezuelano. Com a política de Donald Trump de focar em combustíveis fosseis, é bem provável que a Venezuela entre como um ator relevante nesse processo”, arremata.