Em entrevista a Eduardo Oinegue, na rádio BandNews FM, nesta sexta-feira (10), o ex-presidente Michel Temer (MDB) deu mais detalhes a respeito da articulação feita entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O diálogo entre as partes culminou em uma carta divulgada na quinta-feira (9), na qual Bolsonaro declarou “respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país”.
A postura nos encontros foi bastante diferente da adotada pelo presidente da República nas manifestações dos atos do dia 7 de setembro. Na ocasião, chamou Moraes de “canalha” e disse que não cumpriria decisões tomadas pelo ministro. Porém, na conversa com Moraes, que foi feita pelo viva-voz do telefone do ex-presidente e que durou cerca de 15 minutos, o tom foi amigável. Segundo Temer, Bolsonaro falou que “não tinha nada pessoal contra o ministro”. Porém, Temer relatou que não houve um pedido de desculpas.
“Evidentemente não tenho essa impressão do senhor, etc., de jeito maneira, pelo contrário, tenho muito respeito. Você verifica que na declaração, eu estou enaltecendo a sua função de jurista, de professor. Foi nesse tom, o tom foi muito amigável”, relembrou Temer na entrevista para Oinegue.
“Repetiu ao ministro que, na verdade, não tinha absolutamente nada contra o ministro, pessoal. Evidentemente, tem lá suas divergências jurídicas, mas que poderiam ser solucionadas, como consta nos documentos, aliás”, completou.
Temer fala em “breve anotação” de Bolsonaro em carta
Temer explicou que foi procurado por Bolsonaro por telefone. Na conversa entre os dois, o ex-presidente ofereceu ao sucessor boa parte do texto que foi divulgado.
“Eu estava um pouco fora de tudo isso. Mas em função do telefonema dele (...), eu disse: ‘Seu discurso não foi bom, foi destrutivo. Não se fala de um ministro do Supremo daquele jeito’”, afirmou Temer. “Ele até concordou. Disse: ‘Nós precisamos conversar’.”
O ex-presidente conversou também com Alexandre de Moraes – que, segundo Michel Temer, “sempre me disse que as decisões dele são pautadas por critérios jurídicos”.
Após as conversas, Temer foi convidado por Bolsonaro para ir a Brasília para um almoço. O ex-presidente sinalizou positivamente, mas indicou que poderia colaborar de maneira mais participativa com a solução do conflito entre os Poderes.
“Eu disse: ‘Presidente, não posso ir aí só para almoçar. Eu elaborei uma declaração que seria útil para o país, para pacificar o país. Eu sempre preguei uma harmonia entre os Poderes e acho que a situação está intolerável neste momento’”, relatou.
Por telefone, Temer leu o rascunho, que foi aprovado por Bolsonaro. Então, viajou para o almoço em Brasília. Na capital federal, o texto foi novamente lido. Segundo Temer, o chefe do Executivo “fez uma breve anotação” sobre o texto e propôs que o convidado ficasse “mais umas duas horas”.
Em Brasília, Temer aproveitou para visitar o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Depois, voltou a se encontrar com Bolsonaro e encontrou a carta final pronta, com poucas mudanças. Na sequência, a carta foi divulgada.
Após a publicação, Temer afirma que voltou a entrar em contato com Alexandre de Moraes. Os dois então conversaram por telefone, e Moraes aceitou conversar por telefone com Bolsonaro.
Temer diz não mirar candidatura em 2022
O ex-presidente se disse “muito surpreso" com a repercussão de sua atuação, que culminou na “Declaração à Nação” de Bolsonaro, elogiada por diversas esferas políticas e teve efeito positivo quase imediato no mercado financeiro. Apesar dos elogios, com direito até a hashtag Volta Temer, o líder do MDB disse que não pensa em se candidatar à Presidência, mas que não precisa “divulgar isso por escrito”.
“Não está no meu horizonte, já fiz o que deveria fazer, hoje eu posso colaborar como colaborei nesses dias, até para surpresa minha, com muita modéstia, teve uma repercussão extraordinária. Colaboro quando posso, quando sou chamado, mas não tenho a menor disposição de voltar a disputar uma presidência da República", garantiu.
Porém, como declarou por diversas vezes, acha que o Brasil tem espaço e merece ter a chamada “terceira via”, opção à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula, que lideram atualmente as pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais.
“Há espaço e eu sempre digo que é uma homenagem ao eleitorado”, analisou.