Entenda como a esquerda deu reviravolta ao derrotar a extrema-direita na França

Derrota da extrema-direita na França representa uma revitalização de forças do centro e progressistas na Europa, analisou um especialista entrevistado pela Band

Por Édrian Santos

Esquerda surpreende e derrota extrema-esquerda na França
REUTERS/Abdul Saboor

Na França, as eleições legislativas surpreenderam o mundo. Na contramão do resultado do primeiro turno e do que previam analistas, o campo da esquerda, liderado por Jean-Luc Mélenchon, e macronistas, de centro, derrotaram a extrema-direita de Marine Le Pen, cujo partido é criticado por manifestações racistas e anti-imigração.

Apesar da derrota no último domingo (7), o partido de Le Pen, o Reagrupamento Nacional (RN), conseguiu o terceiro maior número de assentos no parlamento francês e impediu a maioria absoluta da esquerda.

Nesse contexto, vale relembrar que o otimismo sobre o avanço da extrema-direita ocorreu após a eleição para o Parlamento Europeu. Na ocasião, candidatos desse espectro político obtiveram a terceira maior força, apesar da liderança da centro-direita.

Macron dissolve parlamento

O avanço da extrema-direita no Parlamento Europeu, portanto, deixou o mundo em alerta e fez o presidente da França, Emmanuel Macron, dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições legislativas, numa tentativa de garantir maioria no parlamento.

Nesse sentido, Le Pen e aliados iniciaram as campanhas, sobretudo à defesa do endurecimento das regras contra a imigração no país e ataques às políticas econômicas macronistas.

Enquanto a extrema-esquerda, esquerda e centro-direita estavam divididas até o primeiro turno, a internet se tornava o principal instrumento do RN para a captação de eleitores. Conhecido pela força nas redes sociais, Jordan Bardella, de apenas 28 anos e sem formação superior, era o cotado para ser o primeiro-ministro da França, caso o partido saísse vencedor.

O acordo da esquerda com macronistas

Preocupados com a possibilidade de um governo de coabitação entre Macron e Bardella, a dividida esquerda e o centro se aliaram. O acordo envolveu a desistência de candidatos que, com base nos resultados do primeiro turno, não venceriam. Na prática, a medida impulsionaria a votação dos perfis mais progressistas e barraria a vitória da extrema-direita. Foi o que aconteceu, conforme explicou o professor Roberth Bandeira, analista político e doutor em sociologia.

“Essas duas frentes [esquerda e macronista] se mobilizaram e mobilizaram os eleitores, resultando um segundo turno com a maior participação desde 1981, formando uma ampla coalizão para impedir a vitória da extrema-direita. A bandeira que essa união levantou foi a importância de preservar os valores democráticos e republicanos”, pontuou o analista.

Para além das alianças partidárias, personalidades francesas se posicionaram contra a extrema-direita. O astro do futebol Kylian Mbappé chamou a população para votar após o resultado que ele considerou catastrófico no primeiro turno. O ex-jogador brasileiro Raí, reconhecido pela atuação no clube Paris Saint-Germain e mestre em políticas públicas, chegou a discursar, em Paris, contra o extremismo.

Divisão do parlamento e novo governo

A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) garantiu a liderança com 182 assentos na Assembleia Nacional, seguida da macronista Ensemble, com 168, e da Reunião Nacional, com 143. Nenhuma das legendas conseguiu a maioria absoluta, o que impõe dificuldade quanto à escolha do novo primeiro-ministro.

A expectativa é que a NFP indique o novo premiê, mas não sem negociação. O grupo é formado pelos partidos A França Insubmissa (LFI), de esquerda radical, o tradicional Partido Socialista (PS), o Partido Comunista e Os Verdes.

Revitalização centrista e progressista

Para Bandeira, a derrota da extrema-direita na França representa uma revitalização de forças do centro e progressistas na Europa. Na entrevista à Band, o especialista reforçou que o resultado francês também repercute no mundo e até mesmo no Brasil.

“Na Europa, essa reviravolta na França sinaliza a revitalização das forças centristas e progressistas, em um momento de crescente polarização. A capacidade de formar essa união ampla pode servir de modelo para outros países europeus, que também enfrentam desafios semelhantes”, analisou o especialista.

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