O preço do petróleo subiu na manhã desta quarta-feira (2) após os ataques com mísseis do Irã contra Israel. O petróleo bruto Brent do Mar do Norte e o petróleo bruto WTI dos EUA subiram, cada um, mais de 1,5%, para 74,74 e 71,04 dólares por barril (1 barril = 159 litros) na manhã de quarta-feira. Os preços já haviam subido cerca de 2,5% no dia anterior.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já anunciou que pretende retaliar o ataque do Irã, mas sem dar detalhes. O alvo poderia ser instalações de petróleo no Irã e outros locais estratégicos, informou o portal de notícias americano Axios, citando autoridades israelenses.
"O Irã fornece cerca de 4% do suprimento global de petróleo. A questão importante agora é se a Arábia Saudita aumentará sua produção no caso de os fornecimentos iranianos serem interrompidos", escreveram especialistas da empresa de análise Capital Economics.
Exportações de petróleo apesar das sanções
As exportações de petróleo são uma importante fonte de renda para o Irã. E embora os EUA tenham se retirado do acordo nuclear com o Irã em 2018 e reimposto sanções ao setor petrolífero do país, que desde então foram prorrogadas, o Irã ainda consegue vender petróleo no exterior, especialmente para a China.
Em 2023, as exportações de petróleo do país totalizaram "mais de 35 bilhões de dólares" (R$ 190 bilhões), como anunciou em março o ministro do Petróleo, Javad Owji – conforme relatado pelo jornal Financial Times.
Para o período de janeiro a maio de 2024, a empresa de análise Vortexa, especializada no setor de energia, calculou um aumento para uma média de 1,56 milhão de barris por dia. "O aumento das exportações foi possível graças ao aumento da produção de petróleo bruto, à maior demanda da China e à expansão da frota escura", disse a Vortexa no final de junho de 2024.
A "frota escura", também conhecida como "frota fantasma", é como são chamados os navios camuflados que contrabandeiam petróleo para contornar as sanções. De acordo com a organização americana sem fins lucrativos United Against Nuclear Iran (Uani), a frota clandestina do Irã é composta por pelo menos 383 navios.
O Irã vende seu petróleo com um desconto de 20% em relação ao preço do mercado mundial, segundo estimativas da estação de TV Iran International, com sede em Londres, em troca do risco de os compradores terem problemas devido às sanções dos EUA.
"As refinarias chinesas são os principais compradores das remessas ilegais de petróleo do Irã, que são misturadas por intermediários com remessas de outros países e declaradas na China como importações de Cingapura ou de outros países de origem", disse a emissora.
Moeda fraca, inflação em alta
As sanções impostas pelo Ocidente não afetam apenas o setor petrolífero, mas também as transações de pagamento internacionais com o Irã. Isso fez com que a moeda nacional, o rial, despencasse.
Hoje, os iranianos têm de pagar 580 mil riais por um dólar americano no mercado negro. Depois que o acordo para interromper o programa nuclear do Irã foi assinado em 2015, um dólar ainda valia 32 mil riais.
As sanções e a baixa taxa de câmbio tornam mais caros os produtos de uso diário, em parte porque o Irã não é independente quando se trata do fornecimento de alimentos. A taxa de inflação está atualmente em torno de 40%.
Comparação do poder econômico
Embora a renda proveniente das exportações de petróleo tenha se estabilizado nos últimos anos, o Irã é tudo menos um peso pesado econômico. Com cerca de 88 milhões de pessoas, sua população é quase dez vezes maior que a de Israel (nove milhões). No entanto, com cerca de 403 bilhões de dólares, a produção econômica do Irã em 2023 foi significativamente menor do que a de Israel, com cerca de 509 bilhões de dólares.
As diferenças ficam ainda mais claras na relação entre o valor total de todos os bens e serviços produzidos em um ano, o Produto Interno Bruto (PIB), e a população. De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB per capita no Irã foi de 4.663 dólares no ano passado, enquanto em Israel foi de mais de 52 mil dólares.
Para a classe média, a situação econômica se deteriorou visivelmente nas últimas duas décadas. "O padrão de vida voltou ao que era há 20 anos por causa das sanções", disse Djavad Salehi-Isfahani, professor de economia da universidade americana Virginia Tech, em entrevista à DW.
Corrupção e falta de transparência
De qualquer forma, muito dinheiro se infiltra nas estruturas não transparentes dos que estão no poder em Teerã. No índice da Transparência Internacional, que mede a percepção de corrupção, o Irã ocupa a 149ª posição entre 180 países. Israel está em 33º lugar, em comparação com o 24º lugar dos EUA e o nono lugar da Alemanha.
Particularmente opaco é o papel da Guarda Revolucionária (um exército paralelo) e das fundações religiosas, que controlam partes centrais da economia. Eles não pagam impostos, não precisam apresentar balanços patrimoniais e, acima de tudo, estão subordinados ao chefe político e religioso do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
Insatisfação da população
No Irã, o presidente é eleito pelo povo – mais recentemente em julho de 2024 – mas o país não é uma democracia. Dos 80 candidatos, o ultraconservador Conselho dos Guardiões só permitiu que seis candidatos concorressem às votações.
O regime está tentando comprar a paz social por meio de subsídios, por exemplo, para alimentos e gasolina. Apesar de toda a repressão, ele parece temer a insatisfação da população. Há repetidos protestos contra a liderança política, desencadeados, por exemplo, pelo aumento dos preços ou pela obrigatoriedade do uso do lenço na cabeça para as mulheres.
Uma guerra com Israel seria um grande fardo econômico para o Irã. Poderia fazer com que o governo em Teerã tivesse que economizar em outras áreas, o que, consequentemente, aumentaria o descontentamento no país.
Autor: Andreas Becker, Thomas Kohlmann