Eleições americanas: O que é o "Projeto 2025" e por que ele é polêmico?

Plano polêmico da direita conservadora traça metas de governo para um eventual governo Trump. Republicano diz que não tem nada a ver com iniciativa, que poderia lhe fazer perder muitos votos de eleitores indecisos.

Por Deutsche Welle

Daqui a menos de quatro meses, os Estados Unidos terão um novo presidente. E se até lá não houverem grandes mudanças na campanha, os eleitores terão que escolher, como da última vez, entre o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump.

Se Trump ganhar, ele já tem à disposição um esboço de programa de governo com cerca de 900 páginas – uma "obra de todo o movimento conservador" americano, segundo o próprio texto. Intitulado "Project 2025" (Projeto 2025), o manifesto gerou indignação e preocupação entre democratas e apoiadores.

Quem está por trás do "Project 2025"?

Plano da direita conservadora para o próximo presidente republicano, o "Project 2025" foi elaborado pela Heritage Foundation e tem o apoio de várias outras organizações conservadoras e think tanks.

A iniciativa não é de todo inédita. Há décadas a Heritage Foundation elabora listas de desejos para o próximo presidente republicano – uma prática comum nos EUA, afirma Hans Noel, cientista político da Universidade de Georgetown em Washington. "Especialistas, analistas e outros desenvolvem a direção ideológica antes que ela seja adotada por partidos e políticos", explica.

Participaram da elaboração do plano diversas personalidades do círculo de Trump. São ex-funcionários e aliados, como Russell Vought, ex-chefe do Escritório de Gestão e Orçamento dos EUA.

No que exatamente consiste esse plano?

As recomendações do "Project 2025" focam nas "quatro frentes que decidirão o futuro da América": a restauração da família, a abolição do Estado administrativo, a defesa da soberania nacional e a garantia "das nossas liberdades individuais dadas por Deus".

Entre os principais pontos estão a ampliação de poderes presidenciais, com a facilitação da substituição de funcionários federais por colaboradores leais a Trump, além da eliminação ou reestruturação de vários órgãos públicos, como o Departamento de Justiça. "Isso remodelaria a burocracia estatal de tal maneira que minaria tanto seu saber especializado quanto sua independência", explica Noel.

Nas áreas econômica e energética, o plano prevê cortes na taxação de empresas e de renda, com priorização de petróleo e gás em detrimento das energias renováveis, deixando de lado as metas de redução de emissões e as políticas de incentivo à economia verde.

Na agenda dos costumes, os autores do texto, que se apresentam como defensores das liberdades, defendem o banimento de termos como orientação sexual, identidade de gênero e direitos reprodutivos de leis e regulamentos, bem como a eliminação das "lições danosas da 'teoria crítica da raça' e da 'ideologia de gênero' dos currículos de todas as escolas públicas do país". Igualmente proibidas seriam a pornografia e a pílula abortiva mifepristona – já que, como argumenta o documento, um governo conservador tem o dever de "proteger o nascituro em qualquer instância jurídica da América".

Quanto à migração, o texto fala em fechar "as lacunas evidentes" no sistema americano com, entre outras medidas, mais recursos para um muro, mais tecnologia e mais agentes na fronteira com o México, além de uma legislação de asilo mais rigorosa – que, por exemplo, exija dos refugiados provas mais contundentes sobre os riscos aos quais estão expostos.

Na política externa, vale o jargão "America first" (os Estados Unidos em primeiro lugar). A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) deve ser reformulada, para que outros membros da aliança militar assumam mais responsabilidade por ela, e as tropas americanas na Europa devem ser reduzidas. Ao mesmo tempo, o plano defende um aumento do orçamento militar.

Em relação à guerra na Ucrânia, não há uma posição consolidada. Alguns conservadores consideram necessária a manutenção do apoio militar e econômico americano ao país. Outros questionam se o apoio à Ucrânia "é mesmo um interesse da segurança nacional da América". Essa ala argumenta que Kiev "não é membro da Otan e é uma das nações mais corruptas da região".

Qual é a relevância do "Project 2025"?

Kevin Roberts, presidente da Heritage Foundation, diz que seu plano marca o início de uma "Segunda Revolução Americana" (alusão à guerra de independência do país contra o Reino Unido): "Não violenta, se a esquerda permitir."

Biden discorda. Recentemente, o presidente americano acusou Trump e seus aliados de sonharem "com uma revolução violenta para destruir a ideia América", e diz que o projeto prova que o republicano adotará uma série de medidas autoritárias se for eleito.

O cientista político Noel afirma que a relevância do "Project 2025" está justamente na delineação de uma estratégia abrangente para um governo republicano, dando ao partido uma agenda e um roteiro que ele não teve quando Trump foi eleito, em 2016, algo que rendeu muitas críticas ao republicano.

Por que Donald Trump tenta se distanciar do plano?

Curiosamente, Trump tem tentado se distanciar publicamente do "Project 2025".

"Não tenho ideia de quem está por trás disso. Não concordo com algumas das coisas que dizem e outras são absolutamente ridículas e chocantes. O que quer que eles façam, desejo-lhes sorte, mas não tenho nada a ver com eles", postou em sua rede social, a Truth Social.

Noel explica que essa estratégia de permanecer ambíguo em relação a algumas pautas conservadoras tem sido benéfica para Trump, garantindo-lhe sucesso com eleitores indecisos, que provavelmente não receberiam bem muitas das propostas do manifesto conservador.

O plano oficial de governo do candidato deve ser aprovado na convenção nacional dos republicanos, marcada para a semana que vem.

Autor: Ines Eisele

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