O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, advertiu nesta terça-feira (19/09), durante discurso Assembleia Geral das Nações Unidas, que nenhum país estará seguro em sua independência se a Ucrânia perder a guerra contra a Rússia.
Para o mandatário americano, é necessário o apoio militar contínuo ao governo da Ucrânia para defender a integridade territorial do país e "dissuadir" Moscou de invadir outros países no futuro.
"A Rússia acredita que o mundo vai se cansar e permitir que brutalize a Ucrânia sem consequências. Se abandonarmos os princípios básicos da Carta da ONU, algum Estado-membro poderá se sentir seguro? Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, a independência de qualquer nação estará assegurada? A resposta é não", advertiu.
Biden prometeu que os EUA continuarão apoiando o povo ucraniano. "Os Estados Unidos, junto com os nossos aliados e parceiros em todo o mundo, continuarão a apoiar o corajoso povo da Ucrânia na defesa da sua soberania e integridade territorial – e da sua liberdade."
O presidente americano, que desta vez não se referiu diretamente ao mandatário russo, Vladimir Putin, também ressaltou que a Rússia é "responsável por essa guerra" e que está nas mãos do Kremlin acabar com o conflito "imediatamente".
"Apoiamos fortemente a Ucrânia nos seus esforços para alcançar uma resolução diplomática que proporcione paz justa e duradoura. Só a Rússia, só a Rússia, é responsável por esta guerra. Só a Rússia tem o poder de acabar com esta guerra imediatamente”, disse o político de 80 anos. "E é só a Rússia que impede a paz. Porque o preço da paz para a Rússia é a capitulação da Ucrânia, o território da Ucrânia e os filhos da Ucrânia."
Expectativas de resolução
O chefe de Estado democrata fez da mobilização dos aliados dos EUA para apoiar a Ucrânia um componente importante da política externa americana, argumentando que o mundo precisa enviar um sinal claro a Putin.
No entanto ele tem enfrentado críticas de diversos republicanos que querem que os Estados Unidos gastem menos dinheiro num conflito externo. O ex-presidente Donald Trump, principal candidato à indicação republicana na eleição presidencial de 2024, prometeu que buscará um fim rápido para a guerra se for eleito novamente.
O presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, republicano mais influente em Washington, também vem questionando se o país deveria continuar enviando bilhões em armamentos para a Ucrânia.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, baixou as expectativas de qualquer progresso na resolução da guerra na Ucrânia, um conflito em que muitos países africanos e latino-americanos optaram pela neutralidade.
Ciente disso, Biden dedicou boa parte de seu discurso a acenar para os países do Sul Global, expressando seu compromisso com o combate à mudança climática e à insegurança alimentar, com investimentos em infraestrutura e com a regulamentação da inteligência artificial.
Conselho de Segurança: uma pedra no sapato
Sobre a China, sua grande rival, o presidente dos EUA pediu uma "gestão responsável" do relacionamento entre as duas potências e enfatizou a necessidade de cooperar com Pequim em desafios comuns, como a mudança climática.
Ele lembrou as ondas de calor recorde em EUA e China, os incêndios florestais na América do Norte e no sul da Europa, as secas no Chifre da África e as enchentes na Líbia: "Esses eventos estão nos alertando sobre o que está por vir se não reduzirmos urgentemente nossa dependência de combustíveis fósseis e começarmos a proteger nosso mundo."
Joe Biden garantiu que seu país quer "um mundo mais seguro, mais próspero e mais equitativo", enfatizando que "nenhuma nação pode enfrentar os desafios de hoje sozinha".
Por esse motivo, reiterou sua intenção de reformar o Conselho de Segurança da ONU para incluir novos membros e pôr fim ao impasse devido às disputas entre EUA, Rússia e China. A reforma do Conselho é uma demanda de vários países, inclusive o Brasil e a Alemanha. No discurso precedente ao de Biden, o presidente Lula mencionou o tema.
O mandatário americano também pediu ao Conselho de Segurança da ONU que autorize o mais rápido possível a intervenção de uma força multinacional liderada pelo Quênia para acalmar a crise de violência no Haiti, uma iniciativa que o próprio governo haitiano vem pedindo há meses: "Eu peço ao Conselho de Segurança que autorize essa missão agora. O povo do Haiti não pode mais esperar", instou.
Em sua análise da situação internacional, Biden também condenou os lançamentos de mísseis pela Coreia do Norte, comprometeu-se a impedir que o Irã obtenha armas nucleares e defendeu a solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino.
jps/av (EFE, AFP, Reuters)