Em seu depoimento à CPI da Pandemia nesta quinta-feira (27), o diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que as falas do presidente Jair Bolsonaro atrasaram as negociações da CoronaVac, contradizendo o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello.
De acordo com Covas, quando Bolsonaro mandou cancelar qualquer tipo de tratativa do Instituto Butantan com o governo federal, em outubro do ano passado, as negociações para a produção e aquisição da CoronaVac foram paralisadas por três meses, apesar da insistência da instituição. Elas foram concluídas somente em janeiro deste ano.
"O Brasil poderia ter sido o primeiro pais do mundo a iniciar a vacinação, se não fossem esses percalços, tanto de vista de contrato como de regulamentação", relatou o diretor do Butantan.
O diretor disse ainda que declarações de autoridades brasileiras contra os chineses resultaram em dificuldades burocráticas para obter insumos e, por consequência, no cumprimento do calendário de produção e entrega dos imunizantes. “Nós, que estamos na ponta, sentimos isso. Sentimos nós, e a Fiocruz também sentiu essa dificuldade. Então, negar isso não é possível".
“Não precisa dizer que tem problema de relacionamento. Isso é senso comum. Quer dizer, cada declaração que ocorre aqui no Brasil repercute na imprensa da China. As pessoas da China têm grande orgulho da contribuição que o país dá ao mundo neste momento. Então, obviamente isso se reflete nas dificuldades burocráticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias, e hoje demoram mais de mês para serem resolvidas”, explicou.
Na opinião de Dimas Covas, a politização da vacina pelo governo federal atrasou a imunização de milhões de brasileiros e é uma das causas para que o País seja o segundo com mais mortes no mundo em consequência da Covid-19.
Doses anuais de vacina contra Covid-19
Covas afirmou ainda que o Butantan trabalha com a hipótese de ser aplicada uma dose anual de reforço para a imunização contra a Covid-19, e não só no caso da CoronaVac. Mas também em relação aos outros imunizantes que estão sendo aplicados. “As vacinas que nós temos hoje, nesse momento, levariam a uma necessidade anual de vacinação”.
“Aí já é minha percepção como cientista, como médico. Tudo indica que haverá necessidade de doses anuais, que nós chamamos de doses de reforço, como acontece com a vacina da gripe, dado que essa infecção tem a possibilidade de se tornar endêmica, quer dizer, tudo indica que isso vai acontecer. Algumas companhias já estão, inclusive, trabalhando na possibilidade dessa terceira dose, inclusive o Butantan. O Butantan desenvolve já estudos para ter o reforço vacinal, pelo menos uma vez ao ano”, avaliou.
Primeira oferta em julho
O diretor do Butantan abriu seu depoimento à CPI da Pandemia falando sobre as ofertas feitas ao governo Federal para compra da CoronaVac. Segundo ele, a primeira oferta foi feita em julho de 2020: eram 60 milhões de doses que poderiam ser entregues até dezembro.
Dimas Covas afirmou que, em dezembro de 2020, o Instituto Butantan já possuía 5,5 milhões de doses da CoronaVac estocadas e mais 4 milhões em produção. Nessa mesma época, só haviam sido vacinadas 4 milhões de pessoas em todo o mundo.
Dimas Covas: "ButanVac pode ser aliada no combate à Covid-19"